LABORINHO FAZ «JOGADA DE MESTRE» PARA CALAR CONTESTAÇÃO

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Governação de Cabinda dá volta de 360 graus e nomeia para o Governo duas vozes críticas associadas ao movimento cívico que defende a autodeterminação da província. Fontes do NJ apontam que a nomeação, até esta quinta-feira, 8, mantida em sigilo, poderá retirar algum impacto reivindicativo aos independentistas.

O movimento cívico independentista de Cabinda, responsável por sucessivos actos reivindicativos no enclave, pode ter levado um “duro golpe” por parte do executivo local, na sequência das nomeações efectuadas pelo governador Eugénio Laborinho, que nesta quinta-feira nomeou Jorge Casimiro Congo para o cargo de secretário provincial da Educação e Maria Carlota Ngombe Victor Tati para o cargo de secretária provincial da Saúde, duas áreas “altamente sensíveis” no país.

Jorge Casimiro Congo, docente universitário, natural de Lândana, Cabinda, é um velho e conhecido crítico do poder político angolano, que em 2015 defendeu que os cabindenses deviam deixar de ter a “nacionalidade angolana virtual”.

Numa entrevista à Voz da América nesse mesmo ano (2015), Casimiro Congo assumiu como desejo a independência de Cabinda, embora tivesse admitido que aceitava uma “solução intermédia que fosse boa para ambas as partes e concedesse ao povo de Cabinda uma vida melhor, direitos”.

Na altura, o antigo padre católico disse que estava “preocupado também que Angola nos dê a nacionalidade. Temos uma nacionalidade virtual. Isto aqui é horrível. Não temos direitos nenhuns. Por exemplo, eu vivo em Lândana, perto de um campo de futebol e criámos uma equipa chamada Real Lândana, fomos obrigados a acabar com a equipa, fomos perseguidos só porque criámos uma equipa com o nome Real Lândana! Não temos liberdade”.

Um outro nome que salta à vista dos nomeados é o de Maria Carlota Ngombe Victor Tati, mulher de um outro antigo clérigo católico, Raul Tati, que nas últimas eleições se fez eleger pela lista da UNITA na província mais a Norte de Angola.

O Novo Jornal sabe que a informação da nomeação destas duas figuras foi mantida em sigilo até ao acto de tomada de posse que ocorreu também nesta quinta-feira, 8, no Palácio do Governo da Provincial, onde foram investidos nos cargos pelo governador Eugénio Laborinho.

Raul Tati é, a par de Casimiro Congo, um acérrimo defensor da autodeterminação de Cabinda, o que na sua opinião “não impede um diálogo sobre os modos de se alcançar isso”.

“Sempre defendi que o povo de Cabinda tem o seu direito à autodeterminação e devemos reafirmar em qualquer circunstância que Cabinda tem o seu direito à autodeterminação”, defendeu recentemente o parceiro da recém-nomeada secretária provincial da Saúde.

Activistas traçam quadro precário

A leitura que se levanta é de que estas nomeações podem sinalizar uma mudança de paradigma que pode retirar algum ímpeto crítico ao movimento cívico independentista de Cabinda, muito embora as últimas notícias continuem a apontar para um clima de crispação no enclave.

Activistas ouvidos pela Voz da América disseram esta semana que a província regista actualmente fenómenos sociais que não se conheciam no passado, tais como a presença de mendigos nas ruas. Alexadre Kuanga Nsitu, coordenador da Associação Cívica Cultural dos Direitos Humanos, lamentou o facto de as associações cívicas nunca serem reconhecidas, “só as do MPLA merecem a legalização e o respeito das autoridades”.

“Aqui, em Cabinda, nunca houve pessoas a pedirem esmolas na rua, hoje há ‘cabindas’ nas ruas a pedir dinheiro e comida, a situação agravou-se com a falência das indústrias de petróleo em Cabinda com despedimento de trabalhadores”, denunciou em entrevista à Voz da América Alexadre Nsitu.

Um outro activista, o jurista e advogado Arão Tempo, que esteve detido acusado de atentar contra a segurança do Estado, aponta a situação económica e social dos ‘cabindas’ como sendo preocupantes.

“Os bancos não têm dinheiro, a perseguição a quem pensa diferente aumentou, são considerados estrangeiros na própria terra”, reclamou Arão Tempo, que voltou a lamentar o facto de não haver vontade política para implementar projectos prometidos pelo novo Governo, “dos quais dependem a resolução definitiva dos problemas de Cabinda”.

Foram igualmente nomeados para diferentes cargos governamentais na província Isabel da Conceição Buca Vicente (secretária provincial da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social), Óscar Dilo (sec. Juventude e Desportos), Maria de Fátima Dumbi Congo (sec. Família e Promoção da Mulher. Acumula a área da Assistência e Reinserção Social), Juliano Cuabi Nioge Capita (sec. Ordenamento do Território, Urbanismo e Habitação), Paulo Dinis Luvambano (sec. Obras públicas).

Fonte: Novo Jornal

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