SEGURANÇA DA SOCIEDADE MINEIRA DO CUANGO DISPARA CONTRA GARIMPEIRO
Trabalhador da empresa de segurança privada Kariapemba, ao serviço da Sociedade Mineira do Cuango (SMC), disparou sobre um cidadão que se dedicava ao garimpo. Kito, como era conhecido o garimpeiro, de 29 anos de idade, foi atingido com dois tiros em ambas pernas. O facto ocorreu em Cafunfo.
Texto de Jordan Muacabinza
Quando era 12H de sábado, dia 28, o jovem garimpeiro Kito deslocou-se à zona onde deveria trabalhar à procura de diamante, acesso conseguido mediante o pagamento de 100 mil Kwanzas aos seguranças da Kariapemba, pois só assim se pode operar na zona controlada pela empresa Sociedade Mineira do Cuango, pertencente a generais angolanos que não respeitam os direitos humanos e amplamente denunciados pelo jornalista e activista Rafael Marques de Morais no livro «Diamantes de Sangue».
Kito não é o único a pagar por algumas horas a tentar encontrar a pedra preciosa, sendo que o preço pela entrada varia entre os 100 mil aos 500 mil Kwanzas. E a juventude, sobretudo, vê-se obrigada a pagar por não ter emprego e assim exercer o garimpo artesanal. O pagamento serve para uma semana de trabalho.
Porém, mesmo tendo feito o pagamento, Kito foi impedido de entrar na zona de exploração pelos seguranças. Não precisou argumentar tanto e logo ouviu o som duma arma a ser manipulada. Entre a manipulação e o disparo não passou um minuto, sendo atingido intencionalmente por uma bala em cada perna. Quem conta à Rádio Angola o que aconteceu são os colegas de Kito, que se encontra internado no hospital regional do Cafunfo-Cuango.
Agentes da Polícia Nacional local foram à empresa para deter o segurança que procedeu aos disparos, mas esbarraram com a arregimentada protecção da SMC que negou entregar o seu trabalhador.
Dentre os colegas há quem relembre o lema do presidente João Lourenço – Corrigir o que está mal e melhorar o que está bem – para frisar que “o povo das Lundas também são filhos e cidadãos deste país”, e por isso exigem que o chefe do Executivo coloque fim às mortes e torturas praticadas pelas empresas de generais, tendo Manuel Hélder Vieira Dias Júnior “Kopelipa” à testa do grupo.
Citando a Constituição da República de Angola, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, os garimpeiros questionam: “presidente João Lourenço porquê estamos a ser assassinados pela segurança privada dos generais? Se quiserem, transfiram o rio Cuango e as terras de diamantes para a cidade alta. Deixem-nos em paz”.
É pedida a presença do presidente na localidade para constatar o grau de subdesenvolvimento da população, quando o ex-presidente durante 38 anos de reinado não visitou vez alguma. Assim, mediante contacto directo, será informado sobre as violações sistemáticas aos direitos humanos.
Essas práticas macabras que a Sociedade Mineira do Cuango, pela sua segurança, tem promovido faz com que a comunidade internacional, como recentemente fez o Departamento de Estado norte-americano, no seu relatório de Direitos Humanos 2017, acusarem Angola de ter formas de punições cruéis em que abundam casos de tortura e espancamento que terminam em morte. Ver relatório aqui.