Hospital Regional de Cafunfo “abandona” cadáver fora da morgue por falta de familiares
A direcção do Hospital Regional de Cafunfo, município do Cuango, província da Lunda-Norte, está a ser acusada pelos moradores da vila mineira de ter “abandonado” um cadáver de uma mulher durante dois dias, fora da morgue, alegadamente por falta de familiares.
Jordan Muacabinza | Cafunfo
De acordo com os moradores da vila mineira de Cafunfo, o corpo da mulher identificada apenas por Jota, 36 anos, foi colocada por cima de uma pedra “sem ser posto na morgue, tudo porque não tem familiares no município do Cuango”, disse um dos cidadãos.
A Rádio Angola apurou que, a malograda era natural da província de Malange e residia no sector de Cafunfo, município do Cuango há vários anos, onde exercia actividades de comércio.
“Depois de longos anos aqui, meses atrás ela contraiu uma doença que lhe obrigou a recorrer ao Hospital Regional para assistência médica e medicamentosa, mas sem sucesso”, disse a fonte.
Uma das vizinhas que responde pelo nome de Chica, lamentou a morte da jovem Jota e disse que, sempre prestou apoio a malograda em todos os momentos difíceis até a altura da sua morte, acrescentando que prestou todos os socorros necessários, mas afirmou “nada valeu”.
“Sempre acompanhei ela ao hospital de modo a ajudá-la, não foi possível, eu não conheço a sua família já ligue tanto nos contactos da família dela, toda a correspondência não resultou”, disse.
Referiu que, na manhã de sexta-feira dia 13 de Agosto, muito antes de enterrar o cadáver ligou nos seus familiares que vivem em Malange, que teriam “orientado” a realização do “funeral” de uma mulher cujo corpo já se encontrava em estado de decomposição.
“Algumas pessoas de boa fé, entre essas mulheres e homens, foram a enterrar no cemitério de Cafunfo, depois de ter sido feito o caixão e alugaram uma viatura de marca cânter, que levou o cadáver”, explicou.
Os activistas e defensores de direitos humanos, foram até ao hospital onde estava a ser preparada a múmia do cadáver, tendo encontraram o corpo sobre a pedra há dois dias e num estado de decomposição avançado.
“O corpo estava mesmo sem conservação, mesmo sabendo que o Hospital Regional tem uma morgue que funciona, mas ninguém se importou e entenderam que o corpo permanecesse por cima da pedra, numa altura em que o país e o mundo, enfrentam problemas da pandemia a Covid-19, não seria momento oportuno de manter o corpo de cadáver fora da morgue, e isto poderá resultar em aumento de doenças aos pacientes e os profissionais da saúde naquela instituição pública”, disse um dos activistas.
Uma fonte do hospital que preferiu o anonimato revelou que, para além desse caso, “alguns dias atrás antes deste cadáver, uma família nos arredores do bairro Gika, havia depositado um cadáver no hospital para que fosse conservado”.
“Os familiares cumpriram com todas as formalidades de comprar combustível, “mas o certo é que, o hospital não chegou de manter cadáver na morgue, o que gerou tumulto entre os familiares e a direcção do hospital em referência”, contou.
“Cumplicidade da direcção do Hospital Regional”
Segundo os populares, o que os espanta é o facto de, “a direção do Hospital Regional de Cafunfo ter mantido o cadáver por cima de uma pedra da morgue sem qualquer conservação”, o que para eles, “quer o director assim como a directora administrativa, são incompetentes, porque é muito absurdo, um hospital com a morgue em funcionamento deixa o cadáver apodrecer dentro do hospital sem ser conservado”.
Qual é a importância da morgue nos hospitais?
A morgue é o local onde são colocados os cadáveres antes de ser enterrados ou incinerados definitivamente. Em outras palavras, trata-se de um depósito de cadáveres.
Todos os corpos não identificados são transportados para uma morgue e ali permanecem à espera de seu reconhecimento por parte de algum familiar.
A orientação sanitária determina que, toda morgue deve contar com um equipamento de refrigeração para que os cadáveres não se decomponham e sejam mantidos a uma temperatura adequada. Por outro lado, estes estabelecimentos utilizam critérios de higiene rigorosos para evitar possíveis infecções e, ao mesmo tempo, estabelecer um sistema de sinalização para identificar correctamente os cadáveres.
Negligência do director e directora administrativa
Para alguns enfermeiros ouvidos pela Rádio Angola, que proferiram o anonimato, “a negligencia são do director-geral e a sua directora administrativa, que não se preocuparam, ou seja, não se importaram com o corpo, porque quando cadáver permaneceu durante dois dias por cima da pedra, os dois responsáveis do hospital sabiam e nada fizeram para inverterem a situação”.
A Rádio Angola, em busca do contraditório, contactou o director do Hospital Regional de Cafunfo, via telefónica, mas não obteve resultados, situação semelhante ocorreu no contacto com a administradora do hospital, que não atendeu os telefonemas.