Marcolino Moco critica CNE e esclarece que não saiu do MPLA

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O ex-primeiro-ministro de Angola Marcolino Moco lamentou a ideia de que apenas quem tem poder é detentor da razão em Angola, apontando para a necessidade de deixar de existir instrumentalização dos tribunais e Assembleia Nacional, órgãos dirigidos por via de orientações superiores. Tal contestação foi feita ao longo da entrevista que o também doutor em Direito Penal concedeu à Radio Angola na sequência da actual situação eleitoral angolana.

Adiantando que não vai se pronunciar sobre os resultados provisórios anunciados pela CNE, por enquanto, Moco disse que a comissão o fez “duma forma um pouco esquisita”.

“Pelo menos para quem costuma ouvir e ver processos noutros países, todos os concorrentes acompanham com transparência o percurso do processo quando há resultados preliminares”, frisou.

A reacção da CNE à tomada de posição dos partidos da oposição que, em bloco, emitiram um comunicado onde denunciam a falta de apuramento dos resultados eleitorais aos níveis provinciais, com excepção de três províncias, e exigem o cumprimento da Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais, na visão de Moco indica logo o favorecimento do referido órgão ao partido MPLA.

“[A CNE] apresenta-se zangada, a dizer que os partidos políticos estão a apresentar questões que não podiam fazer, têm de aceitar os resultados […]. Não podemos ter instituições que estão sempre a favor de um lado. Quando não há transparência, há sempre tensões”, atestou.

Independentemente dos partidos a quem pertencem, Marcolino Moco realçou a necessidade de que o país tem em avançar e que por isso todos os angolanos “têm uma palavra a dizer”.

“Não renunciei a militância no MPLA. Apenas suspendi”

Quanto ao estado degradante do país, Moco apontou os problemas na saúde e educação como reflexos de problemas maiores que se têm baseado na sobreposição dos interesses partidários e materiais aos interesses do país e dos cidadãos.

Como não podia ser diferente, o académico falou sobre a sua recente aparição em actos políticos do partido do qual foi governante. “Não renunciei a militância no MPLA. Apenas suspendi para poder fazer as críticas que tenho feito até hoje”, esclareceu.

Admitiu, porém, que deixou as pessoas confusas quando foi visto no último comício do MPLA durante a fase de campanha eleitoral, isto depois de ter participado num evento também de cariz propagandístico onde o candidato a presidente pelo MPLA João Lourenço reuniu com os escritores afectos ao mesmo partido.

“Mas foi apenas um gesto de boa vontade porque fui convidado para lá estar a pedido suposto do próprio presidente cessante e quem tem boa relação sobretudo com a pessoa que foi indicada como candidato pelo MPLA, e que também demonstrado vontade nessa aproximação, mas continuo a fazer as minhas apelações como um cidadão e não na qualidade de membro de qualquer partido”, disse.