”SECRETA” MEXE EM ANTÓNIO PAULO
O académico que se recusou a ser o titular do MAPTSS no novo Governo estará a ser vítima de coacção moral. Outras figuras também andarão a ser “monitoradas”…
António Rodrigues Paulo, o académico que recusou assumir a pasta de ministro da Administração Publica, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS), pode estar a ser vítima de coacção moral pelos Serviços Secretos e pelo seu próprio partido, o MPLA, de cujo Comité Central é membro. Sexta-feira última, 13, foi vítima de um “assalto” no mínimo estranho.
Depois de cumprir uma jornada docente num instituto de que é professor-colaborador, dirigiu-se ao seu automóvel e posto no interior percebeu que havia sido “mexido”. Uma briefcase, documentos diversos e o computador pessoal foram surripiados. Mas não havia sinais de violação do carro, dando a entender que o “assalto” foi obra de “profissionais”. Estranhamente (ou nem tanto assim), o dinheiro que se achava no interior da viatura foi deixado intacto, o que reforça as suspeições de que o sucedido não foi “trabalho” de reles meliantes. Ou seja, pode ter sido “encomenda” para saber o que o homem que não aceitou ser ministro anda a fazer.
Desde já, sabe-se que António Rodrigues Paulo tem sido tratado pelos “seus” da “grande família” como um “pária”, sendo colocado à margem de quase tudo em que deveria participar enquanto elemento de varias comissões de trabalho do MPLA. Jornalista, jurista e professor universitário de reconhecida reputação no meio académico, ele foi indicado para vários grupos de trabalho do partido a que pertence, mas não tem sido convocado para as reuniões e sessões de trabalho afins. Tal acontece, por exemplo, com a comissão da Reforma Institucional e da escola de formação do “partido”.
Pode ser, pois, que esteja a pagar a factura pela “afronta” ao Presidente João Lourenço. Afinal, António Rodrigues Paulo foi nomeado, esteve ausente na tomada de posse e de seguida foi exonerado, no que pode ser considerado uma falha gravíssima dos Serviços de Apoio da Presidência da República, ficando bem claro que o homem não foi contactado para o efeito. Se tivesse dado o seu assentimento à nomeação, seguramente teria assinado o termo de posse com todos os outros nomeados.
Tivesse sido o “assalto” sofrido pelo antigo Secretário de Estado do MAPESS algo isolado, muito provavelmente poderia ser assacado a vulgares carteiristas. Mas não é o caso. Nos últimos tempos se têm multiplicado assaltos do género, o mesmo que dizer selectivos, durante os quais são roubados apenas objectos que possam conter informações, tais como computadores, smartphones e briefcases. A agravar as suspeitas de que o assalto ao automóvel de António Paulo seja coisa mandada está uma fresquíssima dissertação do académico que seguramente não agradou às gentes do Regime. Nessa intervenção, ele considerou, sem papas na língua, que a liberdade de imprensa é um direito fundamental e que os jornalistas angolanos têm sido injustiçados nos assuntos da relação entre o seu ‘métier’ e matérias classificadas como segredo estatal.
Antes do infortúnio bater à porta, ou melhor ao automóvel, de António Rodrigues Paulo, haviam sido vítimas de “assaltos” semelhantes duas figuras que ultimamente andam na boca do mundo. Uma foi o advogado Sérgio Raimundo, que tem em mãos a defesa de muitos casos “quentes”, e outra foi Válter Filipe, ex-governador do Banco Nacional de Angola. No caso deste último, o “assalto” foi mesmo em sua casa, num condomínio com padrões de segurança altíssimos, sendo que uma das pastas roubadas foi deixada no quintal porque os “ladrões” perceberam que continha “apenas” roupas íntimas femininas. Em ambos os “assaltos” o dinheiro e outros bens de valor ficaram intactos, tal como aconteceu no de António Rodrigues Paulo.
Em face disso, é caso para questionar se a “Secreta” voltou aos métodos de actuação dos idos de 1980 e 1990.
Fonte: Correio Angolense