Resumo Comparativo das Propostas de Reforma Eleitoral – UNITA vs MPLA
Imagem: CIPRA
Por Friends of Angola
1. Registo Eleitoral (Lei n.º 21/21)
UNITA:
- Mudança institucional: Propõe retirar a responsabilidade do Registo Eleitoral do Ministério da Administração do Território (MAT) e transferi-la à Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
- Racionalidade: Argumenta que o MAT, sendo parte do Executivo, carece de independência, o que compromete a confiança no processo.
- Proposta técnica: Defende a manutenção do registo oficioso (automático e contínuo), mas com gestão por uma entidade tecnicamente credível e eleitoralmente imparcial.
- Objetivo: Reforçar a confiança dos cidadãos e a legitimidade do processo eleitoral.
MPLA:
- Manutenção da estrutura atual: Defende que o MAT continue responsável pelo registo, considerando sua capacidade administrativa e capilaridade nacional.
- Supervisão técnica: Argumenta que a CNE já exerce função de supervisão e fiscalização, e que essa separação garante eficiência operacional.
- Narrativa dominante: O modelo atual funciona e mudanças radicais são desnecessárias.
2. Organização e Funcionamento da CNE (Lei n.º 12/12)
UNITA:
- Reestruturação completa: Propõe uma CNE mais independente, plural e isenta de controlo partidário.
- Nomeações: Defende que os comissários sejam indicados por órgãos independentes, como associações de magistrados, universidades e sociedade civil.
- Natureza do órgão: Pretende transformar a CNE de um órgão administrativo em um órgão jurisdicional, com maior autonomia e poder de decisão final.
- Finalidade: Evitar a subordinação política e garantir imparcialidade na organização das eleições.
MPLA:
- Manutenção do modelo atual: A CNE deve continuar com composição baseada na proporcionalidade parlamentar.
- Justificativa política: A presença dominante do partido no poder (via maioria parlamentar) na nomeação dos membros é vista como expressão da soberania popular.
- Postura institucional: Apoia o modelo híbrido atual – técnico, mas com representação dos partidos com assento parlamentar.
3. Lei das Eleições Gerais (Lei n.º 36/11)
UNITA:
- Transparência e controlo social:
- Propõe afixação obrigatória dos resultados nas assembleias de voto.
- Defende transmissão em tempo real dos resultados diretamente dos centros de votação para a CNE.
- Simplificação do voto: Sugere o uso de boletins mais claros e objetivos, para facilitar o entendimento do eleitor.
- Apuramento local: Propõe descentralizar a contagem e o apuramento dos resultados para evitar manipulações.
- Revisão dos mecanismos: Questiona o modelo de centralização do apuramento final em Luanda, propondo que o escrutínio seja feito de forma mais aberta e participativa.
MPLA:
- Defesa do modelo vigente:
- Apoia o apuramento centralizado feito pela CNE a partir dos dados recolhidos pelas comissões provinciais.
- Estabilidade institucional: Argumenta que o atual sistema garante ordem, fiabilidade e evita conflitos pós-eleitorais.
- Ceticismo quanto à descentralização: Considera que alterações drásticas poderiam comprometer a organização técnica do processo e criar margem para instabilidade.
Considerações Finais
| Aspecto | UNITA | MPLA |
| Registo Eleitoral | A favor de uma entidade independente (CNE) | Mantém sob responsabilidade do MAT com supervisão da CNE |
| Independência da CNE | Propõe modelo com nomeações independentes, natureza jurisdicional | Mantém modelo proporcional, com maioria parlamentar a definir composição da CNE |
| Transparência do Voto | Defende afixação, contagem local e transmissão em tempo real | Prefere modelo centralizado para garantir estabilidade e controlo técnico |
| Participação Cívica | Reforça papel da sociedade civil, dos magistrados e da cidadania no processo | Confia nas instituições já estabelecidas com base na legitimidade parlamentar |
| Modelo Eleitoral Ideal | Reformista: mais aberto, transparente e participativo | Conservador: estabilidade institucional e confiança no sistema atual |
Conclusão
A UNITA aposta numa reforma profunda do sistema eleitoral, promovendo mais transparência, independência e participação cidadã.
O MPLA prefere manter a estrutura existente, defendendo que o modelo atual já assegura legitimidade, estabilidade e eficiência.
O embate entre as duas propostas revela a tensão entre democratização e centralização, refletindo visões diferentes sobre o futuro da governação eleitoral em Angola.

