CHUVAS DESNUDAM BELO MONTE, CAUSAM LUTO E DESABRIGAM

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Quando chove, o bairro Belo Monte, no município de Cacuaco, fica completamente alagado e arrasado. Umas casas inundam ou desabam. Nas ruas, grandes charcos de água se formam. Perdem-se vidas humanas nas inundações, desabamentos de terra e outras intempéries decorrentes das cheias.

Nestes dias, fica visível que de belo, o bairro não tem nada, senão a sua denominação. Belo Monte é um bairro precário e constituído num terreno argiloso e escorregadio. Por isso, também é chamado bairro do lodo. Há uma mistura de casas de blocos, chapas de zinco e muita terra vermelha.

Por lá também há muitos casebres, cujas precárias estruturas são derrubadas facilmente pela força da água das chuvas. Também muitas casas foram construídas sob rede de água em outros locais de risco.

GÉMEOS MORREM AFOGADOS

Um casal de gémeos, de quatro anos, morreu no Belo Monte, no dia 19 de Fevereiro. A casa onde ocorreu o incidente está construída sobre a linha de água. Com a pressão da água da chuva, uma das paredes caiu e a água entrou para o interior da residência, onde se encontravam os gémeos, um bebé de oito meses e a irmã de 20 anos. Infelizmente, os vizinhos só tiveram tempo de salvar o bebé e a jovem. Os pais das vítimas encontravam-se a trabalhar. Tudo aconteceu por volta das 14 horas, como contou o pai dos gémeos, Diogo António.

No Belo Monte as chuvas deixam muitas casas submersas. Muitos moradores chegam mesmo a “nadar”, para saírem do bairro. As ruas ficam alagadas, lamacentas e intransitáveis. Não há asfalto, passeios nem sistemas de drenagem das águas.

AUTORIDADES SOLIDÁRIAS

Em função da tragédia causada pela chuva, o governador da província de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, e a secretária do Presidente da República para a área Social, Fátima Viegas, estiveram no Belo Monte e solidarizaram-se com a família de Diogo António. Também levaram mantimentos.

No local, Adriano Mendes de Carvalho anunciou que o pai das crianças falecidas vai beneficiar, em breve de um terreno, numa zona segura e urbanizada. O gesto vai se estender a outras 50 famílias que vivem ao longo da linha de água, no Belo Monte.

Sem adiantar a data da entrega dos terrenos, Adriano Mendes de Carvalho disse que a intenção é retirar essas famílias do local para evitar que as próximas chuvas provoquem mais danos.

Em representação do Chefe de Estado, Fátima Viegas apelou o reforço das campanhas de sensibilização às famílias sobre o perigo de construírem e residirem em zonas de risco.

PONTE DA CERÂMICA CAIU POR TERRA

Ponte de Cacuaco

A ponte sobre a chamada vala da Cerâmica, no município de Cacuaco, desabou. Em consequência disso, os moradores daquela zona de Cacuaco estão indignados, porque agora estão obrigados a fazer uma travessia arriscada, apoiando-se em pedras para chegarem ao outro lado.

Desde que a ponte caiu, no dia 19 do mês passado, a casa da moradora Isabel Jamba, que fica a escassos metros da vala, inunda com as chuvas. A vala enche e transborda, a água entra para a sua residência.

Na chuva do dia 28 Isabel quase perdeu tudo, até a vida de seus filhos. Mas, a casa que fica ao lado da sua já não teve a mesma sorte, desabou. “Felizmente ninguém se magoou, mas perderam-se todos os pertences. “A minha vizinha perdeu tudo”, contou Isabel Jamba, que vive na rua da Cerâmica desde 2010 e nunca sua casa havia inundado.

A obra de construção da via e da ponte da Cerâmica, que começou em 2016, ainda não terminou. Segundo explicações do vice-governador da província de Luanda, para área Técnica e Infra-estruturas, José Paulo Kai, entende-se que a ponte desabou porque não estava concluída, não foi compactada devidamente e acabada. O governador da província de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, esteve na rua da Cerâmica, na companhia do ministro das Finanças, Archer Mangueira, para constatar os estragos das chuvas e ver que soluções encontrar a curto prazo, para minimizar os problemas que os moradores enfrentam.

“Constatamos que aqui há problemas estruturais que têm de ser resolvidos. A nosso nível, vamos intervir junto do Ministério da Construção, sector responsável para coordenar as soluções”, disse, acrescentando que uma dessas soluções, pode ser paliativa para atenuar os problemas que os moradores estão a viver neste momento, até se encontrar uma mais estruturada.

Por sua vez, o administrador municipal de Cacuaco, Carlos Cavuquila, disse que a solução passa pela disponibilização de recursos financeiros para que a empresa termine a obra da ponte Cerâmica e a estrada onde está a empresa Recolixo.

Carlos Cavuquila disse que a ponte da Cerâmica nunca foi inaugurada, por não estar concluída. O governante explicou aos moradores que a obra não é da responsabilidade da administração municipal e que ele mesmo desconhecia o contrato e o valor do projecto. “A ponte desabou porque a obra não foi concluída por falta de dinheiro. Por isso, trouxemos o ministro das Finanças”, explicou.

RUAS DO SAMBIZANGA SUBMERSAS

Só mesmo os moradores dos muitos bairros de Luanda, para descreverem o calvário que têm vivido por causa dos estragos provocados pelas chuvas.

Em algumas ruas do distrito urbano do Sambizanga, os moradores simplesmente “bóiam ” sobre as águas sujas. Quem se atreve a sair de casa, obrigatoriamente terá de molhar os pés. Não passeios nem pedras de apoio. A água engoliu tudo. A água invadiu as portas das casas e as ruas. Na tentativa de evitar as águas sujas, observamos alguns moradores a penduram-se às paredes.

No Sambizanga, a água que inundou praticamente todo o bairro, chegava até ao nível do joelho de um adulto de estatura mediana. Quem se atreveu a desafiá-las constata isto mesmo. A água das chuvas ironicamente tomou de assalto as ruas da Frescura, adjacente à 12 de Julho, da Capela que dá para a rua do Baião e da Casa Magone. As inundações no Sambizanga são recorrentes. A única motobomba, colocado no meio do bairro para fazer a sucção da água, parece inútil porque o bairro continua na mesma. Os moradores dizem que a mangueira está danificada.

“ Tios tirem já essa água da rua”, disse um menino que estava à porta de casa, vestido de bata branca, pronto para ir à escola. Infelizmente, o apelo cheio de esperança foi dirigido à nossa equipa de reportagem que acompanhava a caravana do governador da província de Luanda e que tem poder apenas para narrar factos.

Fonte: Jornal Luanda

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