Esposas de activistas angolanos anunciam marcha sem roupas para exigir libertação dos presos

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As esposas de Adolfo Campos, Gilson Moreira da Silva “Tanaice Neutro”, Hermenegildo André  “Gildo das Ruas” e Abraão Pensador, activistas angolanos condenados em setembro, por desobediência e resistência, denunciaram nesta quinta-feira, 23, a falta de apoio e prometeram marchar nuas, em Luanda, em protesto contra a “prisão injusta”.

Em conferência de imprensa realizada na “Biblioteca Despadronizada”, na zona da Robaldina, no distrito da Estalagem, no município de Viana, as senhoras apelaram à intervenção do Presidente angolano, João Lourenço.

Na ocasião, as companheiras dos jovens detidos há mais de dois meses, por terem tentado participar numa manifestação em Luanda, em solidariedade com os mototaxistas, falaram da “negação da justiça” pleo facto de o processo estar parado por alegada “vontade” da juíza da causa que não permite o avanço do recursodos advogados para o Tribunal da Relação.

As mulheres dos quatro activistas tidos como “presos políticos”, lamentaram as condições em que estes se encontram, “sem alimentação e assistência médica”, referindo tratar-se de uma prisão “injusta”.

A activista Yared Bumba, que fez a leitura da nota de imprensa, disse que os activistas foram condenados sem oportunidade de revisão das penas, acrescentando que estes estão detidos em estabelecimentos distantes sem direito a visitas de familiares e outros activistas.

Na visão da Yared Bunda os advogados interpuseram recurso, que foi indeferido pela juíza da causa, dando nota que um novo recurso “está engavetado há quase um mês”.

“Nós, mulheres activistas, junto com os familiares dos nossos irmãos vamos agora dar cinco dias para o Governo angolano se pronunciar, o mais rápido possível, se não quiser ver as mulheres nuas no Largo 1.º de Maio ainda na próxima semana”, adiantou.

Rosa Mendes, esposa de Adolfo Campos, criticou a “condenação injusta” dos ativistas, que lutam pelos direitos humanos em defesa do povo angolano, referindo que os filhos estão privados dos pais, que são os provedores das respetivas famílias.

“Estamos já aqui dispostas a dizer ao senhor Presidente (da República), João Lourenço: você é pai, tem filhas com os seus maridos, mas eu não, durmo e acordo sozinha porque o meu marido está a dormir no chão, com bandidos altamente perigosos”, lamentou.

Prometeu ainda que o grupo das mulheres dos ativistas vai processar a juíza que indeferiu e “engavetou” o recurso e querem protestar defronte aos ministérios do Interior e da Justiça e Direitos Humanos em prol da libertação dos ativistas.

“De seguida, nós iremos com as nossas famílias a estes ministérios e, logo a seguir, nós iremos nuas, porque é isso que vocês querem”, atirou.

Grávida, a esposa de “Tanaice Neutro” também deu o seu rosto e voz na conferência de imprensa, reiterando que os ativistas “foram presos injustamente pelo Governo angolano” e prometeu lutar nas ruas pela sua libertação.

“Não conseguimos visitar os nossos maridos porque o Governo angolano pensa que é dono do país. Viemos aqui denunciar tudo quanto está a passar-se com os nossos maridos e não importa se vamos morrer, mas nós vamos sair para pedir que soltem os nossos esposos porque nós estamos cansadas com este Governo”, afirmou Teresa Cawanga.

Teresa exibiu também, na ocasião, fotos sobre o estado de saúde de Tanaice Neutro, referindo que este está impedido de fazer uma cirurgia de que necessita por estar privado da sua liberdade.

Um recado ao Presidente angolano, João Lourenço, foi ainda deixado por Lemba Paulo, esposa do ativista Abraão Pensador, pedindo que o chefe de Estado se pronuncie dentro de cinco dias, reiterando que se isso não acontecer vão sair à rua nuas em protesto.

“Presidente da República, um recado para si, tens cinco dias para te pronunciares, caso não o faças garanto-te que vais ver aquilo que não querias ver, não vamos derrubar nenhum património público, mas garanto que o nosso corpo nu o senhor (Presidente da República) verá”, assegurou.

A conferência de imprensa decorreu na conhecida “Biblioteca Despadronizada”, no município de Viana, em Luanda, espaço de leitura improvisado debaixo de uma passagem pedonal sob responsabilidade de activistas.

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Rádio Angola/Lusa

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