“Para além de ter sido espancado por polícias e militares, também fui vítima de abusos por ser albino”, diz secretário do BD no Kuanza-Sul

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O Secretário Provincial do Bloco Democrático (BD) no Kuanza-Sul, António Correia denuncia que sofreu agressões físicas e verbais, por agentes da polícia, militares e bombeiros, que estão em serviço na vila da Gabela, município do Amboim, no âmbito do Estado de Emergência que vigora no país, devido à pandemia da COVID-19.

Fonte: OI

Tudo aconteceu ao fim da tarde da passada quarta-feira, 29 de Abril, quando as forças conjuntas destacadas na operação ao Estado de Emergência, colocaram-se nas principais ruas da Vila da Gabela com o propósito de impedir a circulação da população.

Em comunicado, o BD denuncia que, os agentes envolvidos nesta operação “impediam qualquer cidadão, não importando se usa a máscara protectora, ou qual seja o destino dos transeuntes, corre com eles e bate sem dó em crianças, jovens, adultos e até os dementes”.

Num desses momentos de violência policial, explica a nota, o também professor, o secretário provincial, António Correia, que também é professor, apercebendo-se do pânico gerado, dirigiu-se à varanda do apartamento onde se encontrava, para ver o que se passava, tendo sido surpreendido por dois agentes da polícia, dois bombeiros e um militar das Forças Armadas Angolanas (FAA), que teriam subido até ao 2° andar e “invadiram o domicílio”, alegando que o cidadão em referência estaria a captar imagens do “sururu” que assistia.

Em entrevista ao Observatório da Imprensa (OI) via telefónica, o político do Bloco Democrático, que condena a acção dos homens da ordem, disse que, para além de ter sido “fortemente espancado” por polícias e militares com porretes e mangueiras, deixando com várias escoriações em quase todo o corpo, sofreu também “descriminação racial” quando perguntava as razões da “invasão da residência em que se encontrava”.

“Os agentes responderam: vais saber as razões quando estiveres de baixo do prédio. E tão logo cheguei de baixo do prédio começaram a me agredir com porretes e frases pesadas do tipo, albino de merda, pensas que és superior a nós por teres a cor diferente?”, contou ao OI, para quem a “dado momento já não compreendia se batiam-me por captação de imagens que alegavam ou haviam outras motivações”.

“Para além de ter sido espancado por polícias e militares, também fui vítima de abusos raciais por ser albino”, disse.

Depois disso, contou António Correia, foi posto num carro patrulheiro da polícia, onde 15 minutos depois recebeu ordem de descer e voltar a casa, após terem verificado não existirem as alegadas imagens no seu telemóvel.

O político do Bloco Democrático lamenta que o acto “agressivo” dos polícias e militares tenha sido cometido sob os olhares “silenciosos e atentos” do administrador-adjunto da Gabela, João Armando Bordal da Silva, do Chefe do Serviço de Investigação Criminal (SIC) naquela circunscrição, identificado apenas por “Joãozinho” e do Chefe das Operações da Polícia Nacional, Tony Ana.

António Correia quer acreditar que não foi por motivações políticas, dado o nível de “intolerância política” que ainda são reinante na província do Kuanza-Sul, onde segundo o Secretário Provincial do Bloco Democrático, “militantes e dirigentes da oposição são sempre tratados com muita indiferença por parte das autoridades, quer policiais, quer das administrações municipais”.

No comunicado enviado ao OI, o Bloco Democrático “repudia veementemente a violência de que foi vítima o seu dirigente provincial”. Segundo o BD, este comportamento atentatório das regras de conduta num Estado democrático e de direito, salvaguardando e protegendo quem pensa diferente e professe uma linha ideológica partidária, configura um acto claro de abuso de poder e intimidação de dirigentes políticos, encapotada numa suposta tentativa de evitar a transmissão comunitária da COVID-19.

“O estatuto de um dirigente político permite estar atento às acções das entidades públicas sobre os cidadãos, o que pode requerer a recolha de dados escritos ou fotográficos”, lê-se no documento, acrescentando que “ainda que o político do Bloco Democrático (BD) estivesse a captar imagens, não se justifica a brutalidade contra si investida pelas forças de defesa e segurança, cuja desproporcionalidade na reacção denuncia que estavam a incorrer em práticas indecorosas e atentatórias ao Estado de Emergência”.

O Bloco Democrático-BD, “alerta” os cidadãos angolanos e toda a sociedade residente, a ficarem atentas ao que considera tentativas de regresso às práticas antidemocráticas, intimidatórias e persecutórias, que visam inibir a intervenção pública dos actores não alinhados com o regime vigente e com influência no espaço social, tal é o nervosismo face ao fracasso das suas opções socioeconómicos.

Com vista à reparação de dados sofridos pelo seu dirigente e exigir a responsabilização dos presumíveis agressores, a direcção do BD assegura que vai remeterá nos próximos dias, uma queixa crime às autoridades de direito, para que “os autores morais e materiais das agressões” de António Correia “não fiquem impunes”.

O Observatório da Imprensa (OI) contactou o Comando-Geral da Polícia Nacional, mas a fonte nos remeteu à Comissão Interministerial de Prevenção e Combate à COVID-19, cujo seu porta-voz não aborda questões do género de forma isolada na imprensa, apenas em colectiva, que acontecem no Centro de Imprensa Aníbal de Melo (CIAM).

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