CAMPO DA MORTE: CASO N.º 17: A ÚLTIMA CONFISSÃO
VÍTIMA: Rodrino Saliomba “Hino”, 23 anos, natural do Huambo
DATA: 16 de Fevereiro de 2017
LOCAL: campo de futebol da Pequena Ilha, no bairro Chimuco, município de Viana
OCORRÊNCIA:
Segundo depoimentos de Nuno Saliomba, a 12 de Fevereiro, uma família a quem o seu irmão Rodrino alegadamente roubara um telefone aprisionou-o e levou-o para casa, onde o torturou antes de o entregar à Polícia Nacional, na Esquadra do Mirú. Hino esteve detido nessa esquadra até ser encaminhado para o campo de futebol próximo de casa, onde foi fuzilado.
Carlos Manuel Cassoma testemunhou a execução do seu sobrinho por acaso, quando passava por ali: “São homens do Serviço de Investigação Criminal (SIC). Trouxeram-no numa motorizada de três rodas. Obrigaram-no a correr e atingiram-no com quatro tiros, um na cabeça e três nas costas.”
“O miúdo, antes de morrer, disse-me: ‘Tiraram-me da cadeia. Pensei que fosse para me soltarem, afinal era para me abaterem’, e morreu”, revela o tio.
Carlos Cassoma viu os cinco indivíduos que executaram a operação, todos trajados de jeans e sem os coletes que normalmente identificam os agentes do SIC.
Segundo ele, “os agentes dispararam muitos tiros para afugentar a população e, passados poucos minutos, surgiu o patrulheiro da Polícia Nacional para recolher o corpo”.
“Para ser claro e sincero, o meu irmão era delinquente e pertencia ao grupo Sete Quedas, que depois mudou de nome para Os Metidos”, revela o irmão Nuno Saliomba, de 16 anos.
“Esteve detido muitas vezes, nunca por mais de seis meses, e saía sempre sem julgamento. No princípio, nós, os familiares, visitávamo-lo e aconselhávamo-lo a deixar essa vida. Como não acatava os conselhos, afastámo-nos.”
Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais