CAMPO DA MORTE: CASO N.º 12: O MATADOR TROCA-TIROS

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VÍTIMA: André Cardoso Pinto “Ti 500”, 22 anos

DATA: 7 de Março de 2017

LOCAL: Praça do Justiceiro, Kikolo, município de Cacuaco

OCORRÊNCIA:

Às quatro da madrugada de 25 de Fevereiro, três investigadores do SIC e um agente da Polícia Nacional detiveram André Cardoso Pinto “Ti 500”, que se encontrava em casa de uma irmã. De manhã, a família procurou-o pelas esquadras e encontrou-o na Esquadra da Bananeira. Tinha sido torturado. Ti 500 passou três noites detido.

“A polícia cobrou-nos 30 mil kwanzas para libertá-lo. Não tínhamos, levámos 15 mil kwanzas e eu entreguei pessoalmente o dinheiro nas mãos do investigador do caso, o Pula-Pula. Tivemos de ir à Esquadra do IFA [Comando da III Divisão da Polícia Nacional], no Cazenga, onde o Pula-Pula trabalha”, revela Delfina Teresa, uma das irmãs da vítima.

Segundo relata Delfina, ao pagar, Pula-Pula avisou que o irmão seria morto em breve, ali mesmo, na esquadra. Para além de Delfina, testemunharam esta conversa a mãe, Teresa Adão, a prima Débora e a irmã Eliete.

A partir de então, Ti 500 passou a ser controlado por Léu e Troca–Tiros, pertencentes à Esquadra da Bananeira. Troca-tiros fazia-se sempre acompanhar do agente De Paiva, também conhecido como “Pega”. Segundo Teresa Manuel Adão, “Pega é o bufo que trabalha na Esquadra da Bananeira”.

Delfina esclarece: “A minha irmã Eliete conhece-os muito bem, pois vive ao lado da esquadra.”

Uma semana depois, no fatídico dia 7 de Março, perto das 20h00, Ti 500 saiu da casa da irmã Delfina e dirigiu-se à Praça do Justiceiro, para comprar bolinhos, conforme informação prestada pela família.

“Os vizinhos viram o Troca-Tiros a atingir o meu irmão com um tiro no ombro, do lado esquerdo. Ele [irmão] correu, e o Troca-Tiros acertou-lhe com um tiro na testa e o último na bochecha esquerda”, descreve Delfina.

Uma amiga que acompanhava Ti 500 correu a avisar a família. “Quando chegámos, já lá estava a polícia, à espera do carro para a recolha do corpo”, recorda a irmã.

“Já não fomos ter com o Troca-Tiros nem apresentar queixa, porque a família decidiu que Deus fará justiça pela morte do Adi [Ti 500]”, acredita.

Delfina Teresa descreve o irmão como um jovem “que gostava de lutar, de se envolver em brigas de grupos. Nós, os familiares, não víamos os crimes que ele cometia. Sabíamos das lutas e que ele fumava liamba”.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais