O DIAMANTE É DELES E A MISÉRIA É DO POVO

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Elias Muhongo

Angola é um dos países de África que faz parte dos países mais ricos em termos de recursos minerais ou naturais do mundo. Enquanto os pobres da classe baixa lutam para sobreviver e se alimentar, a classe média se alimenta da própria ignorância. E a classe dominante ou alta se alimenta de todos nós.

Angola está a ser destruída tal como destruíram o Iraque. Só que as bombas vêm dos Poderes Judiciário e Legislativo. A logística de guerra vem do Executivo usurpador. O país está a ser explorado pelas suas próprias instituições. A auto-aniquilação emerge de suas entranhas. A narrativa mentirosa vem da grande imprensa angolana. O comando impessoal vem do capital estrangeiro. Os destroços são económicos. As ruínas sociais. E os restos humanos. Angola está em escombros. Com a truculência à solta. O fascismo reaparece. A miséria cresce. E o país é eternamente interrompido. Violentado. Saqueado. Confinado nesse conflito secular que aqui se trava entre dominantes e dominados. Nessa terra condenada a recomeçar sempre de novo com o “CORRIGIR O QUE ESTÁ MAL E MELHORAR O QUE ESTÁ BEM” sempre de um lugar ainda mais atrás do que aquele de onde havia recomeçado da última vez.

Vivemos aprisionados e a carregar a mesma pedra. Que se torna cada vez mais pesada. Hoje, estamos a corrigir o que está mal com Relatórios de Segurança Pública. A Polícia Nacional cada dia a deter número elevados, mais de 150 cidadãos por dia em todo o país que têm estado a praticar crimes de natureza diversa, com destaque para os homicídios, ofensa corporal, ameaças e roubos de galinha e pato, ocorridos. Além da segurança nas fronteiras nacionais onde também regista-se mais de 300 cidadãos por semana ou até mesmo meia semana em consequências de ocorrências por imigração ilegal que tem estado a ocorrer nas províncias de Lunda-Norte, Zaire, Cabinda, e Moxico. Se fala apenas da corrupção e dos milhões desviados, mas não são condenados os tais corruptos. Hoje, conseguimos ver a Administração Geral Tributária a informar que está empenhada em prestar serviços de excelência aos cidadãos, mesmo com os processos de condenação de roubos dos próprios funcionários da AGT.

Já conseguimos ver quando o pior da política se junta ao pior do jornalismo. Tudo acontece. Os efectivos do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da Polícia Nacional participaram em colóquio sobre “Rigor na Informação Jornalística”, promovido pela Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCA). Como principal objectivo abordar a problemática do rigor na actividade jornalística, bem como os desafios que representam as redes sociais num universo de complexidades e oportunidades ditadas pela globalização e tecnologias de informação e comunicação. Pois que a polícia também é jornalista para analisar e discutir temas entre os quais “O Rigor da Notícia e a Ética Jornalística”. Embora baralhadamente. Pois que o colóquio deixou a recomendação que os jornalistas façam uma informação rigorosa e objectiva, para evitar as informações que atentem contra a integridade e dignidade das pessoas, e que os mesmos tenham a liberdade de imprensa como um instrumento de liberdade de expressão. Em suma, a Polícia Nacional manda a Polícia da ERCA e aprova a incompetência dos Jornalistas.

Conseguimos ver os ministérios ou instituições a publicar os seus relatórios diários por via das suas páginas oficiais. Agora a pergunta é: Está tudo certo? Num momento em que continuamos a comemorar a queda do desemprego porque a ocupação informal aumentou seriamente, semelhante a interpretar como um fato positivo a diminuição da fome no Mundo, se ela decorresse do aumento do número de mortes dos famintos. É dizer que a morte de desemprego aumenta a prosperidade em Angola. Ora, é difícil acreditar que a taxa de desemprego diminui quando as pessoas vivem de baixo a cima com varias reclamações. Daí que vem a pergunta. Será que são pessoas que desistiram de procurar empregos? Será que é preciso compreender de uma vez por todas na “Economia” que o tal poder de compra que não aumenta necessariamente com a queda da inflação? Se as taxas de juros por exemplo, reais continuam altas, e a renda e o emprego caem em proporção maior do que os índices inflacionários, não há consumo. Logo, não faz sentido se falar em aumento do ”poder de compra”. O que existe de fato é uma recessão gravíssima, uma depressão alimentada por políticas irresponsáveis de austeridade fiscal. O resultado é uma situação de deflação devido à falta de demanda por produtos e serviços que, por sua vez, derruba o emprego, os salários, o consumo e o faturamento das empresas. Assim, a recessão é alimentada e retroalimentada. A economia do país entra numa espiral suicida, com impactos negativos para a arrecadação e as contas públicas. E o remédio do governo? Uma superdosagem letal de cortes orçamentários, que inibe ainda mais a actividade económica e faz o país mergulhar num círculo vicioso, sem nenhuma luz no fim do túnel. E como assim, a Polícia não vai continuar a deter mais de 150 cidadãos por dia?

Tenho visto que caminhamos directamente para um momento em que a ignorância tem ficado feliz em ser ignorante. Não ler, não estudar, não saber mais do que o dito recursos naturais do país. Virou algo a se vangloriar, enquanto mestrado, doutorado e etc., são sinais de “doutrinação”. Assim, penso que o caminho que nós da academia temos que tomar é levantar este véu de ignorância e apresentar de forma mais didáctica o que estudamos tanto para aprender do que ficarmos sempre no “Se você não gosta do texto e não tem interesse em aprender, não siga em diante”. Pois que, o que realmente divide o país é a imensa desigualdade social, que muitos querem manter intocada, sobretudo aqueles que se beneficiam com ela, e alegam que a divisão social é culpa dos movimentos populares ou de sectores do chamado Executivo. O que, de fato, divide o país não é a polarização de ideias mas a polarização material. Um desfecho que culmina na configuração de um dos países mais desiguais, injustos e violentos do mundo. Que é chamado Angola.

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