SENHOR, OBRIGADO PELA CRISE ECONÓMICA!
Estávamos nus, e não sabíamos. Chegou a crise e confirmou-nos a fraqueza do fio suspenso que sustentava a “tanga” angolana. Agora rebentada, as “vergonhas” estão à vista de todo mundo. É fome pra aqui, falta de medicamentos para lá, falta de divisas, são os salários da função pública que atrasam, os privados a despedirem em massa, os cunamata a fazerem das suas, homicídio aumentou, e multiplicam-se as cenas daqueles que também matam por paixão ou sem ele.., em fim, uma infinidade de Problemas e vergonhas que vieram à tona e que fazem o opróbrio do nosso país.
Vestimo-nos por muitos anos de cegueira, de ostentação, nossas vidas confundiam-se entre as classes sociais; umas altas outras médias e algumas baixas, e neste emaranhado de classes, até os menos endinheirados “conseguiram chegar lá”; lá fora só dava Angola, angolanos aqui e angolanos acolá. Entre viagens e compras nas mais altas e conceituadas boutiques do ocidente, esbanjávamos pomposamente os dinheiros, – salários do privado ou do sector público. Mas como no privado e na pública não havia lugar para todos, o angolano já desenrascado de natureza, conseguia aqui e acolá uns “matondelos” que lhe permitiam dar umas voltas a China, ao Dubai, ao Brasil e os mais arrojados até conseguiram chegar lá, na terra dos sonhos – Estados Unidos. Portugal…, até já não se fala mais, era nosso anexo!!…vai na sexta volta domingo, porque segunda-feira tinha que estar no posto de trabalho. Outros países há que também estavam na rotina permanente dos angolanos, a África do Sul e a Namíbia. Este último nós colonizámos com a nossa língua e com o nosso dinheiro.
A ascensão da classe média foi tal, que ao invés de ruas limpas e livres de lixo, só dava carros de marca bonitos e de luxo. Os números do PIB disparavam, disparavam e disparavam mais! Mas eram só números na vertical, o horizontal (IDH) que é bom…nada!
O gingar do angolano, da angolana era perceptível por tudo quanto é canto, não havia lugar em que passasse um angolano, e que por lá não deixasse algum rasto da sua alegria, ou um cheirete de todo kumbu. Em lojas portuguesas, só ouvíamos já: “passaram por cá alguns angolanos e compraram tudo!” E diziam ainda: – “os angolanos pagam bem!”.
Senhor, obrigado pela crise!
Dizem que a crise e a fome inspiram…, de facto é verdade. Já se pode vislumbrar alguns aqui e acolá a promoverem seminários ou formações grátis ou mesmo pagáveis sobre o empreendedorismo (…ainda bem, pois quanto mais empreendedores melhor). Mas alguns irmãos e irmãs, oko!! Não querem aprender com a crise, querem “mbora só Tchilar, bodar bué, chegar atrasados no salu, bilingar os outros, biolo aqui e biolo acolá, depois querem só já manifestar na rua, a porque: “não temos emprego”, a porque “onde estão os quinhentos mil empregos prometidos?”. Tudo bem, de facto temos todos direito a ter emprego, e outros direitos, garantias e liberdades, plasmados na lei magna, mas o irmão angolano e a irmã angolana precisa entender que os tempos são outros agora, não se pode mais estender a mão para pedir, antes estender para dar, dar para a sociedade, pois o DEVER sempre antes do direito, e cada um pode começar um emprego, o seu próprio emprego, empreender, para desafogar o aparelho estatal. Sigam o meu conselho, não o do Mia Couto – porquê não sermos todos empreendedores!!??
Senhor, obrigado pela crise! Amém!