CAMPO DA MORTE: CASO N.º 26: A EMBOSCADA DA GASOLINA

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VÍTIMA: Hernâni Domingos “Pai Kwan”, 19 anos, natural de Luanda

DATA: 24 de Janeiro de 2017

LOCAL: rua Ngola Kiluanje, Kikolo, município de Cacuaco

OCORRÊNCIA:

Com a morte da mãe, em 2015, com quem vivia, Hernâni Domingos — então um adolescente de 17 anos — envolveu-se com um grupo. “Conversei com ele para seguir o bom caminho, mas não me ouviu. Afastou-se de mim”, conta o seu primo Fernando.

Semanas após essa referida conversa, Pai Kwan foi detido por suspeita de participação num assalto à mão armada. Passou um ano e meio na Comarca de Luanda.

O pai, Alberto Pinto, interveio, chamando-o à sua guarda e arranjando-lhe emprego como mecânico.

“Como já tinha ficha na Esquadra Policial do Bom Pastor, quando estes receberam ordens para apagá-los a todos, ele também não escapou”, denuncia o primo.

No dia do assassinato, depois das 16h00, os quatro carrascos dirigiram-se à oficina de automóveis Cambota (junto ao Mercado das Peças), onde Hernâni trabalhava, fazendo-se transportar numa viatura Hyundai (i10 ou i20, segundo os testemunhos) de cor preta. Conversaram com o supervisor e pediram-lhe que enviasse o Pai Kwan para lhes comprar gasolina, com um bidão, nas bombas de combustível mais próximas.

Mal o jovem saiu, os ocupantes da referida viatura abandonaram a oficina, conforme depoimentos dos colegas de Pai Kwan.

Os operacionais emboscaram Young Back enquanto este aguardava por um moto-táxi junto à Igreja Universal do Reino de Deus, para regressar à oficina já abastecido da gasolina. De forma despachada, os perseguidores “chamaram o Young Back [para junto da viatura], mostraram-lhe a fotografia dele num tablet e disseram-lhe, ‘você sabe’”, conta uma das testemunhas presentes no local.

Os homens ordenaram a Young Back que caminhasse e, quando este deu as costas aos seus interlocutores, “acabaram com ele com dois tiros na cabeça e um das costas, do lado esquerdo”, relatam outras testemunhas.

“O meu filho já morreu. Já não há nada a fazer ou a dizer. O país tem o seu dono e se ele decidiu [que as pessoas devem ser executadas] assim…”, resigna-se Alberto Pinto, desligando o telefone.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais

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