BPC ENCERRA CRECHE E FUNCIONÁRIOS DIZEM SER GOLPE

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O Conselho de Administração do Banco de Poupança e Crédito (BPC) encerrou oficialmente o centro de educação pré-escolar que beneficiava os filhos dos funcionários da mesma instituição financeira estatal.

Texto de Rádio Angola

“Fechar a creche foi tão profundo, tão desumano, tão injusto. tão baixo. Que gestão é essa?”, questiona uma funcionária na rede social Facebook, isto depois de lamentar por ao longo de 11 anos de trabalho ter visto directores que não percebiam sobre banca e outro levando arma de fogo ao escritório e trajado a militar.

A mesma funcionária queixa-se de falta de formação para os trabalhadores, denunciando que “todos os anos [a] administração [do banco] dá um plafond para todas as áreas darem formação e não acontece”.

Crianças na creche | DR

“Não podem esperar um serviço de qualidade do BPC quando não apostam no capital humano. A culpa não é dos técnicos, [mas] dos administradores que estão nem aí para gestão da instituição e sim [para] os seus interesses pessoais”, acusa.

A imobiliária do BPC não tem priorizado os funcionários na aquisição das casas que tem a venda

A instituição não realizou concursos públicos para novos funcionários ao longo dos 11 anos, diz a mesma fonte, mas anualmente tem contratado várias pessoas. Enquanto isso, dezenas de trabalhadores sem postos aguardam em casa por uma guia de colocação. E a mesma pergunta: Será que esse banco é de família? Sem resposta, mas o certo é que “já vi gente que rouba a ser promovida, já vi e continuo a ver as promoções por conveniência”.

A imobiliária do BPC, acusa, não tem priorizado os funcionários na aquisição das casas que tem a venda. As fichas de inscrição que devem ser entregues aos funcionários gratuitamente são vendidas a pessoas que não trabalham para o banco.

 

ADMINISTRAÇÕES PASSADAS

O BPC foi chefiado por Paixão Júnior durante 17 anos. A sua exoneração aconteceu em Outubro de 2016. Da sua gestão “não deixou nenhum feito” positivo, pelo contrário, “só afundou o banco”. Foi no tempo da sua administração que o edifício principal do banco deixou de ser usado com o propósito de ser requalificado. Entretanto, quatro anos passaram e as obras nem começaram.

Quem lhe substituiu foi Cristina Florência Dias Van-Dúnem, meses depois de ser exonerada de vice-governadora do Banco Nacional de Angola, isto em Maio, pelo então presidente da República José Eduardo dos Santos.

Cristina Van-Dúnem apresentou uma carta de demissão em Março de 2017, e o Club-K adiantava que a principal razão de tal procedimento era o “antagonismo com a [então] comissão executiva do BPC presidida pelo jurista Zinho Baptista”. Zinho Baptista chegou a PCA do mesmo banco.

A figura de destaque da nova direcção é Fernando Heitor, ex-deputado à Assembleia Nacional que renunciou a UNITA

Ricardo de Abreu é o PCA seguinte à frente do BPC. A sua nomeação, em finais de Março, ocorreu mediante deliberação de uma Assembleia Universal de Accionistas, diferente das outras que foram por despachos presidenciais. A funcionária que citamos diz que Ricardo de Abreu “teoricamente tinha bons planos”, mas a sua gestão começou a degradar-se tão logo celebrou contrato com a seguradora ENSA, esta presidida pelo pai da assessora do seu gabinete, e ter contratado uma “empresa portuguesa para avaliar os trabalhadores com testes psicotécnicos”.

Ricardo de Abreu foi nomeado pelo presidente da República João Lourenço para ser o seu secretário para os assuntos económicos, isto em substituição de Carlos Panzo, exonerado por estar a ser investigado pelas autoridades suíça.

Actual Conselho de Administração

Zinho Baptista entra em cena antes de Ricardo de Abreu trabalhar na presidência. Fez quatro meses como PCA e nesse tempo “exonerou todos os chefes que andaram a surrupiar o BPC”. O seu “rancor e arrogância não ajudaram-lhe a ser um bom gestor”, diz a funcionária, acrescentando que “tratava mal os seus colegas”, inclusive humilhava as mulheres do banco verbalmente, a funcionária não duvida que Zinho seria um bom gestor se trabalhasse com os outros administradores.

O actual conselho de administração foi nomeado por João Lourenço e tem à testa Alcides Safeca, que fez parte das antigas administrações também como administrador. A figura de destaque da nova direcção é Fernando Heitor, ex-deputado à Assembleia Nacional que renunciou a UNITA na sequência de divergências com o vice-presidente do partido. Heitor destacou-se como apoiante fervoroso do novo presidente da República e, igualmente, da governação do MPLA, a mesma que pouco antes criticava intensamente.

Passados 62 anos desde a criação do banco, que já teve várias denominações, o BPC não tem uma academia para formar os seus funcionários, não tem um hospital. O Banco Angolano de Investimentos (BAI) tem uma academia e tem menos tempo de existência.

A creche, que servia os funcionários no cuidado dos seus filhos, agora deixa de existir e o desamparo social agudiza-se.