CAMPO DA MORTE: CASO N.º 35: A FESTA DE ANIVERSÁRIO DO KUDURISTA

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VÍTIMA: Dadi Mwanza, 24 anos, natural de Luanda

DATA: 23 de Outubro de 2016

LOCAL: bairro Vila da Mata, município do Cazenga

OCORRÊNCIA:

Dadi Mwanza passou o dia em casa a lavar a sua roupa e a preparar a sua festa de aniversário, que seria na rua, no dia seguinte, conta o irmão Major.

O jovem era cantor de Kuduro. Por volta das 14h00, entreteve-se a conversar com a mãe. Pouco antes das 18h00, tomou banho e saiu à rua. De acordo com Major Mwanza, a 50 metros de casa, num beco, foi fuzilado com um tiro na testa e dois nas costas.

O seu corpo apenas foi removido pelo SIC no dia seguinte, às 7h00. “Fui à unidade do IFA [Comando da III Divisão da Polícia Nacional, no Cazenga] para prestar depoimento e obter uma declaração, para podermos tirar o corpo da morgue para o enterro, mas o investigador não anotou dado nenhum nem disse nada. Na morgue, a equipa do SIC autorizou-nos a retirar o cadáver, sem pedir qualquer informação à família ou dizer mais alguma coisa”, lamenta Major.

“Há rumores de que o Pula-Pula [conhecido executor colocado na esquadra do IFA] esteve a rondar o bairro, segundo pessoas que o conhecem bem”, nota o irmão.

Dadi Mwanza esteve detido por uma semana em Maio de 2016, na esquadra policial do IFA [IFA é o nome dos camiões da antiga Alemanha do Leste, que eram montados numa fábrica ali localizada], por suspeita de assalto a uma cantina, mas como não tinha processo foi libertado. Antes, estivera detido duas vezes no IFA: em 2015, altura em que a família pagou cem mil kwanzas [então equivalentes a mil dólares]; em 2016, ocasião em que os investigadores locais se ajustaram à desvalorização da moeda e cobraram um valor equivalente pela libertação. O kudurista também foi detido por um breve período na unidade da Terra Vermelha — conhecida como a esquadra descartável da Terra Vermelha — sempre por suspeita de actos delinquentes.

“No kuduro do bairro não faltam bandidagem e lutas. Isso não posso negar sobre o meu irmão”, diz Major, quando questionado sobre o passado de Dadi Mwanza.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais

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