Polícia angolana abre inquérito à morte de oito pessoas em protestos no dia 5 de Junho
Por VOA
Partidos políticos e organizações da sociedade civil pedem responsabilização dos autores dos assassinatos e indemnização às famílias das vítimas
HUAMBO — Menos de um mês após a morte de oito pessoas durante a manifestação contra o aumento do preço da gasolina, a 5 de Junho, na província angolana do Huambo, a Polícia Nacional (PN) abriu um inquérito para apurar as responsabilidades.
A decisão é fruto da pressão de partidos políticos e de organizações da sociedade civil que exigiram a responsabilização dos agentes da polícia envolvidos e indemnização às famílias das vítimas.
A UNITA, principal partido da oposição, diz que desta vez os infractores não podem sair ilesos e requereu à Assembleia Nacional a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para apurar os factos.
“Queremos solicitar esclarecimentos, temos vídeos com civis armados a atirar à queima-roupa contra cidadãos indefesos”, diz um dos vice-presidentes do grupo parlamentar da UNITA, Olivio Kilumbo.
O secretário provincial do PRS, também na opoição, espera que o processo não seja arquivado, como aconteceu, em meados do ano passado, com o do comandante da polícia da esquadra do São João, José Tabaco, acusado de venda de armas a marginais.
“É tudo falsidade, a não ser que estejam envolvidas pessoas imparciais”, critica Sólia Selende.
Por seu lado, o coordenador da organização não governamental Friends of Angola defende que se investigue porque, caso contrário, afirma Florindo Chivuvute, “fica-se com a ideia de que o Presidente da República e o ministro do Interior deram ordens para uso de armas contra cidadãos”.
O porta-voz dos órgãos de Defesa e Segurança no Huambo, Martinho Kavita, assegurou à Voz da América que o inquérito “está a decorrer e a seu tempo serão apresentados resultados”.
A 5 de Junho, vários mototaxistas saíram às ruas do Huambo para protestar contra o aumento do preço da gasolina de 160 para 300 kwanzas o litro, mas o protesto foi reprimido pela polícia, que alegou violência dos manifestantes.
Cinco pessoas morreram e oito ficaram feridas, tendo três delas falecido no hospital.
A Amnistia Internacional e a Human Rights Watch pediram uma investigação e responsabilização dos autores das mortes.
No dia 17, houve manifestações em várias cidades contra o aumento do preço da gasolina, violência contra zungueiras e a proposta de alteração do estatuto das organizações não governamentais.
Em Luanda e Benguela, houve confrontos e 87 pessoas foram detidas, enquanto em Malanje, Lubango e Huambo não se registaram incidentes.