EUA DECLARA GUERRA CONTRA O KONGO, CONTRA O REINO DO KONGO, CONTRA A ÁFRIKA, MAS VOCÊ E EU FICAREMOS IMPÁVIDOS
Bem, você não percebeu assim e é normal, a teia vem de muito longe e ela podia chamar-se “Síndrome de Dependência e Falta de Poder Real!” Mas analisemos antes o que está em causa.
Em meados de dezembro de 2018, no Kongo Kinshasa o governo reafirma a data para as eleições gerais no país (23 de Dezembro de 2018, depois, um estalo de loucos faz-lhes passar para dia 30 do mesmo mês e ano). O candidato de Kabila (actual presidente) e alguns mais do seu staff sofrem sanções dos EUA e da UE. Em retaliação o governo de Kabila expulsa o presidente da representação da União Europeia do país e decreta que não permitirá observadores dos EUA e da UE nas eleições gerais daquele ano no seu país.
Este é o cenário. Ridículo ver isso acontecer, uma pulga a querer beliscar as barbas de gigantes. Uma pulga estúpida, pois ela se esqueceu que é totalmente dependente, desorganizada, inexpressiva, sem credibilidade e inexistente na roda dos potentados do mundo. E estes sentiram-se muito ofendidos e agora vão mostrar quem realmente manda e o que acontece quando bebés começam a confundir cartilagem com osso. Poderemos assistir cenários anedoticamente teatrais onde ascendem à presidência gente que nunca teve o seu nome no boletim de votos em Kinshasa, fruto da “instabilidade” que já se sabe está cozinhada e como na áfrica maus pratos são o mais fácil de servir, yah, aguardemos.
______A Instabilidade
Fruto desta instabilidade inevitável, os EUA de Donald Trump descarrega FUZILEIROS navais uma força de elite, no Gabão, um país que nem se quer faz fronteira com o Kongo Kinshasa e sem se importar com o consentimento do governo gabonês. Um aberrante acto de ingerência (nos assuntos ligados a segurança de Estado do Gabão, não falando ainda da RDK), abuso e mania de potência Mundial. Qual é o pretexto? Garantir evacuação segura a diplomatas seus caso as coisas corram mal depois da divulgação dos resultados eleitorais no Kongo Kinshasa que já leva uma semana de serem divulgados.
Este cenário é dos mais estúpidos que já vi. Primeiro por que não há explicações ou razões plausíveis para que leve-se tanto tempo para a divulgação dos resultados eleitorais (na verdade, não há divulgação é para nós o povão, os “donos de tudo” já sabem quais são os resultados e a julgar pela reacção fuzilística, são resultados que não devem abonar os interesses de quem julga que o mundo todo é seu curral; ou, se são a favor, então querem aproveitar o momento para dar uma lição ao pupilo e todos outros mais que estejam a pensar ou a confundir cartilagem com osso forte). Segundo, e se fizéssemos paralelismo com a história? Pois, é isso o que faremos já a seguir.
Mas isso não serão só delírios de quem não entende nada de relações internacionais, política externa ou ciência política (eu matei-me de rir a medida que ia escrevendo essa pergunta)? Claro que não! Para ilustrar isso melhor fazermos o anunciado paralelismo com a história. Busquemos um caso pior que o que estamos a analisar, que ficou imortalizado no filme ARGO. Aconteceu em 1979 em Teerão no Irão e envolvia confrontação directa entre os EUA e o governo iraniano. Analisemos a atitude dos EUA neste caso que também envolvia a vida de diplomatas seus e de mais 52 outros reféns.
______Diplomatas e diplomacia
Há um artigo super interessante no Observador, escrito em 2014 a abordar justamente o caso, o link está disponível no fim deste artigo. Leiamos:
“A relação crispada entre Irão e Estados Unidos conduziu à invasão da embaixada dos norte-americanos, em Teerão. Cinquenta e duas pessoas foram feitas reféns durante 444 dias. Durante a ocupação, um grupo de seis americanos fugiu e esteve escondido, ajudado pelo embaixador canadiano, Ken Taylor, à espera que a sorte tocasse à porta. Uma operação de disfarce da CIA, muito digna de Hollywood — literalmente: “Argo” de Ben Affleck resultou daí –, resgatou-os e levou-os para casa (…) O ouro negro, como não podia deixar de ser, esteve na origem. Até metade do século XX, americanos e britânicos controlavam uma boa parte das reservas de petróleo deste país do Médio Oriente. Tudo mudaria, ou ameaçaria mudar, com a chegada ao poder de Muhammad Mossadegh, democraticamente eleito em 1951. Este era um nacionalista formado na Europa que prometia nacionalizar a industria petrolífera. Os serviços secretos dos países visados elaboraram então um plano para derrubar o novo líder iraniano. Esta era uma realidade que os Estados Unidos acabariam por habituar o mundo, qual tabuleiro de xadrez da geopolítica, que se transformava e mudava ao sabor dos interesses. Já havia acontecido ou aconteceria no Panamá, Guatemala, Chile ou, dez anos depois, em Cuba, no famoso capítulo apelidado de “Baía dos Porcos”.” in Quando a embaixada dos EUA foi invadida em Teerão, Observador.
