SENHOR DIRECTOR FERNANDO GARCIA MIALA, O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO DE ANGOLA ESTÁ NAS SUAS MÃOS
Com advento do capitalismo e desenvolvimento da economia mundial, a multiplicação dos mercados em termos de concorrência forçou a necessidade de segurança dos Estados em relação a salvaguarda da soberania económica.
A obtenção e protecção de informação passou a representar um factor primordial em relação as vantagens comparativas e competitivas nos mercados internacionais.
A complexificação crescente da economia global exige dos Estados uma estrutura organizacional capaz de fazer face às eventuais ameaças que visam destruir a dinâmica do mercado interno. O recente golpe dado pelas instituições financeiras internacionais com a desculpa da não credibilidade da banca nacional angolana é o exemplo mais recente da declaração de uma guerra económica.
Se existe uma guerra económica é óbvio que deve existir um sistema de segurança capaz de fazer face a este problema.
A Inteligência Económica (IE), onde os primeiros passos remontam da idade média, aparece como uma das soluções. Desenvolvida pelos Ingleses na sua forma moderna aproximadamente a meio século, sendo sistematizada pelos japoneses nos anos 50, e finalmente conceitualizada pelos americanos nos meados dos anos 80 (Jullet, 2004). A IE tem sua aplicação em termos micro e macro-económico, na estratégia do marketing e na estruturação de um sistema de segurança e informação. Como definiu e muito bem Jullet (2004), “A inteligência económica consiste em proteger a informação estratégica para todos os actores económicos”. Ela tem uma tripla finalidade da competitividade do tecido industrial, a segurança económica das empresas e o reforço da influência de um Estado sobre os outros. Este último, na visão Gramsciana, seria “Hegemonia”. Para António Gramsci a hegemonia é a capacidade que um particular (Estado ou pessoa física) tem em fazer coincidir seus interesses com os interesses da maioria, sem ser necessário recorrer ao uso da violência.
O FIM DA GUERRA FRIA E A MUDANÇA DE PARADIGMAS
Com o “final” da guerra fria, o espaço de conflito se transladou da esfera militar para esfera económica. Angola como potência regional continua a pensar a segurança nos moldes meramente político, ignorando assim a importância geo-económica nas relações internacionais com os outros Estados Soberanos. Ora bem, enquanto os USA, Japão, China, Inglaterra, França, Alemanha, etc, observam a diplomacia como noção de poder económico e não militar, as nossas embaixadas e consulados se transformam cada vez mais numa espécie de cantinas especializadas na venda e comercialização de visto. Para ser um agente em IE não basta ter uma licenciatura, mestrado, doutoramento em uma área especifica qualquer, nem muito menos ser parente de um ou outro funcionário do MIREX ou dos serviços secretos. É necessário algo mais; ter uma condição psico-intelectual capaz de exercer com êxito a função ou as tarefas que lhe forem atribuídas, ser pluridisciplinar, alguém que respeita escrupulosamente as ordens de seu superior hierárquico (a sua criatividade aqui não é chamada), acima de tudo deve ser um patriota. Angola está diante de uma declarada guerra económica, esqueçamos as teorias e observamos os factos. Os USA, a China e a França têm como estratégia principal sobrepor o nosso país a um processo de dependência constante; esta dependência passa necessariamente pela inviabilização de toda tentativa de desenvolvimento económico, mais concretamente do sector da industria e tecnologia. Não existe amizade entre os Estados, razão pela qual a noção de segurança económica está ligada ao conceito de soberania nacional.
Nesta guerra não há perdidos ou vencedores eternos, e é urgente redefinirmos a nossa política externa a começar pelos Serviços Secretos. Os Serviços Secretos e a diplomacia devem estar ao serviço da guerra económica. Devemos contra-atacar, a começar por rejeitar a supremacia destes Estados. Existe uma necessidade urgente de recrutar jovens dentro e fora do país, com predominância aqueles que falam línguas e possuem dupla ou mais nacionalidades. Como fundamento de riqueza, o conhecimento hoje representa a maior vantagem comparativa deste século. Estudar, analisar, colher informações sobre a fragilidade destes Estados é o primeiro passo rumo ao desenvolvimento tecnológico industrial e garantia da vitória nesta guerra económica. Segundo o magazine económico francês “A Tribuna”, na sua edição de 21/11/2011, a primeira potência agrícola da União Europeia, a França, perde por segundo 26 m² de terrenos agrícolas, invadido pela urbanização, isto quer dizer que a França perde 82.000 hectares de terras agrícola por ano (Pougala, 2014). Significa dizer que a médio prazo a França terá problemas na produção de bens agrícolas fruto do elevado crescimento demográfico e a necessidade de espaço para construção. Estamos diante de uma oportunidade de alimentarmos um país com mais de 66,9 milhões de habitante.
Senhor Director Fernando Garcia Miala, o desenvolvimento económico de Angola está nas suas mãos, temos a plena convicção que no seu dicionário existe a noção de responsabilidade individual e colectiva.
Em comparação aos outros Estados, os USA tem um objectivo mais ofensivo com uma estratégia bem definida: «deter a superioridade no domínio da informação, a capacidade de colectar, tratar e difundir informação em fluxo contínuo e ao mesmo tempo impedir que o adversário possa adquirir essa mesma informação» (DoD, Joint Vision 2010). Estes Estados possuem um ponto comum, o fortalecimento das instituições no centro de um sistema ao serviço da competitividade das suas empresas, estabelecendo uma relação entre sector público e privado, universidades, empresa multinacionais e Estado.
Um povo que não estuda sua história está condenado ao fracasso.
A história da humanidade nos ensina que o mundo é dominado por forças de natureza económica, a começar pela escravatura passando pela colonização da África o objectivo sempre foi e ainda continua a ser económico. A apresentação do lado político desta guerra económica tem como objectivo principal a dissimulação do verdadeiro interesse de natureza económica.
O conceito de guerra económica quase não existe no universo intelectual angolano a começar pelo departamento de relações internacionais das nossas universidades. A utilização do gás como instrumento de poder utilizado pela Rússia na determinação e afirmação do seu poder no concerto das nações, a relativização do dólar como poder económico absoluto dos USA pelo Irão, são exemplos de factos recentes que devem nos levar a reflectir a capacidade geo-estratégica da nossa diplomacia e do sistema de segurança como um todo. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudo Geoestratégico Africano (IEGA) sobre a estratégia da escola de guerra económica de Paris nos permitiu mensurar o impacto da crise que se avizinha no nosso país. A situação actual não é de crise, é de bonança, o que está para vir é algo imensurável, caso não agirmos utilizando os princípios fundamentais da guerra económica na luta pela afirmação do Estado, corremos o risco de desaparecer como nação soberana.
Senhor Fernando Garcia Miala, a vida dos angolanos está em suas mãos.
Obs: Atiramos a vossa atenção a um facto, as recentes demissões preconizada pela Empresa Total faz parte deste plano.