Em Angola faz-se um jornalismo “doloroso”, diz jornalista Graça Campos
Graça Campos, antigo jornalista do “Angolense e Semanário Angolense”, jornais que já não se encontram em circulação entre os leitores por terem sido comprados por gente ligada ao partido no poder diz-se insatisfeito com a qualidade do jornalismo que se faz no país.
Gonçalves Vieira
Entrevistado pela Rádio Angola à margem do encontro promovido na terça-feira, 28/03, na capital angolana pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) com a classe jornalística, em alusão aos 25 anos de existência do movimento sindical, exprimiu-se com “profundo desagrado” por constatar uma “regressão” na qualidade do jornalismo que se faz no país nos dias que correm.
O ex-proprietário do “Semanário Angolense”, que já foi uma das publicações mais lidas pelos leitores luandenses e não só, pensa que a qualidade dos conteúdos decaiu pelo facto de a nova geração que controla as redacções “não ter herdado a dinâmica dos mais experientes”.
“Tenho constatado uma enorme regressão na qualidade de jornalismo que pratica, vejo os noticiários quer das televisões, quer da rádios e na verdade não tenho que me regozijar com o que oiço, quer técnica e deontologicamente é penoso o que se faz”.
Em relação ao desempenho do do SJA, Graça Campos afirmou que “como qualquer instituição sindical em Angola, o Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) teve um parto difícil na sua criação, mas vai se afirmando lentamente”.
“Hoje creio que já é suficientemente representativo aos jornalistas angolanos, e a presença de grande número de jornalistas neste acto demonstra que é cada vez maior à aceitação do sindicato entre os profissionais”, disse Graça Campos.
Questionado sobre o que deve ser melhorado no desempenho da organização que defende a classe jornalística, Graça Campos disse que “não depende apenas do Sindicato e nem da sua direcção, porquanto “vivemos numa conjuntura política, economia e social que inibe o trabalho dos sindicatos, e não apenas o Sindicato dos Jornalistas Angolanos, mas inibe todos os movimentos sindicais”.
O jornalista descreve que Angola é um país onde as greves são reprimidas com violência. “Não se permite que os trabalhadores exprimam livremente as suas reivindicações, enfim, num contexto como esse, não se pode esperar que o sindicato dos jornalistas se comporte como uma excepção”, asseverou, para quem “o SJA também sofre das consequências e mazelas do contexto em que está inserido”.
Nesta entrevista à Rádio Angola, disse também que à aprovação da actual Constituição da República em 2010, considerada por muitos como sendo muito avançada, mas o ponto de vista prático, as liberdades fundamentais continuam cada vez mais restringidas por parte das autoridades que deviam revelar o cumprimento da mesma.
Graça Campos sustenta que desde 2010, tem havido retrocessos tremendos e explica a seguir que apesar da carta magna consagrar o direto a manifestação, os que ousam exercer este direito, segundo o jornalista, são brutalmente reprimidos pelas autoridades policiais ignorando deste modo a própria Constituição.
Esta violação da Constituição e das leis ordinárias, de acordo com o Graça Campos, reflete-se igualmente nas fera da comunicação social e aponta como exemplo mais claro o comportamento da imprensa pública, que no seu entendimento “está refém e transformada numa caixa de ressonância do partido no poder”.
Acompanhe aqui a entrevista que o jornalista Graça Campos concedeu à Rádio Angola:
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