Quando analisamos o caso de 1979, eis o que constatamos:
Primeiro, os EUA não descarregou fuzileiros navais na Geórgia, Azerbaijão, Síria, Iraque, Omã, Turquemenistão, Afeganistão, Paquistão ou Índia que são países circundantes e fronteriços do Irão. Em abril de 79, Jim Carter até tentou uma cartada arriscada. Uma operação especial — Eagle Claw — que previa o envio de uma equipa de elite para a embaixada [americana em Teerão], para resgatar aqueles que estavam em cativeiro desde novembro. Mesmo havendo perigo eminente aos diplomatas e reféns americanos, a tentativa de envio de uma tropa de elite tinha como destino a embaixada americana no país e não um país que nem se quer dividia fronteiras com o Irão.
Segundo, a missão que viria a resgatar os 6 diplomatas americanos deixando para trás 52 refêns que tiveram que aguardar um ano e 78 dias, levou 3 meses a ser preparada e mesmo tendo sido um sucesso viria a dar em congelamento de relações entre o Irão e os EUA e o Canada: “o truque de magia do Canadá gelou as relações com o Irão: a embaixada foi encerrada em 1980. Contudo, seria reaberta em 1988, embora só tenha sido registada uma normalização na ligação entre ambos os países em 1996. Os Estados Unidos ficariam sem um corpo diplomático para aquele país entre 1979 e 2011 (32 anos), altura em que foi criada uma embaixada virtual, que seria bloqueada pouco depois pelo governo iraniano.” Será que um país africano está em condições de punir assim os EUA?
Terceiro, toda esta situação que se vivia no Irão em 1979, foi fruto das macaquices dos americanos e britâncos de há quase 30 anos atrás ao terem golpeado por causa de petróleo, um líder político eleito democraticamente como nunca aconteceu nos EUA, Muhammad Mossadegh eleito em 1951, num golpe à “Economic Hitman – Assassino Económico” que John Perkins bem conta no seu livro e documentário disponível online.
______Síndrome de Dependência
Voltemos agora ao Kongo Kinshasa. Qual é a razão desta aberrante ingerência, demonstração de força e musculatura americana? Simples, eles sabem que NÓS NÃO TEMOS PODER REAL! Não temos poder para nos defender e nem de defender ninguém. Nós não temos poder para desafiar ninguém, senão apenas nossos co-iguais, os cambaleantes governos africanos. Nós não temos actuante entre nós a Psicologia de Grupo, por isso não iremos perceber isso como um ataque ao continente, que estamos como afrikanos, sob ataque aberto e guerra declarada pelos EUA. Eles sabem também que somos totalmente dependentes, que todos os nossos pseudo exércitos e forças especiais são treinados por eles, que todas as nossas armas e engenhos são fabricados e vendidos por eles, que até a ração e a farda para a nossa tropa é feita por eles. O nosso dinheiro e até mesmo o Bilhete de Identidade (no caso de Angola) são feitos por eles, nós compramos o dinheiro que usamos nos nossos países deles. A nossa academia e os nossos intelectuais têm como ídolos e mestres os seus intelectuais e a sua academia. As nossas cidades se inspiram e são cópias das cidades deles, os nossos programas de TV, filmes e entretimento têm como modelos os deles. Então, fazerem o que estão a fazer é como se eles estivessem a fazer… como é mesmo que se chama aquilo que os militares fazem para mostrar a sua prontidão e os Estados, para mostrarem… pois, «manobras militares» em Washington. O que eles estão a fazer no Gabão e por arrasto Nigéria, Sudão, Etiópia, RCA, Camorões, Kongo, Angola, Africa do Sul, ÁFRIKA, é como se fossem manobras militares em Washington DC, não têm nada e ninguém a temer.
Foi dito por Bronislaw Kasper Malinowski (1884-1942), um antropólogo polaco, considerado um dos fundadores da antropologia social que “ao colonizado, ao preto, ao primitivo, ao atrasado, jamais dar a chave que abre a porta para a civilização e para o conhecimento e se isso acontecer por acidente, fazer com que todas as decisões sejam tomadas pelo antigo colonizador.” Pois, estamos nas mãos deles. Não temos governos nem governantes para nós e para os nossos interesses. Por isso é que o mano Azagaia não cansa de nos dizer “os nossos verdadeiros heróis e governantes e reís e defensores, eles puseram nos manuais de história.”
A profecia de Malinowski continua em cumprimento e teve seu nascimento muito antes da azáfama das lutas pelas independências da Áfrika. É esta a profecia que dita quem é ou quem não é herói para os afrikanos, o que é ou não é academia para os afrikanos, quem é ou não é um ditador, o que é ou não é desenvolvimento para a Áfrika, o que é ou não é economia de mercado, etc. Ou seja, é o motor gerador da dependência crónica e colonização epistémica a qual nós aplaudimos constantemente ao cronicamente rejeitarmos e termos virado costas a quem nós somos e vivermos vivendo vida emprestada e realidade alugada. É desta forma que nos desempoderamos e seguimos só qualquer identidade, defendemos qualquer elucubração que eles vomitem e apoiamos qualquer loucura que tenha o carimbo de internacional, pois nem se quer sabemos que Internacional quer dizer «entre nações», mas se você não é tido nem achado entre as nações do mundo como achas que deves apoiar tais resoluções e agrupamentos como a ONU e suas derivadas, FMI, Banco Mundial, ISO, Unicode, FAO, UNESCO, etc.? É por isso que é-nos mais doce falar de globalização do que afrikanização do continente. É mais fácil ser-se universal do que ser-se a si próprio, enfim.
Os pilares da profecia de Malinowski encontram-se na essência da política de colonização. Por isso nunca aceite que te peçam para esquecer o passado. A política colonial tinha como princípio elementar reduzir o afrikano à incapacidade absoluta e uma amnésia multi-forme, fazendo com que este estado de coisas o faça gritar por socorro para acudirem-lhe da “sua desgraça” e da sua incapacidade:
______”Criar os fracos”
“Quando os europeus invadiram a Áfrika usaram os quatro princípios básicos de uma força invasora:
- Primeiro, Matar os fortes e pilhar o lugar;
- Segundo, Criar os fracos (em todos os campos: ciência, política, economia, acadêmia, etc. a África é um celeiro de fracos e inaptos e papagaios até hoje, sem desprimor às excepções é claro, mas as excepções são até hoje meia gota no oceano e como todos os outros, não têm poder real);
- Terceiro, Matar, Deportar ou Exilar os mais inteligentes e hábeis (olhem para o panteão de pretos na NASA, Microsoft, Google, NSA, KGB, Universidades, Instituições, Firmas, artes, cinema, etc., mas estão cooptados é claro);
- Quarto, Impor a regra colonial de ouro “Do meu jeito ou nada”.
“Imagine o que aconteceria a qualquer país ou civilização onde quase todos os escritores, contadores de histórias, engenheiros, artesãos, artistas e líderes fossem mortos ou exilados? E se, qualquer sinal de glória e engenho passados fossem destruídos ou queimados? Seus livros e conhecimentos roubados ou destruídos? Quem transmitiria esse conhecimento acumulado secular aos cidadãos comuns?
“Os nossos corajosos guerreiros e os nossos construtores de civilização desapareceram. Nossos comerciantes globais, nossos construtores de pirâmides, reinos e impérios foram extintos. Assim, nenhuma destas gerações foi criada para fazer impérios e guerras, defender território e proteger mulheres e crianças. Não existem mais versões modernas de corajosos guerreiros afrikanos e construtores de civilizações.” in 100 Cidades Africanas Destruídas Pelos Europeus, parte IV, Contra Maré.
“Não existem mais versões modernas de corajosos guerreiros afrikanos e construtores de civilizações. Não existem mais versões modernas de corajosos guerreiros afrikanos e construtores de civilizações. Não existem mais versões modernas de corajosos guerreiros afrikanos e construtores de civilizações.” Vai continuar a ecoar nas nossas cabeças e é uma verdade inegável. Por que?
Você está a ler este artigo, pode concordar com ele, ficar revoltado, mas infelizmente não vai fazer nada. O JLO pode ler este artigo, da mesma forma revoltar-se, mas não vai fazer nada. A SADC pode ler este artigo, concordar com ele, ficar irado e desejoso de mudar o quadro, mas não vai fazer nada. A União Africana pode ler o artigo e revoltar-se, mas também não vai fazer nada. Eu mesmo que o escrevi, nada e nada vamos fazer. Por que?
