ARLINDO MACEDO, AMÉLIA POMBO, ZITO KALHAS E OUTROS TALENTOS…
Não eram DOUTORES …os nossos ícones e faziam jornalismo com muita mestria. Não fosse a integridade que transmitia a sua personalidade, à Arlindo Macedo juntaria outros tantos nomes.
Naturalmente que minha visão é inquinada dum vício qualquer, não é absoluta de isenção. É apenas a visão dum provinciano emigrado para “a grande Luanda” nos finais da década de 90. À época, Luanda era também “recinto” dos refugiados que procuravam acoitar-se das “guerras”, multiformemente sentidas e reflectidas nas capitais de províncias e nos seus arredores.
Na verdade, a geração do Macedo era muito exigente. Para quem quisesse entrar para o jornalismo, precisava estar dotado de conhecimentos e ter paciência de aprender. Duas chaves de ouro: cultura geral e um certo dom.
Apresentar-se a um teste, precisamos ter lido muitos livros. Uma vez apurados vinha logo o aprendizado. E aqui recordo-me do primeiro dia de cabine de emissão na emissora provincial do Huambo. Um velhote chamado Carlos Pereira … de audição apurada, detetora do mais insignificante sibilo respiratório na emissão que seguia no carro e onde quer que fosse.
Quantas vezes não vi o Macedo rasgar os textos, mandando-os repetir!? Raros eram “os recrutas” que não se irritavam com o gesto! Mas quem paciente semeou grato está. É claro que a legião dos preguiçosos e inaptos crescia na mesma proporção da ira de quem não era suficientemente indulgente de reconhecer as debilidades que detinha
Foi no momento em que a direção política do país cedeu às intrigas dos incompetentes que iniciou a descaraterização de muitas das profissões. E o jornalismo em Angola não escapou.
O jornalismo era feito com arte e paixão. Havia uma supraestrutura de reflexos positivos para as bases (províncias)! Ao tempo que a voz do mestre era “uma voz de ouro” para ser escutada!
Não lhes conheci todos os defeitos. Seria impossível! Independentemente do posicionamento circunstancial ditado pela barricada do conflito que vivíamos, devo-lhes reconhecimento por terem inspirado muitos dos talentos do jornalismo angolano, conferindo segurança e aquele usufruto do bom serviço público à sociedade. Eles próprios, ou seja aqueles destacados profissionais nem sequer têm consciência do valor do contributo prestado, elevando conhecimento e cultura.
Pena é que o pessoalizado-Estado os ignore fingindo não reconhecê-los quão filho bastardo, atolado no saque do erário público.
Já era assim no auge da carreira profissional, como deveria remunerar um mercado aos seus talentos, seja em que área do conhecimento fosse!
Bob Wood, autor do “Watergate” é dos mais conhecidos nomes do jornalismo e ainda hoje o mercado remunera-lhe pelo prestígio que granjeou publicando obras best seller ou conferenciando inclusivamente no Departamento de Estado norte-americano.
Tal somente é possível porque o jornalismo tem um lugar fundamental nas democracias e ninguém resolveu pegar numa carabina e disparar um tiro sobre o seu dedo sequer, ou sobre a sua cabeça, como aconteceu a Ricardo de Melo.
A democracia, como escreve o filósofo Norberto Bobbio é o regime do “governo Público em Público” e a nenhum governo lato sensu deverá ser permitido tratar dos assuntos no sigilo e na obscuridade!