NO LUREMO: MILITANTE DA UNITA TORTURADO POR SUSPEITA DE QUERER FIXAR BANDEIRA DO PARTIDO
Zacarias Imbanda Mbuela, de 44 anos de idade, foi torturado por membros do MPLA perante agentes da polícia na comuna de Luremo, município do Cuango, Lunda-Norte, por suspeitas de querer hastear uma bandeira da UNITA, partido do qual é militante.
Texto de Jordan Muacabinza
O acto de intolerância política aconteceu no sábado último, dia 28, quando Zacarias deslocou-se ao Luremo para participar do enterro da sua avó. O cidadão reside na Vila de Cafunfo, também no Cuango, onde é conhecido pela sua militância ao partido fundado por Jonas Savimbi.
Tão logo foi reconhecido no Luremo pelos militantes do MPLA, enquanto membro do “Galo Negro”, suspeitaram que tivesse ido içar uma bandeira do seu partido na localidade e “daí promoveram uma cilada para me torturar”, conforme conta a vítima. Foi “capturado pelos canibais” perto de uma cantina e ali torturado.
Zacarias explica que não tinha sequer intenção de hastear a bandeira do seu partido, e não havia orientação partidária para assim proceder, pois, se assim fosse, seria criada uma comissão política para a tarefa.
O militante sabe que a agressão se deve a onda de intolerância política que há muito tempo tem vindo a ocorrer no Luremo, onde “o MPLA insinuou os populares para não aceitarem que qualquer partido fixe bandeira”.
“Isso é o que tem vindo a promover vários atritos com os restantes partidos com assento no parlamento. Nem UNITA, PRS, CASA-CE, sem falar da FNLA sequer, tem bandeira na comuna de Luremo”, frisa.
Zacarias acusa o chefe da secretária da administração do Luremo e o primeiro secretário da JMPLA na comuna, José Kubindama e Bartolomeu, respectivamente, de terem sido os mandantes da agressão.
“O agravante é que quando nos cruzamos logo começaram a me perguntar pelos objectivos que me levaram ali, e expliquei a eles que vinha por causa do óbito da minha avó, mas depois de me deixarem caminhar uns escassos metros surgiu um grupo da JMPLA e começaram a me torturar fortemente”, conta.
A vítima reforça a acusação porque “se na verdade eles não soubessem do assunto pelo menos quando fui agredido eles deviam estar à minha defesa”. Enquanto era espancado, José Kubindama e Bartolomeu “assistiam filme normalmente”.
Sem qualquer intervenção, às 20H os agressores levaram Zacarias à esquadra policial local onde também foi espancado perante o olhar do sub-inspector e segundo comandante da esquadra, Kizua, e do primeiro-sargento Kabule, que exibia o braçal.
“Depois disto tive que ir à procuradoria fazer participação sobre o caso para que os autores sejam responsabilizados criminalmente, mas hoje [dia 1º de Maio], por ser feriado, não há possibilidades de decorrer uma acção judiciária. Talvez amanhã que estarei novamente lá”, afirma Zacarias Imbanda Mbuela.
Em 2015, uma comissão dirigida pelo secretário provincial da UNITA e deputado Domingos Oliveira deslocou-se àquela comuna com objectivo de instalar a sua sede e posteriormente hastear a bandeira, mas não foi possível porque o administrador local havia orientado os militantes do MPLA e populares a não aceitarem qualquer tentativa de UNITA de içar a sua bandeira e tão pouco construir a sede naquela comuna. Recordar que à altura os militantes do MPLA arremessaram pedras e outros objectos contra a comissão. Dentre os feridos, alguns corriam risco de perder vida. Uma viatura que fazia parte da comissão da UNITA chegou mesmo a ser queimada no bairro Mukenene, actual bairro Gika Ngonga Babi, no momento em que saiam de Luremo.
Os populares pedem que os partidos na oposição levem essa questão ao parlamento “para que nos próximos pleitos eleitorais possam frequentar aquela comuna de forma que quiserem”.