O RESGATE

Compartilhe
Domingos Bento | Jornalista

Há um país que precisa ser resgatado do inferno que se tornaram os hospitais públicos onde, todos dos dias, morrem centenas de crianças e adultos por falta de medicamentos e de assistência humanizada porque os seus médicos e enfermeiros são “micheiros”. Há um país que precisa ser resgatado da pobreza extrema que afecta milhares de angolanos que perderam as esperanças por conta da corrupção e do nepotismo cometido pela classe política e abençoado pelos poderes judiciário e legislativo.

Esse mesmo país precisa ser resgatado do “cafrique” da delinquência que domina, sobretudo, os bairros periféricos onde habitam milhares de angolanos desgraçados que bebem água suja e que, na falta de energia eléctrica, vivem, todos os dias, à luz de velas comercializadas pelos “mamadús” e congoleses que se proliferam ilegalmente pelo território nacional. 

Há um país que precisa ser resgatado, com urgência, da débil qualidade do ensino que está na rua da amargura porque os professores continuam a ser vistos como vendedores de notas e por isso ganham salários a preço de mbunda. 

Há um país que precisa ser resgatado do desemprego que afecta milhares de angolanos por falta de investimento privado que foi enxotado aos pontapés pela crise que ri-se da nossa nojenta dependência do petróleo. 

No entanto, não é a partir das ruas, via “OPERAÇÃO RESGATE”, que se vai resgatar esse país em estado avançado de vícios e comprometimentos que prevêem engolir as gerações dos nossos filhos e netos. Nem será por via das pessoas que estão nas ruas a “zungarem” que se vai encontrar a efectiva cura dos múltiplos problemas que o país enfrenta. 

Todos sabem e não é preciso pôr-se todos os molhos na “salada jardada” que se tornou as nossas vidas para facilmente perceber que as pessoas não estão na rua porque querem. Estão lá por necessidade, como é evidente. E qualquer tentativa de as retirar deve estar alinhada com a criação de fontes que sirvam de alternativas para estas pessoas continuarem a comer. 

E, em função das conversas que vou tendo com vários grupos de indivíduos indefesos que ganham a vida na zunga, não me parece que o Estado tenha se preocupado com o dia seguinte dessa gente, criando as mínimas condições para acolher o grosso de senhoras, jovens e chefes de famílias que dependem das rua para comer. 

São vendedores ambulantes, bagageiros, recauchuteiros, comerciantes diversos, tias dos pinchos, tias das birras, vendedores de saldos, de peças de carro e tantos outros grupos de pessoas necessitadas que, na falta de emprego e de políticas públicas viradas a sua condição, vão à rua todos os dias ganharem a vida.

É do sobe e desce nas avenidas que esses cidadãos pagam a escola dos filhos, as contas de casa, a comida e outras despesas. E, priva-los das ruas, sem os encaminhar às fontes alternativas, é criar as condições “suculentas” para a “produção”, em grande escala, de delinquentes, prostitutas, alcoolatras, dementes e outros grupos de desviados que, nos próximos dias, vão atentar contra a segurança e a ordem pública que se quer combater. 

Era só isso,
Obrigado.
O bom senso agradece!

Leave a Reply