Em Cafunfo: Mulher grávida abandonada pelo marido dá à luz trigémeos e clama por ajuda do Governo
Massamo Fernando, mulher que aparenta estar acima de 30 anos de idade, com deficiência física abandonada pelo seu esposo durante o período a fase de gestação, deu à luz a trigémeos (duas meninas e um rapaz) na vila diamantífera de Cafunfo e diz que não tem as mínimas condições para sustentar e cuidar das três crianças, que se juntam a mais dois filhos de 4 e 12 anos, respectivamente.
Jordan Muacabinza
Fonte: Rádio Angola
A mulher com deficiência de se locomover por falta de uma cadeira de rodas teve um parto normal no passado dia 28 de Setembro último, no conhecido bairro “A Luta Continua” na zona do “Bala Bala”.
Em entrevista concedida à Rádio Angola em sua casa, a parturiente lamentou que que foi abandonada pelo marido numa casa de renda durante os nove meses de gravidez, tendo o sustento ficado dependente de pessoas de boa-fé, em especial os vizinhos, que sempre manifestaram o amor a si.
Conta que, ao longo da gestação permaneceu numa “kubata de renda”, cuja paga mensal da renda de 2.500 kwanzas, dependia de contribuições de outras pessoas, que se olhando para a sua situação, contribuíam com 200 a 500 kwnzas, para o efeito.
“Prefiro acumular estes valores durante um mês para efectuar o pagamento da renda da casa, uma vez que nunca tive o apoio do esposo, nem visita dele até hoje”, lamentou Mussamo Fernando, para quem o marido tem outra mulher.
Na noite do dia 28 de Setembro de 2020, a mulher disse que foi surpreendida pela dor de parto, sem a possibilidade de ir ao hospital para o serviço de parto e, naquela mesma noite sozinha, conseguiu dar à luz às três crianças sem o apoio de alguém.
O marido com que matem uma relação há cinco anos resultou em quatro filhos, incluindo os trigémeos e a primogénita é fruto da primeira relação da senhora.
A Rádio Angola apurou que, o “marido foragido” tem outra relação nos arredores do bairro “Elevação”, em Cafunfo.
Em exclusivo à RA, a mulher que vive em casa de renda em condições pouco dignas, apela à sociedade, em especial ao Governo Provincial da Lunda-Norte, no sentido de conseguir uma habitação com vista a acolher com dignidade os filhos. Siga abaixo a entrevista que a parturiente concedeu à Rádio Angola:
Rádio Angola qual era a sua expectativa?
Mussamo Fernando- Desde que tive os bebés tenho pensando nisso, nessa incrível história que aconteceu comigo e que não quero esquecer! Os trigémeos vieram ao mundo com 32 semanas e seis dias, isto é, no dia 28 de Setembro às 18 horas, num parto normal.
Não, não foi um parto normal planeado e nem esperado. Desde o começo da gravidez, já lá se passaram pelo menos 34 semanas, que não tenho médico, nem hospital sequer frequentei. E, depois do marido ter me abandonado sabia mesmo que minha gravidez seria de alto risco, sem qualquer expectativas tendo em conta o meu estado físico, sabia mesmo passaria momentos de alto risco, mesmo que fosse de um filho, as dores são exactamente iguais para qualquer mulher, pode se tomar tudo para que no dia da hora H que as dores fossem menos, será impossível para mulheres, porém, os meus filhos decidiriam vir ao mundo no seu próprio tempo e do seu jeito consegui no dia do parto
Passei o dia inteiro com dor, deitada, sem comer nada, tudo que você pode imaginar para aliviar intestino preso. À noite, por volta das oito e meia, depois de mais uma tentativa de aliviar o incomodo, senti um “vazamento”, mas não pude ter certeza o que era.
