Logro político desvia-nos da libertação essencial à realização do Estado de direito, da Democracia e do Desenvolvimento – Luiz Araújo

Angolanas e Angolanos, mais uma vez, um logro político desvia-nos da libertação essencial à realização do estado de direito, da democracia e do desenvolvimento.

“Nos últimos anos, várias ditaduras – tanto de origem interna quanto externa – entraram em colapso ou caíram quando confrontadas por pessoas desafiadoras e mobilizadas. Muitas vezes vistas como firmemente entrincheiradas e inexpugnáveis, algumas dessas ditaduras provaram ser incapazes de suportar o desafio político econômico e social organizado do povo”.

Gene Sharp

Gene Sharp está certo, mas falha por não referir que a tirania só pode ser extinta se o povo – organizado – não for manipulado por agentes ao serviço da agenda de ascensão ao poder de partidos que também visam apropriar-se do Estado. É que libertar não é derrubar uma ditadura para a substituir por outra.

É preciso entender que sem organização autónoma do próprio povo o sucesso da luta contra a ditadura não é possível.

Sendo assim, se nós, angolanas e angolanos não temos organização com abrangência nacional – autónoma – absolutamente nossa, apartidária, obviamente que os sucessos de acções contra a ditadura que enganosamente nos queiram atribuir são o resultado da acção de uma organização política partidária (“emprestada”) que há muito disputa a posse do Estado e que, agindo sem o declarar está a articular o movimento das cidadãs e cidadãos que, desonestamente, faz passar como sendo a mais pura iniciativa e acção realizada exclusivamente por um movimento da sociedade civil.

Portanto, efectivamente a operação Fica em Casa de 31.3.23 em termos de exposição da verdadeira organização protagonista é um logro. É necessário e urgente derrubar a ditadura, mas não vale tudo. Ocultar a verdade sobre a organização que está por traz é uma desonestidade e a semente da desonestidade só pode gerar um fruto amargo, ou seja outra ditadura.

Portanto estamos perante um logro que está a comprometer a libertação porque obviamente prenuncia nova captura do Estado. É assim mesmo se tem a adesão da maioria do povo descontente.

Em consequência desse logro – caso seja bem sucedido – podemos prever que após o fim da ditadura, além da UNITA, dos partidos seus aliados, e dos seus agentes (cooptados) operando como sendo actores da sociedade civil, não haverá activistas e organizações da sociedade civil – de facto independentes – a participar no poder de forma a obrigar à realização de um período de transição democrática – amplamente participativa – da autocracia do MPLA para a realização da República Democrática de Angola.

Definitivamente tenhamos em consideração que a luta entre o MPLA e a UNITA pela posse do estado é uma luta só deles, não é a luta do povo. A posse do Estado, por quem quer que seja não é a meta da sociedade civil livre e independente. Portanto, não se deve confundir essa luta pela posse do estafo com a nossa luta pelo estado de direito, pela democracia e pelo desenvolvimento harmonioso do país.

Quem se servindo da inocência e da credulidade do povo o está a ludibriar, para servir uma das partes dessa luta pela posse do Estado, assuma desde agora a consciência de que a prazo será certamente percebido e tratado pela sociedade angolana como um traidor mesmo se agora é tido e tratado como um herói. Nem é o primeiro caso na história de Angola em que esse tipo de logro permitiu a elevação de alguém à condição de herói, não é? É só uma questão de tempo para que se faça luz e a verdade prevaleça.

A UNITA, seus dirigentes, começando pelo seu Presidente, não conseguirão escapar eternamente ao debate pela sociedade tanto sobre os assuntos aqui expostos como sobre outros aspectos da sua condução política que vêm sendo colocados e sobre que cada vez é mais necessário que a sociedade se debruce.

Desde o Exílio

Luiz Araújo