BENGUELA: CIDADÃOS DENUNCIAM ENVENENAMENTOS DOS POÇOS DE ÁGUA

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Os cidadãos residentes na comuna do Cubal do Lumbo, no município do Bocoio, província de Benguela, denunciam o envenenamento de alguns poços de água onde retiram o líquido para consumo diário. As autoridades locais, afirmam, não se mostram interessados pela gravíssima situação que ocorre na localidade específica de Longungo, povoação de Kangombe.

Texto de Pinto Muxima

A nossa reportagem deslocou-se até a referida comuna, a mesma onde nos últimos dois meses ocorreram várias situações de intolerância política com militantes do partido MPLA e a Polícia Nacional local a agredirem e ferirem cidadãos alegadamente afectos ao partido UNITA.

Os populares apontaram três poços como os envenenados. Segundo Manuel Palanga, em entrevista à Rádio Angola, no dia 4 de Outubro alguns habitantes que consumiram a água dos poços envenenados tiveram graves problemas de saúde.

Manuel Palanga | DR

Palanga acusou João Kateve, de 30 anos de idade, como a pessoa que “cometeu esse crime”. Questionado se denunciaram o envenenamento e quem desconfiam, respondeu que “a polícia já foi informada mas nunca lá foi e não se interessa com os gritos da população”, adiantando que esta “situação não acontece pela primeira vez”.

“É mesmo negligência da polícia, porque a nossa polícia não faz busca para prender e julgar estes criminosos e nem se preocupa em investigar de onde estas pessoas tiram o veneno. O mais agravante é que mesmo com evidências, os autores sempre andam impunes”, disse Palanga.

João Lucas é outro residente da localidade ouvido pela RA. O munícipe é peremptório em afirmar que “os perigos que a população vive são por rivalidades políticas”. Segundo Lucas, o envenenamento dos poços é também uma forma de o MPLA agir contra os que classifica serem rivais da UNITA.

João Lucas | DR

“Os companheiros do partido MPLA acham que todos que não pertencem ao seu partido, então pertencem à UNITA e por esse tipo de pensamento negativo muitas populações que não pertencem nos partidos arqui-rivais sofrem igualmente, porque os militantes do MPLA têm estado a envenenar também os poços onde as populações tiram água para o consumo e vítima somos todos nós”, acusou.

João Lucas informou que tem famílias em “ambas partes”, ou seja, que militam na UNITA e no MPLA, mas realça que “os familiares que sempre se queixam são os que pertencem ao partido UNITA”. “A convivência pacífica na diferença não existe”, acrescentou.

O cidadão disse também que desde a nomeação da administradora municipal, Deolinda Tchocondoca Valiangula, em 2008, que a coabitação política tornou-se mais turbulenta. Entretanto, Deolinda Valiangula foi recém-exonerada no âmbito das alterações do Executivo provincial procedidas pelo governador Rui Falcão.

“O desenvolvimento, ao invés de progredir, regrediu e as mortes e prisões arbitrárias tomaram o lugar da tranquilidade”, lamentou, adiantando que “o mais agravante é que a polícia, que devia nos defender, também tem estado a se comportar como se fossem do partido que governa o país desde 1975”.

Dentre as acções de intolerância no município, se destaca a morte de Januário Armindo Sikaleta, ex-secretário municipal da UNITA, em 2011, dentre outros assassinatos na comuna do Cubal do Lumbo e na localidade de Chindur, sede de Bocoio.

Questionado se a população tem desenvolvido medidas de prevenção quanto à água envenenada, Lucas disse que, tão logo se apercebem que algum habitante consumiu água dum poço envenenado, rapidamente o fazem ingerir óleo de palma e carvão moído, principalmente de eucalipto, para evitar que perca a vida.

Os populares lamentam, porém, a inexistência de organizações não-governamentais no Bocoio, principalmente que defenda os Direitos Humanos.

“A única organização que tem se batido directamente na defesa dos direitos humanos é a OMUNGA, que tem se deslocado do Lobito para Bocoio por causa desses conflitos constantes e tem sofrido também ameaça por parte do governo porque eles divulgam todos os erros praticados pelo partido. Até o vice-administrador disse publicamente que não quer mais a presença da OMUNGA no município do Bocoio porque tem estado a divulgar o que teríamos resolvido cá entre nós”, contou João Lucas.

A comuna do Cubal do Lumbo dista a 31 km do município do Bocoio, a norte, e faz a fronteira com a província do Kwanza Sul.