Familiares de activista lançado aos jacarés convocam manifestação contra soltura do assassino Júnior Maurício “Cheu”

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A justiça angolana decidiu colocar em liberdade o cidadão Júnior Maurício, também conhecido por “Cheu” condenado em 2012 a pena de 17 anos, por ter assassinado o activista cívico, Isaías Cassule, tendo sido lançado o seu corpo aos jacarés no rio Dande, província do Bengo.

Fonte: O Decreto/RA

A decisão das autoridades judiciárias não agradou aos familiares de Isaías Cassule, que classificam como sendo um acto “injusto” pelo facto de, Júnior Maurício “Cheu”, a data dos factos era o diretor adjunto do Gabinete Técnico do Comité Provincial do MPLA de Luanda, não ter cumprido a pena de 17 anos, aplicada pelo Tribunal Provincial de Luanda.

Isaías Cassule,foi raptado, com outro activista Alves Kamulingue, quando se preparavam para participar numa manifestação de rua de ex-militares, em Maio de 2012, altura em que foram assassinados por agentes de Serviço de Inteligência e de Segurança do Estado (SINSE), no regime de José Eduardo dos Santos.

Os órgãos de justiça justificam a libertação de Júnior Maurício “Cheu”, com o facto de o réu condenado em 2012, ter já cumprido a metade da pena.

Em declarações ao O Decreto, Benedito Sebastião Cassule, irmão mais novo do malogrado Isaías Cassule disse que a “família Cassule” ficou surpresa com a notícia “sobre a libertação do assassino do nosso irmão”.

Para Benedito Cassule, Júnior Maurício “cometeu algo muito doloroso contra a nossa família, mas o governo angolano decidiu soltá-lo”.

“Neste caso, devem também ser libertados todos aqueles que cometeram o mesmo crime”, disse.

Para exigir esclarecimentos dos órgãos de direito, os familiares de Isaías Cassule programaram para o dia 13 de Fevereiro, uma manifestação junto ao Palácio da Justiça onde vão permanecer com duas urnas.

“Se não houve algum pronunciamento das autoridades da justiça, já programamos uma manifestação para o dia 13 de Fevereiro, no Palácio da Justiça, onde levaremos duas urnas”, avançou em entrevista a este portal, Mariano Sebastião Cassule, outro irmão de Cassule, para quem o Presidente da República, enquanto alto magistrado da nação deve intervir no caso.

Em Maio de 2012, o grupo de Júnior Maurício “Cheu” recebeu a missão de impedir a realização do protesto que tinha sido convocado por Isaías Cassule, que visava exigir pagamentos de subsídios de antigos combatentes.

Durante o julgamento um dos réus revelou que Júnior Maurício “Cheu”, comandava uma estrutura paralela de segurança chefiada pelo antigo Governador de Luanda, Bento Francisco Bento, e que agia em estreita colaboração com os Serviços de Segurança e Inteligência Militar (SISM), na pessoa do tenente-general José Peres Afonso “Filó”, o então chefe da Direcção Principal de Contra-Inteligência Militar.

Informações postas a circular apontam que, desde que saiu da prisão Júnior Maurício teria sido readmitido no Comité Provincial do MPLA em Luanda e tem sido visto com frequência em barracas na Ilha de Luanda.

É lhe atribuído um alegado poder financeiro que de acordo com fontes em Luanda alegam ter beneficiado de um pacto que fez com figuras do regime envolvidas no assassinato de Isaías Cassule, em que se comprometia nunca os citar em tribunal, em troca de contrapartidas.

O assassinato

Dados revelados na altura em que foi raptado, indicavam que, logo após ter sido detido nas imediações da Escola Angola e Cuba, no município do Cazenga, Isaías Sebastião Cassule, foi levado para uma esquadra da polícia, mas terão sido elementos do aparelho de segurança do Estado que o terão ido buscar para ser transportado para outro local.

Isaías Cassule foi brutalmente espancado durante dois dias seguidos, acabando por morrer. O seu cadáver foi atirado ao rio Dande, na província de Bengo, precisamente, numa área onde há jacarés.

Um elemento conhecido por “Cheu”, tido como o homem de ligação com o gabinete do então governador provincial de Luanda, Bento Francisco Bento terá confessado tudo sobre Cassule e atribuiu as culpas aos elementos da delegação de Luanda, do Serviço de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE).

Com o Isaías Cassule foi igualmente assassinado outro activista Alves Kamulingue, executado com um tiro na cabeça depois de ter sido brutalmente torturado pelos agentes da secreta angolana, cujos disparos foram por um oficial da esquadra da ingombotas, identificado “Kiko”, revelado na altura como sobrinho da então Ministra do Ambiente, Fátima Jardim.

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