Depois de uns 15 minutos, percebi que estava sentindo cólicas e que também estava com contracções. Não tenho ideia de quanto tempo, já que estava assim, porque neste momento elas já estavam bem seguidas. Vocês podem imaginar meu desespero, estando em casa sozinha com meu filho de 5 anos, meu marido me abandonou sem contacto com ninguém para pedir ajuda. Meu primeiro pensamento foi em pedir um uma motorizada, o que onde vivo não tem acesso para chegar a casa, levantar e ir andando não havia qualquer alternativa, até que percebi que seria meio arriscado e decidi não chamar ninguém e logo fechei portas.
RA- Durante a gravidez quantas vezes frequentou o hospital?
MF- Só o meu estado físico não oferece a possibilidades de deslocar-me até ao hospital e não só, a falta de alguém como no caso do meu marido que devia envidar esforços para me levar, o que não aconteceu.
RA- Quando concebeu chegou a ponto de ir ao hospital fazer ecografia?
MF- Tive informações dos meus vizinhos que davam conta que o Hospital Regional de Cafunfo não possui o aparelho de ecografia, apenas tem uma médica que se presume ser cubana e trabalha no hospital regional, ela tem seu aparelho privada e, quem assim quiser tem de pagar cinco mil kwanzas por cada observação, devido à falta de possibilidade não fui para lá.
RA- Ao longo da gravidez sabia que iria dar à luz aos trigémeos?
MF- Senhor jornalista, foi uma grande surpresa, algo inédito, não tinha este sonho nem aguardava que pelo menos nasceriam gémeos.
RA- Depois do Parto teve assistência médica e medicamentosa?
MF- Não! Sei que passei muita hemorragia durante o parto, por falta de possibilidade, ou seja, pela suficiência física que me pende não tive como deslocar-me até ao hospital para receber qualquer assistência e, já se passam sete dias, sem receber qualquer assistência médica.
RA- Quando nasceram os bebés foram levados ao hospital para qualquer assistência ou observação?
MF- Sim, os meus vizinhos apareceram em companhia de alguns familiares levaram as crianças até ao Hospital Regional onde foram vacinados.
RA- Depois da fuga do seu esposo como é que tem feito para pagar a renda de casa?
MF- Eu dependo de pessoas de boa fé, quem a hoje, por exemplo, me oferecer uns 200 kwanzas, tenho de acumular para no do fim do mês, conseguir somar os 2.500 kz, a fim de conseguir a renda da casa e, muitas vezes passo fome só para pagar a renda.
RA- Como é que se alimenta?
MF- Dependo dos vizinhos, alguns me dão fuba, outros me dão mandioca, respectivamente.
RA- E, depois do parto já recebeu apoio?
MF- Tive apoio de alguns bens por parte do músico Tony Sueno e irmãos em Cristo, bem como alguns valores que foram dados por um cidadão de boa fé, que se identificou como sendo membro da sociedade civil e trabalha no Ufolo – Centro de Estudo para a Boa Governação, identificado pelo nome de Djelson Jordan, cujos valores vão servir para pagar a renda da casa e alimentação, o que desde já agradeço.
RA- Como é que se chama o seu marido e é natural de que província?
MF- O meu marido chama-se António da Silva, natural da província do Uíge.
RA- O que é que espera que a sociedade civil, políticos, empresários angolanos e pessoas singulares de boa fé façam olhando para a sua situação?
MF- Venho encarecidamente a quem vai ler esta notícia, quer por parte dos dirigentes do Governo da Lunda-Norte, igrejas, organizações não governamentais assim com partidos políticos e empresários, no sentido de olhar só nessas crianças, que serão vossos substitutos e futuros dirigentes deste grandioso país, estou sem casa, sem alimentação, nem sequer roupa, baldes, lixívia entre outros bens de primeira necessidade se quer eu tenho, peço ajuda a todos em nome do nosso Deus. Por outro estou a dormir por cima de palha coberto com uma lamina de colchão, uma vez que esta zona é endêmica, também à todas as mulheres que sentem as dores de uma mulher que dá à luz nessas condições, as mesmas dores que eu senti no dia do parto, são as mesmas que restantes mulheres a nível do mundo sentem, peço que me ajudem, por favor.