“Luta na UNITA”: Aumentam desentendimentos entre Adalberto Costa Júnior e Isaías Samakuva
Há sinais de um crescente desentendimento entre o actual presidente da UNITA, Adalberto Costa Junior, e o anterior Presidente, Isaias Samakuva, que não coloca agora totalmente de parte a possibilidade de se voltar a candidatar à presidência do partido.
Os diferendos surgiram depois de Adalberto Costa Júnior ter manifestado dúvidas quanto à intenção do governo angolano em legalizar a Fundação Jonas Savimbi, coordenada por Samakuva, decisão essa que descreveu como “inquietante”, já que tinha sido tomada pelo presidente João Lourenço, que chefia a comissão de reconcliação abandonada pela UNITA.
Numa entrevista à radio MFM, Samakuva disse que todos os passos dados para a criação da fundação Jonas Malheiro Savimbi foram comunicados à presidência da UNITA.
Samakuva disse ainda que o processo levou dois anos, acrescentando que os membros da fundação, da qual ele é coordenador, vão “trabalhar sériamente para “desanuviar os equívocos” e para lançar oficialmente a fundação, algo que, segundo notícias anteriores, deverá acontecer no próximo mês.
Adalberto Costa Junior tinha insinuado haver questões financeiras, que ligam o governo à fundação, afirmando que “quando a esmola é grande, o pobre desconfia”.
Questionado sobre as suas relações próximas com o Presidente João Lourenço, Samakuva reiterou à MFM que ele “não pode fugir a compatriotas e muitos deles são do MPLA”.
“Quando fui à Cidade Alta o presidente da República disse que está aberto a receber qualquer cidadão”, afirmou o antigo president da UNITA, que diz: “é preciso mudarmos a forma de pensar, os angolanos têm de mudar”.
Quanto à reconciliação nacional, Samakuva disse que o processo “não vai muito bem”, mas disse que a criação da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos (CIVICOP), abandonada pela UNITA, foi “um ato nobre”, embora concorde que “o seu papel está a ser desviado”.
“Ao invés de sarar feridas, estas continuam a ser abertas”, acrescentou.
Isaias Samakuva revelou ainda que não concordou com a criação da Frente Patriótica Unida, e disse, sem referir nomes, que os membros que a criaram não respeitaram alguns princípios.
Segundo Isaías Samakuva, aquilo que foi dado à UNITA, (73 deputados para a UNITA, 11 PRA-JÁ servir Angola, cinco para o Bloco Democrático e um para a sociedade civil), não beneficia o principal partido da oposição.
O antigo presidente da UNITA disse não ser sua intenção candidatar-se à presidência da UNITA no próximo congresso, como já foi avançado por alguns meios de informação, mas deixou, no entanto, a porta aberta a essa possibilidade, afirmando que há sempre circunstâncias que o podem obrigar a candidatar-se.
“Já fiz o meu papel como presidente da UNITA”, disse. Contudo, acrescentou que “dizer que não também não depende da minha vontade”.
Numa outra entrevista à Rádio Ecclesia Samakuva disse que depois de se retirar da presidência tinhe decidido “ficar no meu cantinho”, mas que, “como em tudo”, há opiniões diferentes.
“Há aqueles que dizem não apareça mais aqui. Há outros que sentem essa falta”, afirmou, mas disse não correponderem à verdade as informações de que tenciona formar um novo partido ou de se ter deixado coptar pelo partido no poder, o MPLA.
“Hoje a coisa está de tal forma que se alguém me vê a conversar com alguèm do MPLA… ali mesmo eu já me vendi, dizem ‘oh pah o homem já foi’”, disse Samakuva, acrescentando que com os seus princípios ninguém o pode comprar.
Samakuva recordou que conheceu João Lourenço há muitos anos. “Eramos vizinhos, conheço os pais…então quando viemos das matas, quando fui para a comissão conjunta encontroma-nos, tinhamos de conversar”, disse.
O antigo dirigente da UNITA foi recebido duas vezes pelo presidente João Lourenço, uma vez a pedido do chefe de estado e outra a seu pedido, num encontro em que interrogou porque razão João Lourenço não recebia o atual presidente da UNITA.
João Lourenço terá dito que nunca tinha recebido um pedido nesse sentido. João Lourenço e Adalberto Costa Júnior encontraram-se em Outubro de 2022.
VOA