CAMPO DA MORTE: CASO N.º 15: QUEM MATOU FOI O PULA-PULA

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VÍTIMA: Geraldo Emanuel Mayaya “Mibalé”, 26 anos, natural de Luanda

DATA: 1 de Março de 2017

LOCAL: Rua Direita da Pólvora, bairro Augusto Ngangula, Kikolo, município de Cacuaco

OCORRÊNCIA:

“Estávamos frente a uma cantina a beber cerveja, quando os homens apareceram, por volta das 13h20. Vieram em duas motorizadas, uma avançou e outra parou à nossa frente. Um deles pegou o meu irmão pelas calças”, conta Mayaya André, o irmão de Mibalé.

Mayaya André explica que os indivíduos não se identificaram, nem deram qualquer explicação. “Levaram o meu irmão para um beco, a três metros do sítio onde estávamos. Eu segui-os e um deles sacou da pistola e avisou-me de que se os seguisse também seria morto”, recorda. Os irmãos encontravam-se perto de casa.

“Um deles, sem dizer mais nada, executou o meu irmão com dois tiros na cabeça, outro do braço esquerdo que lhe atravessou o coração e um quarto tiro na costela direita. Eu reconheci quem o matou. É o Pula-Pula, do SIC. Eu vi o meu irmão a ser morto e estou disposto a testemunhar em tribunal”, remata.

Mayaya André refere que o seu irmão esteve detido durante um ano e dois meses, sob o Processo n.º 19/2015-BQ, tendo sido libertado a 13 de Junho de 2016 com termo de identidade e residência. Era obrigado a apresentar-se semanalmente no Tribunal Municipal de Cacuaco.

Segundo o interlocutor, Mibalé foi parar à cadeia em consequência de um acto de rebelião na oficina onde trabalhava como mecânico. Havia três meses que o patrão não lhe pagava, e levou consigo dois pneus de Toyota Corolla, que vendeu.

Além disso, o irmão conta que, antes de arranjar emprego como mecânico, Mibalé já tinha ficha na Esquadra do Bom-Pastor, por ter sido membro do gangue “Que Pena”.

“Depois de ter saído da cadeia, já não teve quaisquer problemas com as autoridades. Ajudava-me. Eu trabalho por conta própria, sou pedreiro, e ele fazia de meu ajudante”, explica Mayaya.

 

Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais

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