Jornalistas angolanos “desafiados” ao compromisso com cultura de cidadania e solidariedade

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A fraca cultura de cidadania e solidariedade social em Angola está a preocupar a classe jornalística nacional que defende um maior comprometimento dos profissionais e relação ao assunto.

Segundo a Voz de América (VOA), ligada a esta preocupação está também a necessidade de uma maior abordagem pública sobre os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que no entender dos fazedores de notícias o seu cumprimento é um dos maiores desafios dos governos mundiais e do Executivo angolano de modo particular.

Os jornalistas devem ser promotores de ações de cidadania, solidariedade social e responsabilidade social sabendo usar as ferramentas que dispõem.

Os jornalistas José Magalhães, Pedro Mbinza e Geovany António referem que é preciso que os jornalistas dentro do espírito do exercício de cidadania deem voz à população e façam com que estes reflitam sobre as suas responsabilidades no usufruto dos bens públicos disponibilizados pelo Governo.

“Implica dizer que nós os jornalistas pelo poder que temos devemos ser os promotores destas acções de cidadania e responsabilidade social”, diz José Magalhães da Rádio Global FM.

“Temos o dever de chamar a atenção da população sobre como deve usar os bens públicos”, acrescenta o jornalista da Forbes África Lusófona, Pedro Mbinza.
Por seu lado, Geovany António, repórter da TPA, afirma ser “preciso dar espaço noticioso sobre o que as empresas fazem em relação ao desenvolvimento sustentáveis nas comunidades desde as questões de saúde, educação entre outras”.

“Há necessidade de cada um de nós, jornalistas e não só, ajudar a mudar para melhor o nosso espaço social”, diz o jornalista Hélder Luandino, para quem a sobreposição dos temas políticos na agenda informativo da imprensa angolana é prejudicial às questões sociais solidariedade e cidadania.

Para o director da Live TV, os assuntos sociais e os problemas mais cadentes das comunidades carentes, assim como as iniciativas de cidadãos para a melhoria do espaço geográfico, onde os jornalistas estão devem igualmente fazer parte da agenda jornalística dos órgãos de comunicação social.

“É preciso mudar este paradigma. Educar para cidadania é também o papel de um jornalista. Estamos muito mais interessados em falar de política, economia …E os outros assuntos sociais”, questiona-se o profissional.

Os ODS são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima, assim como garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.

A ausência de conteúdos noticiosos na imprensa angolana sobre cidadania, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável preocupam a empresária e presidente e director exectuvio da Thebridgeglobal, Leonor Sá Machado, para quem é dever dos profissionais de comunicação social estar a par destas temáticas definidas a nível mundial para o alcance de uma melhor qualidade de vida para os povos de todo mundo.

Uma formação sobre “Responsabilidade social e cidadania” dirigida para jornalistas foi realizada recentemente em Luanda com o propósito de munir os profissionais de comunicação de ferramentas teóricas sobre cidadania e desenvolvimento sustentável como o propósito de resultar numa maior intervenção da imprensa a favor da solução para os problemas das comunidades carentes de Angola.

Os 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável envolvem temáticas como a erradicação da pobreza, a segurança alimentar e agricultura, a saúde, a educação, a igualdade de género, a redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, protecção e uso sustentável dos recursos naturais entre outros.

Marcos Jinguba, artista e curador cultural, entende que os artistas também são chamados a reflectir e a se expressar de forma artística sobre as várias temáticas ligadas aos ODS.

Ao comentar sobre as obras artísticas Gege Nbakudi (angolano), Grabirella Marinho (brasileira) e Rayan Daniels (norte americano) expostas na galeria de arte Movart, Jinguba referiu os artistas muitas representam nas suas obras os problemas, a solução e as chamadas de atenção sobre vários assuntos preocupantes na sociedade.

“Dentro destes alinhamentos sobre o combate à fome, a pobreza temos de ter coragem de dizer que ainda estamos muito longe de conseguir combater e terminar e os artistas sempre vão usar isto para chamar atenção seja no kuduro, nas artes plásticas ou noutras disciplinas artísticas”, salienta o artista para quem a imprensa tem feito o seu trabalho, mas ainda assim falta mais visibilidade dos órgãos de comunicação social.

Há muita timidez da imprensa em abordar de forma abrangente temas relacionados aos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e uma fraca capacidade de chamar à razão do Governo sobre o cumprimento das metas estabelecidas pela ONU a fim, a nível local, acabar com a pobreza, proteger o planeta, promover a paz e a prosperidade para a vida de toda a população do mundo, afirma o jornalista Manuel Augusto.

“Os jornalistas devem ter coragem de abordar assuntos como o combate a pobreza, a combate à fome, o acesso á educação de qualidade e a preservação do meio que são assuntos fundamentais para alcançar o desenvolvimento sustentável e melhor a condição de vida das pessoas mais carentes”, diz aquele profissional que reconhece que para alguns órgãos de comunicação social não seja uma situação de fácil abordagem dado ao facto da censura ainda predominante em algumas redações, sobretudo da imprensa pública.

Manuel Augusto fala por outro lado de um impedimento à abordagem de alguns assuntos ligados as ODS na imprensa: a interferência do poder político angolano na gestão da informação dos órgãos de comunicação social, em violação à lei de imprensa.

Augusto olha com bastante preocupação sobre este assunto e diz ser “necessário um trabalho maior para criarmos condições eficientes para imprensa promover os ODS a nível do nosso país e mudarmos este paradigma”.

Aquele jornalista diz ainda haver “uma grosseira violação da lei de imprensa” que proíbe o monopólio e o oligopólio dos órgãos de comunicação social, sendo que o Estado nesta altura é a entidade que mais órgãos de comunicação social detém sob a sua responsabilidade”.

Radio Angola

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