Jornalista da rádio Ecclesia espancado pela Polícia Nacional
O repórter Salgueiro Vicente foi hoje agredido fisicamente por agentes da Polícia Nacional quando pretendia obter o contraditório numa instituição petrolífera.
Antes, Salgueiro ouviu a denúncia feita por moradores do bairro Boavista, no distrito urbano do Sambizanga, dando conta de que sentiam-se mal devido a inalação do gás expelido pela Sonangol Integrated Logistic Services (SONILS) e que inclusive se tem registado desmaios na comunidade.
Em seguida, o repórter deslocou-se à base da SONILS com intuito de questionar a direcção da empresa sobre as acusações dos munícipes e assim ver cumprido o princípio do contraditório que rege a actividade jornalística.
Tendo reconhecido o director da SONILS à distância, que se encontrava no pátio da empresa, Salgueiro apressou-se a pedir autorização aos agentes de segurança que se encontravam no portão para que o permitissem entrar. Segundo contou, nem ouviu a resposta e começou imediatamente a ser batido pelos mesmos.
“Pedi permissão aos agentes policiais no portão para entrar afim de ouvir o director, estes começaram logo a me agredir, me empurraram simplesmente para não me deixar passar e começaram logo a me agredir”, relatou.
Os moradores que fizeram a queixa tiveram de socorrer o jornalista para evitar o pior – talvez ser morto.
Salgueiro recompôs-se e permaneceu na localidade a recolher dados sobre os desmaios, reportagem emitida em directo pela rádio Ecclesia no jornal da tarde.
José de Belém, também repórter da referida emissora, publicou no Facebook um “grito de socorro” à ontem empossada Entidade Reguladora da Comunicação Social em Angola (ERCA), ao Sindicato de Jornalistas de Angola (SJA), e à União dos Jornalistas de Angola (UJA) no sentido de tomarem posição pública sobre a agressão ao colega.
Carlos Alberto, ou Bruxo Raelia Alberto no Facebook, membro da ERCA e que entretanto apenas será empossado na próxima legislatura, reagiu ao “grito de socorro” de José de Belém dizendo: “E por que ele não faz queixa contra os agressores?! A Polícia existe para isso também. É um problema de Polícia, não é da ERCA, salvo melhor entendimento. Se a alegada agressão aconteceu, é contestável a todos os níveis. O colega Salgueiro U. Vicente deve seguir os procedimentos legais para fazer vincar os seus direitos.”
O agora membro da ERCA lamentavelmente não foi em socorro do colega, dizendo que cabe a ele fazer “queixa contra os agressores”, colocando a vítima numa posição de dupla vitimização, e foi mais longe ao afirmar que “é um problema de Polícia, não é da ERCA”.
Dentre as atribuições da ERCA consta a de assegurar o livre exercício do direito à informação e à liberdade de imprensa (art. 8.º, al. a), liberdades entretanto violadas neste caso.
Se todos os membros da ERCA pensarem assim, então a “nova polícia dos jornalistas” não fará diferente do que está previsto – ser mais um braço do MPLA de controlo da imprensa -, e o carácter do seu chefe Luís Fernando demonstra isso, militante convicto do MPLA.