Autoridades angolanas dizem ter em curso operação contra “rebelião”

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Por DW

Ativista Zola Álvaro foi detido em casa. Outras três pessoas foram detidas após serem entrevistados pela agência Lusa sobre um protesto. Serviço de Investigação Criminal confirma ter em curso operação contra “rebelião”.

O ativista Zola Álvaro, do movimento cívico Mudei, foi detido, na manhã desta quarta-feira (14.09), alegadamente por efetivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC), na sua residência no distrito urbano do Kikolo, município de Cacuaco, província de Luanda.

A denúncia foi feita pela família do jovem, que afirma que as autoridades invadiram a sua casa sem mandado de prisão.

“Chegaram a casa, bateram à porta e perguntaram quem era o Zola Álvaro. Ele respondeu e eles mandaram-no levantar e ir com eles.  Como somos vizinhos, ouvimos os gritos e saímos para saber o que se passava. Eles disseram que eram do SIC geral”, contou um familiar de Zola Álvaro.

A detenção acontece depois do ativista ter sido ameaçado de morte por pessoas não identificadas, alegadamente por fazer parte de um grupo de cidadãos que trabalhou para a contagem paralela das eleições gerais de 24 de agosto.

Após a denúncia nas redes sociais da detenção de Zola Álvaro, surgiram gritos de socorro de outro jovem crítico da governação do MPLA. Xitu Milongo, membro da associação Plataforma Cazenga em Ação, escreveu a um colega a dar conta de que o tinham tentado sequestrar e que se encontrava “escondido”.

Estas denúncias acontecem num momento que as autoridades preparam a investidura de João Lourenço, Presidente eleito nas eleições de agosto, cujos resultados são protestados pela oposição e por vários cidadãos.

Em declarações à DW África, o porta-voz do SIC, Manuel Halaiwa, diz não ter conhecimento da detenção de ativistas, mas confirma que está em curso uma operação que visa deter cidadãos que estejam a “incitar a rebelião”.

“Várias pessoas estão detidas por incitação à violência. Não tenho como precisar o número agora, mas continuam a ser feitas várias detenções por incitação à violência, sobretudo no âmbito dos dados eleitorais”.

Manuel Halaiwa esclarece que os cidadãos são livres de realizarem protestos, “o que não é permitido é a incitação à violência e atos de rebelião. Vandalismo, desordem pública e arruaça não são permitidos por lei. A própria lei penal sanciona este tipo de conduta”, acrescenta.

Mais detenções em Luanda

Também, esta quarta-feira, em Luanda, a polícia impediu a realização de uma manifestação e procedeu à detenção de várias pessoas no local.

O protesto, publicitado nas redes sociais, e que tinha como objetivo protestar contra a fraude eleitoral, deveria ter início no cemitério de Santa Ana. No entanto, e como contaram à Lusa várias testemunhas, as autoridades impediram a sua realização e detiveram vários manifestantes, três dos quais após terem sido entrevistados pela agência de notícias.

Benvinda Bango afirmou que, quando chegou, por voltas das 12h30 deparou-se já com “um grupo de jovens no carro da polícia”.

“Parei para ver, mas um polícia intimidou-me a perguntar o que estava ali a fazer”, disse. “Acredito que não fizeram absolutamente nada. Aqui em Angola não precisa de fazer nada, basta o Governo lourencista decidir, que eles [a polícia] fazem”.

Guilherme Luciano foi também ao cemitério para se juntar à manifestação: “Desde que chegámos, vi jovens serem presos por motivos que nem se sabe, só porque vieram”, contou o cidadão, que se deslocou da Huíla para denunciar “o roubo de votos e a fraude” e “dar força aos ativistas”.

Várias pessoas foram também detidas quando passavam pelo cemitério, junto a uma das principais avenidas de acesso a Luanda e que, desprevenidas, tentaram fugir pela estrada, sendo perseguidas pela polícia.

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