Polícia em Luanda detém mais de 70 camponeses quando pretendiam chegar Procuradoria-Geral
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Um autocarro com 75 camponesas foi supostamente desviado pelo Comando da Polícia Nacional de Luanda, quando o grupo se dirigia à Procuradoria-Geral da República (PGR), para saber sobre o andamento do processo contra o comandante da Polícia do Talatona, sub-comissário Joaquim do Rosário, acusado de violência e usurpação de terrenos no 11 de Novembro, distrito urbano da Cidade Universitária.
Há mais de duas semanas, as camponesas estiveram na PGR com o intuito de saber do processo movido contra à alta patente da corporação, Joaquim Dadinho do Rosário, onde aquele órgão de justiça teria dado garantia de dar uma resposta no prazo de 15 dias, pelo que, passado o tempo, o colectivo de camponesas decidiu, mais uma vez, voltar ao Palácio da Justiça, na Cidade Alta.
Na manhã desta segunda-feira, 4, dois mini-autocarros com mais de 70 camponeses foram mobilizados para ir à PGR, sendo que a primeira viatura partiu às 5h00, tendo chegado ao local às 8h00, aguardando assim pela chegada do segundo autocarro.
Depois de a primeira viatura ter escapado do “controlo” dos agentes da polícia, a segunda viatura devia ser “desviada por orientação superior” retendo os camponeses para que não chegassem à Procuradoria-Geral da República.
O comissário-chefe, Francisco Ribas é tido como protecionista do comandante do Talatona, com o propósito de cuidar dos seus interesses nos negócios de terrenos no município do Talatona, em Luanda, daí segundo a fonte ter dado a ordem para a apreensão da viatura e detenção dos camponeses.
A retenção dos camponeses visa igualmente desencorajar as demais camponesas para sua retirada do local em litígio, bem como resultar em fracasso a visita do grupo de deputados da bancada parlamentar da UNITA, que no quadro da doação de bens, agendaram para esta terça-feira, 5, a entrega de bens de primeira necessidade a aquelas famílias vulneráveis.
Os camponeses, incluindo idosas, passaram a noite supostamente detidos na Esquadra do Bairro Operário. Na unidade policial a corporação exigiu um mandado de captura onde consta o nome de seis pessoas que estão à “caça” das autoridades.
O porta-voz dos camponeses, Daniel Neto, manifestou-se indignado com o acto da Polícia Nacional. “São 75 camponesas que se encontram encarceradas sem as mínimas condições nem para comprar água ou comida”, lamentou Neto, descrevendo que “neste momento o chefe do campo da empresa Konda Marta foi tirado do grupo e levado para o SIC”.
O também Tenente-Coronel das Forças Armadas Angolanas (FAA) apelou ao Presidente da República, João Lourenço, “enquanto Comandante-em-chefe a travar os excessos do subcomissário, Joaquim do Rosário”, que segundo ele “faz e desfaz até morte de pessoa, e ninguém lhe nada”.
Polícia desmente detenção
Num infome, a Polícia Nacional esclarece que 50 cidadãs foram conduzidas a esquadra de polícia para identificação por tentativa de uma manifestação na via pública, defronte a PGR.
De acordo com o piquete da 2ª Esquadra do Bairro Operário, “as cerca de 50 cidadãos supostamente camponesas deslocaram-se defronte a PGR a semelhança do que vem fazendo ao longo do ano, a reclamarem as terras localizadas na zona da cidade universitária no município de Talatona”.
“Hoje transportadas por um autocarro habitual, ao descerem ao local de concentração para manifestarem-se, foram conduzidas a 2ª Esquadra e após identificação e aconselhamento, para cumprirem com a lei de manifestação e reunião, foram libertas”.
De acordo com a nota, o grupo foi libertado com a excepção do cidadão Adelino Magita, detido por ter um mandado de detenção alegadamente por invasão de terras na zona da cidade universitária, local reclamado.
O director-geral da Sociedade Konda Marta lamentou, mais uma vez, a actuação dos órgãos do Estado, que na sua visão “deixam-se instrumentalizar por um indivíduo (Joaquim do Rosário), que usa o nome da instituição do Estado (Comando da Polícia de Talatona), em Luanda, para benefício próprio”.