Após quase 50 anos de independência cidade de Menongue entre rios, mas sem água potável
Quase meio século após a independência, Menongue ainda luta por água potável. Mesmo entre dois rios, moradores percorrem quilómetros e arriscam a vida todos os dias para conseguir o essencial.
Quase 50 anos depois da independência, o acesso à água potável continua a ser um desafio em várias regiões de Angola. Em Menongue, capital do Cuando Cubango, no sul do país, a população enfrenta sérias dificuldades para ter água, apesar de a cidade ser atravessada por dois rios. Moradores percorrem longas distâncias e arriscam a vida diariamente para conseguir o essencial.
Mesmo com dois rios que separam vários bairros de Menongue, os cidadãos da província do Cuando Cubango queixam-se do défice na distribuição de água potável.
Água de cacimbas e o risco diário
Moradores afirmam que, apesar da presença desses cursos de água, continuam sem acesso a água canalizada e dependem de cacimbas, poços improvisados e da solidariedade entre vizinhos.
Amélia Ngundo (nome fictício), residente no bairro Paz, explica que arrisca diariamente a saúde e a segurança para conseguir água.
“O tempo nos trouxe aqui. É um risco, mas não temos como. Temos de nos aventurar para sair de lá com a criança às costas, com o balde na cabeça, atravessando estradas à procura de água. Pelo menos, graças a Deus, temos aqui os nossos irmãos do bairro Pio. Onde você se dirigir, alguns negam, mas os outros não.”
O jovem Manuel Jamba percorre entre dois e três quilómetros, do bairro Paz até ao Pio, para conseguir água.
“É um risco, porque da forma que estou usando o carro de mão, piora nas estradas. Podia até ser atropelado, só estou a exigir porque não temos água. Poço tem, mas sem dinheiro você não tira água, e neste momento nem todos têm dinheiro. Por isso, temos de percorrer do bairro Paz ao Pio. Cada três puxadas são 50 kwanzas.”
Escolas sem água
A escassez também afeta as escolas. Segundo uma encarregada de educação, as direções exigem que os alunos do ensino primário levem um recipiente de cinco litros de água às aulas para a higienização das instalações.
“As crianças que estudam nesta escola, às segundas-feiras, têm de levar um bidon de cinco litros de água, e na sexta-feira também. O Governo já tinha começado com a colocação de furos, e aquilo nos motivava como encarregados da educação, mas tudo ficou parado.”

No bairro Pio, a situação não é diferente. Sem torneiras, os moradores recorrem às cacimbas e utilizam lixívia para evitar doenças.
“Normalmente, nós tiramos água nas cacimbas. Seria bom termos água de torneiras, mas neste momento estamos a depender do governo. Se o governo der essa chance, nós vamos agradecer.”
Enquanto isso, alguns jovens transformaram a escassez num negócio. Luciano Augusto é vendedor de água.
“Vendo três bidons a 100 kwanzas. A canalização foi feita pelos chineses, mas pertence a angolanos”, contou.
Promessas de melhoria
O administrador para a área administrativa e financeira da Empresa de Água e Saneamento do Cuando Cubango, Sabino Jeremias Pena, reconhece as dificuldades e garante melhorias.
“Existe um programa, que é um projeto, que está a ser implementado através do financiamento do Banco Mundial. O ano passado, já cá estiveram os técnicos do Banco Mundial, que fizeram o levantamento de toda a periferia que ainda não beneficia de água.
Em suma, é a zona leste do município, e vai abranger estes bairros, como por exemplo o Bairro Novo, Bairro Paz e toda a zona do aeroporto, para além do aumento da capacidade do nosso sistema de distribuição.”
DW-África

