CAMPO DA MORTE: CASO N.º 11: FUZILAMENTOS COM VISÃO CRISTÃ

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VÍTIMAS: Borges Domingos Mateus “Chá Preto”, 25 anos, natural de Luanda; Josimar António Gaspar “Subeto”, 19 anos, natural de Luanda; Tunga (sem mais informações sobre a sua identidade)

DATA: 8 de Março de 2017

LOCAL: bairro da Boa Fé (Caop C), município de Viana

OCORRÊNCIA:

Depois de terem rondado o local em observação visual — tendo sido notados por familiares e vizinhos — quatro agentes à paisana, armados com pistolas, cercaram e detiveram Chá Preto, Tunga e Subeto, em casa deste último.

Subeto tentou fugir, mas foi apanhado num quintal vizinho. A família registou que eram 14h10 quando os agentes transportaram os detidos numa viatura Toyota Land-Cruiser de cor branca e vidros fumados para a Esquadra da Boa Fé.

Os três rapazes eram membros do gangue “Os Mileva”. Segundo familiares e amigos, Chá Preto havia escapado à execução sumária por duas vezes, enquanto Subeto, de acordo com o seu tio Tony (assim quer ser identificado), esteve detido duas vezes por assaltos. “A primeira vez, em 2014, o Josimar passou sete meses na Comarca de Viana, a segunda ficou dois meses. Eles [Mileva] assaltavam os cidadãos que estivessem a passar”, explica o tio.

Depois das 19h00, a família recebeu a notícia de que os três jovens tinham acabado de ser executados junto à Igreja da Visão Cristã, nas proximidades da sua residência.

“Quando lá chegámos, as testemunhas [oculares] informaram-nos de que os jovens foram levados de motorizadas até ao local. Disseram às pessoas para se trancarem dentro de casa e foram mulheres que dispararam”, conta o tio Tony.

“O meu sobrinho Josimar levou oito tiros na cabeça e nas costas. A maior parte foi na cabeça, e estava amarrado. O Tunga apanhou três tiros nas costas e um no pé.

Chá Preto, segundo a família, morreu algemado com oito balas crivadas no corpo, incluindo várias na cabeça.

Durante 15 horas, os corpos ficaram expostos no local. Foram recolhidos no dia seguinte pelo SIC, depois das 11h00.

“O menino mexia [assaltava]. Sinceramente, todos nós temos os nossos erros e defeitos, mas não concordamos com esses fuzilamentos. A polícia fez isso e já não temos como reclamar”, lamenta o tio Tony.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais