Em Luanda: Polícia Nacional trava marcha de activistas que exigem justiça de Inocêncio de Matos morto há um ano

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Na passada quinta-feira, 11, dia em que Angola  celebrou os 46 anos de independência nacional, foi impedida uma marcha que estava prevista em Luanda para denunciar os problemas vivenciados pela população angolana e reclamar justiça em nome do activista Inocêncio de Matos, que morreu em circunstâncias ainda por averiguar, durante um protesto na capital do país, há precisamente um ano, no dia 11 de Novembro de 2020.

Uma das participantes da marcha, a activista Laura Macedo, referiu à RFI que não só a manifestação foi impedida pela polícia, como foram feridas duas pessoas e outras quinze foram detidas, nomeadamente alguns dos organizadores da concentração.

“Quando chegamos ao local por volta das 10h30 da manhã, já a polícia tinha tomado todo o parque de estacionamento do cemitério de Santana que era o local da concentração. Não nos deixaram aproximar, não deixavam sequer que carros estacionassem no parque de estacionamento e acabaram correndo com toda a gente que lá estava. Saímos a primeira vez. Depois chegou outro grupo de jovens que voltou a entrar a quem polícia tirou de lá com bastonadas. Feriram dois manifestantes e aí detiveram primeiro três dos promotores da manifestação”, relata a activista.

“No total estão detidas, até ao momento, quinze pessoas. Entre elas está o Hitler Samussuku e o José Gomes Hata que são dois elementos que pertencem à plataforma ‘terceira divisão’ que é uma plataforma de jovens ligados ao hip-hop, e estão outros mais lá”, acrescentou Laura Macedo informando, por outro lado que as pessoas interpeladas pela polícia se encontravam detidas dentro de um veículo no local da concentração, não tendo sido levadas para nenhuma esquadra.

“Não foram levados para esquadra nenhuma, eles estão no local da concentração fechados dentro de uma viatura. A polícia não permite que ninguém se aproxime, fez um cordão à volta do sítio onde eles têm as viaturas e ninguém consegue sequer chegar”, refere a activista indicando todavia que estão lá dois advogados.

Ao relatar que as autoridades tinham sido devidamente informadas sobre a perspectiva de se organizar esta marcha, Laura Macedo comenta que “o governo não se incomoda sequer em responder à comunicação de que se vai fazer uma manifestação.

A lei diz que o governo tem 24 horas para responder à carta onde os manifestantes se propõem de ir à rua e eles nunca respondem. Respondem sempre no dia, no acto, quando as pessoas estão para iniciar o acto a que se propuseram e eles respondem sempre com muita violência e é sempre a polícia nacional que responde.”

“O grande problema aqui é que o partido que nos governa não quer que se façam manifestações muito menos no dia 11 de Novembro.Tentam ‘vender’ uma imagem para o exterior de que aqui está tudo bem e que eles estão a trabalhar, o que não é verdade”, comenta a activista que ao evocar o objecto da marcha que estava prevista hoje, clamar por justiça para com o jovem Inocêncio de Matos que morreu há um ano durante um protesto, constata que “não há absolutamente nada. Aliás esta manifestação foi precisamente para se exigir justiça por Inocêncio de Matos. Não foi para comemorar a independência de Angola porque o povo angolano não está independente.”

De recordar que, na quinta-feira, 11 de Novembro, o jovem Inocêncio de Matos, jovem estudante de 26 anos, completou um ano, após a morte a tiro, na sequência de um protesto em que se assinalou o 45° aniversário da independência nacional, durante uma manifestação em Luanda em que centenas de jovens desceram à rua para exigir medidas mais eficazes na luta contra a corrupção e a pobreza.

As circunstâncias da morte do jovem continuam por esclarecer, havendo versões contraditórias sobre o sucedido. A última autópsia praticada sobre o jovem revelou que ele morreu baleado, conforme tinha sido relatado por testemunhas.

Radio Angola

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