NÍVEL DE IGNORÂNCIA CRÓNICO DA POLÍCIA

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Nelson Dibango | Activista

Depois de algum tempo de trabalho em casa, sai para uma caminhada. Regra geral, caminho desde a rua da beira, Terra Nova, até ao parque da igreja de São Domingos, passando pela avenida Brasil.

Ao passar pelo Américo Boavida é habitual encontrar um fluxo considerável de pessoas aguardando informações de seus familiares hospitalizados. Existe muita ternura no olhar de cada ser aí e fiquei comovido com a visão de um senhor carregando nas costas a sua esposa engessada.

Continuei a reparar e estranhei, fiquei triste, revoltado com a acção dos agentes da ordem pública que ordenavam aos utentes dos bancos públicos que se retirassem. Sem tempo para entrar no FB, tirei o telefone do bolso, liguei a câmara e cruzei os braços, acompanhando a acção do agente. Reparei que os agentes seguiam ordens de alguém num NISSAN Branco com vidros fumados.

Questionei as pessoas que haviam sido retiradas do local e quando o agente se aproximou, virei-me para ele indagando o porquê daquela acção. A justificação dele foi que as pessoas ai fazem muito lixo.

Enquanto me distraia com outra informação que uma agente trazia, vi meu braço levado às costas, sendo imobilizado, sem que tivesse tempo de resistir com o telefone na mão. Reconheci o Polícia da última manifestação em que estive. Tratava-se do comandante do distrito do Rangel. Não quis me revelar o seu nome. Levou o meu telefone e foi guardá-lo no carro (o tal Nissan de vidros fumados). Alegou que eu estaria a obstruir a autoridade e que iria se informar as instâncias superiores, para ver se mantinham a detenção e me encaminhavam para a esquadra, ou se me liberariam.

Duas horas depois de ter avisado a dama através de uma chamada telefónica cedida por um jovem que presta este serviço aí perto, depois de atender vários telefonemas, o comandante me mandou chamar e pediu-me para me identificar. Confirmou a identificação com outro telefonema, pegou o telefone, apagou o vídeo e devolveu-mo, mas não sem antes tentar justificar a atitude dos agentes sob seu comando e de procurar formas de fazer com que a minha acção insolente fosse passível de punição. Identificou-se como “comandante BAZUCA”, do distrito do Rangel, apertámos as mãos e bazei.

Enquanto durou a espera, o comandante ordenou que as pessoas ficassem na rua de trás. Neste período, saíram do hospital 4 famílias que pareciam ter perdido seus ente queridos. Uma dessas famílias atravessou a estrada, estando uma senhora aos prantos, rebolando com choros. O senhor foi abordado pelo policial e, desesperado, lançou algumas ofensas ao agente. Foi detido por uns minutos até a ordem do comandante.

Um mendigo, aparentemente louco, que parecia viver ai, também foi convidado a abandonar o local. Não deixou de soltar cobras e lagartos aos agentes.

Na curta conversa com o comandante Bazuca, justificou dizendo de forma geral que era para melhorar a imagem de cidade na capital.

O comandante não sabia o que fazer com alguém que pareceu filmar uma acção de sua ordem. Mandou o bagulho para instâncias superiores.

Sem redes sociais, a esta hora estaria bem preso.

Nível de ignorância crónico.

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