UMA FAMÍLIA DO PANGUILA SOFRE TRÊS HORAS DE TERROR
Madrugada de terça-feira, uma hora da manhã. Numa das residências do Panguila, na província do Bengo, sete indivíduos armados saltam o muro do quintal. Destroem o gradeamento que dá acesso à marquise e partem os vidros das janelas.
Com pontapés e fortes pancadas com as coronhas das armas de fogo, os bandidos tentam arrombar a porta de madeira da casa da senhora Maria do Carmo (nome fictício). Também usam facas enormes e afiadas para destruir a fechadura. Produzem muito baralho. Falam em viva voz. No interior da moradia, o pânico instala-se no seio da família. O casal Do Carmo, filhos e sobrinhos acordam assustados. Demora alguns segundos para perceberem o que se passa. Não sabem o que fazer.
“Quem são vocês? O que pretendem de nós?”, pergunta a filha mais velha, Célia do Carmo (nome fictício). Os assaltantes respondem com dois tiros no ar que ajudam a despertar a vizinhança. Alguns tentam sair de casa para ajudar. É impossível.
A rua está cercada. Há mais três elementos armados que vigiam a rua de ponta a ponta. Os vizinhos ligam à Polícia. Está difícil o contacto com as forças da ordem. “Abram a porta ou morrem todos aí dentro”, ordenam os assaltantes.
Célia do Carmo está cheia de medo. Tem os braços e pernas trémulas. Abre a porta. Não tem outra alternativa. Os meliantes agradecem-na com uma bofetada no rosto e puxam-na para fora. O tio Domingos Francisco (nome fictício) leva um safanão. O pai e a mãe, quatro irmãos (duas meninas e dois rapazes) e as duas primas, mais o tio, saem dos quartos apenas de calções, vestido de noite, blusas e cuecas.
“Na hora que os bandidos chegaram, uma da madrugada, não havia energia no Panguila. Estávamos todos a dormir. Eram sete indivíduos que batiam à porta e às janelas com muita força”, contou Célia do Carmo. “Ficámos todos cheios de medo. Não sabíamos o que fazer”, afirmou.
No assalto, os bandidos não usam máscaras. Estão arrogantes. Ameaçam as vítimas. Chamam o tio, a filha mais velha do casal e a irmã através dos seus respectivos nomes e alcunhas. Contam vários episódios para demonstrar que os conhecem bem.
“Alguém nos mandou aqui para vos matar. Quem é a dona de casa?”, questiona o chefe do grupo. Assustados com a pergunta feita pelos assaltantes, os mais velhos mantêm-se em silêncio. Os mais novos começam a soluçar. Escorrem lágrimas dos seus olhos.
Célia do Carmo dá exemplo de coragem. Analisa a pergunta e conclui que os meliantes não conhecem a mãe. “Ela não está em casa, foi dormir num óbito”, respondeu.
Maria do Carmo está perplexa a ouvir a filha responder sem pestanejar. O pai é hipertenso e tem uma recaída. Chora em silêncio. Perde a esperança de vida. Tem a camisola molhada com as lágrimas que lhe caem intensamente dos olhos. Aflita, Célia olha para o pai e pede permissão para medir a pressão arterial do seu progenitor. A maioria dos assaltantes finge não ouvir o que ela diz. Dois deles solidarizam-se com a jovem e convencem o grupo a deixá-la prestar a devida assistência ao senhor João do Carmo (nome fictício). A Polícia nunca mais aparece. Os vizinhos não param de ligar. Enquanto isso, no interior da residência assaltada, a família Do Carmo sofre mais algumas horas de terror. Todos eles, com excepção de João do Carmo, apanham muita porrada.
“Bateram-nos muito naquela madrugada. Eles entraram em nossa casa a uma hora da madrugada e só saíram depois das três”, lembrou Célia do Carmo
“Eles queriam mesmo nos matar. Mas eu depois pensei que era possível negociar. Pedi-lhes que levassem o dinheiro e alguns bens que tínhamos em casa”, disse, para acrescentar que, além do dinheiro, os bandidos levaram alguns móveis, toda a roupa, telemóveis, tabletes, calçados, brincos e fios de ouro.
Visivelmente amargurada com a ocorrência, Célia do Carmo informou ao Jornal de Angola que as roupas que usava no momento da entrevista eram de uma vizinha/amiga. “Eu fiquei apenas com a roupa que tinha no corpo. Nos deixaram mesmo sem nada”, lamentou.
A Polícia chegou tarde ao local. No comando local, cada um dos membros da família Carmo foi ouvido na manhã de terça-feira. “Apresentaram-nos quatro indivíduos capturados naquela madrugada. Mas não reconhecemos nenhum deles”, concluiu a vítima.
Fonte: Jornal de Angola