Porque quando não se tem poder real, os indivíduos e as instituições tornam-se meras caixas de ressonância das políticas e visões já estabelecidas por aquelas instituições sobre as quais se forjaram: se políticos, da política. Se religiosos, da religião. Se académicos, da academia. Se iletrados, da iliterácia, etc. Os nossos governos, a nossa academia, as nossas religiões, as nossas instituições, a SADC, a OPEP, a CPLP a União Africana e todas demais que possamos imaginar são meras caixas de ressonância sem poder real e que não servem para nada em termos de competir para estabelecermos o nosso lugar no mundo, pois estas coisas não estão forjadas na perspectiva da Soberania Afrikana. No caso da UA verá que nem um comunicado irão fazer sobre este desrespeito dos americanos em solo afrikano.
O que seria se tivéssemos poder real?
Estes fuzileiros americanos seriam todos fuzilados mal pusessem o pé em solo gabonês, afinal você não pode entrar em solo estrangeiro armado até aos dentes quando não há guerra declarada e especialmente se você não tem permissão para o fazer. Então, os matávamos e depois esperaríamos o que os EUA iriam fazer ou dizer. Ali, se fosse mais outra provocação, entrávamos em meio campo com eles daqui ou lá dentro dos EUA contra eles e contra todos os que decidissem lhes apoiar. Assim teríamos uma verdadeira e primeira guerra Mundial. Mas você vai se aventurar numa coisa dessas comprando armas? Dependendo da tecnologia da Rússia? Dependendo da farda e ração da Cuba? Dependendo da engenharia chinesa? Você vai se aventurar nisso com estrategistas vindos de Harvard, MIT, Sorbone e da Universidade de Lisboa? Só se fores um imbecil! E é isso o que os governos, académicos, líderes e opinion makers afrikanos não conseguem perceber, que são uns autênticos imbecis enquanto se alimentar e manter a Síndrome de Dependência, esta que gera a falta de poder real. Toda técnica que se produz na África ela tem actuação apenas interna, ela não está projectada para por em causa a “sagrada” autoridade científica ocidental, e é o que tem acontecido. Você já ousou questionar Noam Chomsky por exemplo? Você não o faz não é por que ele está sempre certo, não o fazes por que o que te vem de lá, vem sagrado e inquestionável. Assim é para com os nossos exércitos, eles não são treinados para abalar os “poderes e potentados do mundo”. Assim é com tudo resto, tudo é servido numa dose que só tem efeitos nocivos a nível de África! Acordem e comecemos a pensar grande. Este mundo também é nosso lugar e nós já o governamos por muitos milénios do que o desgoverno que eles implementaram!
Paremos por um pouco, é necessário mesmo que haja uma verdadeira primeira guerra mundial? Não, claro que não é necessário, mas “o dedo de um mais velho não se desvia desde que não se dirija ao olho.” No nosso caso, o dedo deles no nosso olho já virou um escorrega para as suas brincadeiras. Eles nem se importam, há muito que se esqueceram que picam-nos no olho. Uma forma de lhes lembrar que o nosso olho é tão sensível quanto o deles seria repetir a proeza do grã autodidata Toussaint de Louverture, o pai da revolução Haitiana que os deu uma boa lição ao derrota-los a todos durante a revolução: a Força Expedicionária Britânica em 1798, os seus aliados internos, e Napoleão Bonaparte e todo seu exército 4 anos depois de 1798.
O ocidente vive muito relaxado e convencido da sua “invencibilidade”, já faz perto de 200 desde que africanos derrotaram o ocidente nos tempos modernos (não pense nas lutas de libertação e independência, nestas os africanos em todo continente, perderam, pois os verdadeiramente comprometidos com a causa e o povo afrikano, foram mortos antes que o sol raiasse). O ocidente raziou a Ásia: derrotou os samurais, os kamikazes, os vietikongs, Bruce Lee e a China já não se fala. Domesticou aquele pedaço do planeta, mas hoje a Ásia têm sabido virar a moeda especialmente no campo tecnológico. A Ásia já vai voltando a empoderar-se. Que dizer da África? Nós nos sentaram de uma forma estranha e nós mesmos continuamos a apoiar e a alimentar a nossa estagnação ao termos desistido do que de mais precioso temos, O RACIOCÍNIO!
Enquanto a maioria decide curvar-se, há quem decida erguer-se e lutar!
Até quando mais este sono pesado Afrika?!
Muna Mbanza
Muna 06 de Janeiro de 2019
[06 Janeiro de 2018 ranascia-se! 06 de Janeiro de 2019 declarava-se guerra]
Links
- Observador
https://observador.pt/…/quando-embaixada-dos-eua-foi-invad…/
- Contra Maré