POLÍCIA COMPENSA FAMILIARES DA VITIMA COM SACO DE FUBA E CAIXA DE ERVILHA
Dois cidadãos foram baleados por um suposto instrutor da Polícia de Guarda Fronteira, tendo uma das vitimas sucumbido momentos depois, no Hospital Regional do Cuango, quando participavam de um treino militar, com à finalidade de ingresso às fileiras da Polícia de Guarda Fronteira (PGF).
Texto de Jordan Muacabinza
Segundo apurou a Rádio Angola, o incidente ocorreu em Março último, na comuna de Camaxilo, município de Caungula, província da Lunda-Norte, tendo resultado na morte de um jovem que em vida respondia pelo nome de Fernando Carlos, 25 anos, e outro ficou gravemente ferido em consequência dos disparos, tal como contou em exclusivo à RA, Ufulielo Kalunda, o sobrevivente.
Depois da morte de Fernando Carlos, descreveu a vitima, os familiares deslocaram-se ao Hospital Regional de Cafunfo onde as autoridades policiais apoiaram com a urna, um saco de fuba de milho e um de ervilha, isto depois de ter sido negado à assistência no hospital de Cafunfo.
Ufulielo Kalunda, jovem que sobreviveu dos disparos, contou que, devido à falta de emprego deslocou-se de Cafunfo para a comuna de Camaxilo, município de Caungula, com objectivo de procurar emprego tendo percorrido mais de 170 km para atingir a sede de municipal de Caungula. Em companhia do seu amigo, ao chegarem a sede do município, receberam informações de alguns familiares que se encontravam no bairro Thengo, dando conta de que havia enquadramento de jovens para o ramo da Polícia da Guarda Fronteira (PGF), facto que os motivou a percorrerem mais 45 km a pé para atingir a sub Unidade Kaikumbwe da Polícia de Guarda Fronteira localizada no bairro Maninga comuna de Camaxilo.
No local, conta ainda a vitima, entregaram os documentos exigidos para a inscrição e dois meses depois, foram admitidos mas que era “obrigatório” passarem pelo treino militar, sóo assim que deviam ser enquadrados definitivamente na corporação.
Ao que a Rádio Angola apurou no local o treino era dada pelo instrutor Rufino Filipe Satxongo e ao longo da instrução apareciam sempre dois soldados na parada, sendo um do rádio de comunicação e outro identificado apenas por Lopes (homem do armamento), que a dado momento criticavam o instrutor por este alegadamente não estar a fazer disparos durante às instruções de treinos. “Como constava na agenda dos dois efectivos de fazerem o que desejaria, resolveram em sair do local, foram até às suas casernas onde pegaram em duas pistolas de marca Macarofo”, disse Ufulielo Kalunda.
O momento que se seguiu foi a de o comandante da sub-unidade, identificado por Fernando, dar orientações ao Rufino Filipe e enquanto instrutor recebia a chamada do seu superior hierárquico, este terá orientado o senhor Agostinho, igualmente da UGF para dar a continuidade da instrução, tendo em seguida levando a “voz de comando, dizendo o lento morre, o lento morre”.
“Mandou deitar toda tropa de barriga ao chão num total de 70 efectivos, em seguida começou a disparar, e a bala atingiu pela barriga do Carlos Fernando e tendo saído pelas costas, a mesma bala atingiu nos músculos da minha perna direita”, disse.
Ufulielo Kalunda relata ainda que depois de ser atingido foi evacuado até ao Posto de Saúde da Comunal de Camaxilo onde recebeu assistência médica e visitas do administrador comunal, comandante municipal da Policia Nacional e de um elemento do Serviço de Investigação Criminal (SIC) do município de Caungula.
A vitima avançou que durante as horas que permaneceu naquela unidade sanitária, outra equipa terá evacuado o seu amigo e colega até ao hospital do município, mas dada à gravidade dos ferimentos, os médicos resolveram a sua transferência ao hospital Regional de Cafunfo onde Carlos Fernando acabaria por morrer.
À Rádio Angola, Ufulielo Kalunda revelou que, depois do sucedido, as autoridades policiais de Caungula, queriam ocultar o caso, fazendo passar como que nada tivesse acontecido, “mas graças o secretário do partido do PRS que me visitou e com a pressão que fez, puderam dar a guia de transferência”. Disse.
No dia 12 Março o paciente, os familiares e o pai do falecido, dirigiram-se à Procuradora-Geral da República (PGR), para apresentar a queixa-crime, mas posto no Cuango, o procurador identificado apenas por Cândido afirmou que o autor do crime já estava detido e que o caso já se encontrava na esfera da justiça.