Evitando novos entusiasmos – Marcolino Moco
Já não me entusiasmei tanto, desta vez, com o Presidente João Lourenço parecendo repetir gestos de harmonização nacional, como o fez, nos primeiros anos do seu consulado.
Falo da deposição de uma coroa de flores, no túmulo de seu antecessor, o antigo presidente José Eduardo Dos Santos, tantas vezes gratuitamente vilipendiado, e da continuação da condecoração de personalidades de várias matizes políticas e sociais. Neste último particular, algumas dessas personalidades declinaram a recepção, alegando razões que me pareceram, até, bem plausíveis.
Tudo isso cheira-me a cinismo e diversionismo habitual, enquanto o problema fundamental de Angola é adiado continuamente. Tudo a favor da preservação do poder, dos continuadores do regime materialmente absolutista, fundado, paradoxalmente, pelo próprio presidente José Eduardo dos Santos, a seguir à paz de armas de 2002. Não falta muito que voltaremos a ouvir falar de diálogo com a juventude, depois da distribuição de algumas viaturas, casas e outras benesses a alguns dos seus líderes. Antes ou a seguir, teremos o retorno dos encontros selectivos, quanto à matéria ou quanto à área pública ou privada da origem dos jornalistas. Tudo bem preparado e com contentamentos previamente distribuídos.
Não é este tipo de solução de que Angola precisa, para sair das suas graves crises sucessivas e do imenso sofrimento de vastas camadas da população, num país tão rico. Porque o problema é, diria Lopo do Nascimento, não estarmos a construir uma nação (os que detém o poder não têm consciência de que trabalham para uma nação moderna, o acréscimo é meu, que converso muito com ele); apenas criamos um Estado. Eu prefiro exprimir este pensamento lapidar numa expressão jurídica e sociologicamente mais ajustada: temos várias nações e não temos um Estado que acolha essa diversidade nacional. E não se pense apenas (e maldosamente) nas nações étnicas.
Neste momento nasceu e cresceu a nação juventude, à qual se pretende contentar com promessas irrealizáveis de natureza material, quando o que ela necessita é, especialmente, da sua liberdade de participar na construção de um Amanhã que mais lhe interesse. Não se continue a dizer que estamos como estamos porque somos um país jovem, uma democracia jovem ou porque a paz só chegou há 21 anos, para quê? Para justificar o desemprego que foi dinamizado com a destruição das empresas do tempo de JES, para agora assistirmos à constituição de novos monopólios? Com a partidarização e desmoralização completa da CNE e dos tribunais superiores, à luz dos dias? Alguém viu como a TV Zimbo é obrigada a deturpar e destorcer uma conferência, em Benguela, com o líder do maior partido da oposição? A mentir, continuamente, sobre o que se passa, o país não melhora.
A construção desse Estado virado para o futuro, desconcentrado e descentralizado, exige uma negociação séria e não diálogos para dispersar atenções e distribuição de contentamentos esporádicos, para adiar a emergência de situações pré-revolucionárias, como as que vivemos hoje.