Advogada que doou voluntariamente “milhões” à IURD exige em tribunal devolução dos bens por não receber “bênçãos”
O julgamento do “caso IURD” continua na 4ª Secção dos Crimes Comuns do Tribunal Provincial de Luanda (TPL), com a audição dos declarantes, após a conclusão do interrogatório aos réus arrolados no processo, acusados de crimes de associação de malfeitores e branqueamento de capitais.
Rádio Angola
Na sessão de quarta-feira, 14, o juiz da causa ouviu a cidadã Cremilda Domingos, de 53 anos, que alega ser advogada de profissão e fiel da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola. Na audiência, Cremilda Domingos afirmou que doou à IURD 129 milhões de kwanzas e uma viatura de marca “Prado”, pois acreditava que haveria de receber o dobro de tudo o que entregou.
Em tribunal, a suposta crente da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola, disse que, como tal facto não aconteceu, então pede a restituição de tudo quanto ofereceu à organização.
Cremilda Domingos sustentou ser membro da IURD há 20 anos e assumiu que não foi forçada a dar os bens, mas admitiu que teria sido induzida pelos pastores durante as pregações de que Deus haveria de dar em dobro quem mais doasse à igreja.
Questionada de que forma foi induzida, a advogada respondeu que ela fazia parte de um grupo de fiéis da igreja denominado “os príncipes”, de que faziam parte também ministros, deputados, generais, advogados e juízes, e que nesse grupo especial os fieis tinham uma meta dos milhões a entregar na famosa “fogueira santa”.
Indagada se as pessoas eram obrigadas a entregar esses valores à igreja, respondeu que não e que tudo era feito com base na fé.
Perguntada porquê que é que, sendo advogada, acreditou nestas crenças, respondeu que estava na igreja como uma simples fiel e não como jurista e como tal tinha simplesmente fé.
O juiz Tutti António perguntou se soube alguma vez de alguém na igreja que viu os seus bens doados multiplicar-se, respondeu que não acompanha “a vida pessoal dos irmãos na fé e que apenas ouvia dos pastores que existem irmãos que mudaram de vida”.
Os juízes questionaram se entregou os milhões e a viatura com a convicção de que os entregava a Deus, aos pastores ou à igreja, respondeu que tudo o que fazia era em nome de Deus.
Cremilda Domingos disse que fez a entrega dos milhões de kwanzas aos pastores e obreiros da igreja na convicção de que tudo se iria multiplicar.
Questionada por que deu dinheiro na expectativa de receber a dobrar, sendo uma pessoa esclarecida, a mulher respondeu que fê-lo segundo os ensinamentos dos pastores.
“Éramos ensinados pelos pastores de que quanto mais dermos à igreja, maiores serão as bênçãos de Deus”, disse a advogada.
Perguntada por que é que quer de volta os seus bens doados à igreja em 2016, Cremilda Domingos disse ser pelo facto de não estarem a multiplicar-se.
O Juiz Tutti António questionou por que razão a advogada procurou IURD, ao que a mulher respondeu que foi em busca de paz.
Perguntada a quem entregou a viatura, a advogada disse ter entregado à igreja e assumiu que o fez com base na fé de que Deus iria multiplicar essas doações.
A advogada assumiu que ainda faz parte da IURD em Angola pese embora os templos continuem fechados devido ao conflito, e afirmou ao tribunal que conhece pessoas que de facto beneficiarem dos milagres da igreja.
Cremilda Domingos é a única declarante no processo n.º 1169, cujo móbil é o crime de burla por defraudação que está em julgamento na 4.ª secção do Tribunal Provincial de Luanda que também julga simultaneamente o processo n.º 1168 que contempla os crimes de associação criminosa, branqueamento de capitais e violência doméstica.