CADEIA DE VIANA CONTABILIZA MAIS DE 160 DOENTES COM TUBERCULOSE

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Director nacional interino de Saúde do Serviço Penitenciário disse que a situação é preocupante, porque o número de doentes pode ser dez vezes maior que os casos registados nas comunidades circunvizinhas. Já houve vítimas mortais entre os reclusos

Mais de 160 reclusos que se encontram na Cadeia de Viana, na província de Luanda, padecem de tuberculose, revelou, ontem, ao Jornal de Angola, o director nacional interino de Saúde do Serviço Penitenciário. Manuel Freire dos Santos, que disse não dispor de dados da situação nacional, avançou que os reclusos vítimas da doença em Luanda já se encontram a cumprir a primeira e segunda fases de tratamento da tuberculose.

O responsável lamentou que alguns presos que sofrem da doença acabam por morrer, em função do défice de alimentação saudável, que deve ser baseada em conteúdos proteico-calóricos, que preencham as necessidades da população prisional do país.

Neste momento, embora os doentes estejam em tratamento, Manuel Freire dos Santos defende a melhoria dos aspectos fundamentais para o combate à doença, com destaque para o reforço dos medicamentos e da alimentação saudável.

Manuel Freire dos Santos lamentou o facto de o “stock” de medicamentos específicos para o tratamento da tuberculose estarem no limite, com o risco de alguma rotura nos próximos dias. Por isso, apelou ao Ministério da Saúde no sentido de prevenir essa situação.

O director nacional interino de Saúde do Serviço Penitenciário disse que a instituição precisa de um maior apoio técnico, para que os médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde colocados nas cadeias do país possam prevenir, controlar e tratar com alguma eficácia as centenas de casos que se registam nas 42 unidades prisionais do país.

Manuel Freire dos Santos avançou que os poucos técnicos de saúde têm estado a envidar esforços para combater a doença nas cadeias, mas a superlotação e o estado de encarceramento facilita a expansão da tuberculose entre os reclusos, daí os muitos casos de recaídas.

O alto funcionário do órgão operativo do Ministério do Interior disse que esse risco de alto contágio não poupa também os técnicos da área da saúde, que se encontram na lista dos principais expostos à infecção por este tipo de doença, assim como outros funcionários do Serviço Penitenciário.

Em função dos males que a doença tem causado a nível das cadeias do país, Manuel Freire dos Santos apelou para que se encare a questão da saúde com muita seriedade, ao defender que “os reclusos estão privados do direito a certas liberdades, mas não lhes são retirados direitos como a assistência médica e medicamentosa”.

Ao falar durante a abertura de uma formação para médicos e enfermeiros das cadeias sobre gestão da tuberculose e VIH e Sida nas prisões, que encerra amanhã, Manuel Freire dos Santos considerou a situação preocupante, porque o número de doentes nesses estabelecimentos pode ser dez vezes maior que os casos registados nas comunidades circunvizinhas.

Dada a concentração de presos nas cadeias nacionais, resultante da dificuldade de compartimentação e superlotação, Manuel Freire dos Santos considerou que há uma grande possibilidade de transmissão rápida da tuberculose.

“Os presos passam a maior parte do tempo fechados, sem inserção em trabalhos úteis, como a pequena agricultura, o que propicia que um doente possa contagiar outros companheiros”, lamentou o director interino de Saúde do Serviço Penitenciário.

Esse cenário pode ter os dias contados, disse Manuel Freire dos Santos, para avançar que as autoridades têm já gizadas estratégias para que os centros prisionais disponham de condições de ocupação dos reclusos, através da prática da agricultura, que contribuiria na sua dieta alimentar e no aprendizado de artes e ofícios, que já acontece nalgumas unidades.

Expansão da doença crónica transmissível deve ser travada

Maria Luísa, técnica de apoio do Programa Nacional de Controlo da Tuberculose, apelou às autoridades angolanas para reforçarem as intervenções na luta contra a doença, no sentido de atingir a meta de pôr fim à enfermidade até 2035, conforme orienta a OMS.

Um dos grandes desafios que o país tem, segundo Maria Luísa, tem a ver com a implementação do programa de controlo da tuberculose em todas as unidades penitenciárias do país, para se travar a expansão da doença, melhorar o controlo e o tratamento. Neste âmbito, o Ministério da Saúde, através do Programa de Controlo da Tuberculose e do Instituto Nacional de Luta contra a Sida, está a realizar um curso de capacitação em gestão de casos das duas enfermidades nas cadeias, uma actividade financiada pelo Fundo Global.

Maria Luísa disse acreditar que a formação dos pontos focais, o terceiro curso que se realiza desde o ano findo, é um passo fundamental para que se alcance uma luta mais eficaz no combate à tuberculose e ao VIH e Sida, assim como da co-infecção TB/Sida entre os reclusos das 42 cadeias do país.

Uma das propostas do encontro de médicos e enfermeiros, explicou a especialista, é que se faça o controlo da baciloscopia em sintomático respiratório que esteja nas cadeias ou com probabilidades para ingressar nelas e, nos casos detectados nas prisões, que se faça controlo dos contactos familiares mais próximos. Até amanhã, os médicos e enfermeiros vão discutir a situação da tuberculose no mundo e em Angola, diagnóstico, tratamento e resultados, rastreio e profilaxia da doença, gestão dos efeitos secundários e sequelas da enfermidade.

Quanto ao VIH e Sida, os técnicos provenientes da área de saúde dos serviços penitenciários de todas as províncias do país vão abordar questões ligadas à situação epidemiológica da infecção do VIH em Angola e no mundo, testes, aconselhamento, fisiopatologia, acompanhamento do paciente, entre outros assuntos.

Fonte: Jornal de Angola

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