Polícia angolana detém e tortura moradores que denunciaram mortes
FOTO: Ampe Rogério/Lusa
Governo classificou como “ato de rebelião” tentativa de manifestação.
Por Cm | Lusa
Ativistas disseram que a polícia angolana deteve, esta madrugada, André Candala, catequista e morador em Cafunfo, que denunciou a “morte de inocentes” na semana passada durante uma tentativa de manifestação que o Governo classificou como “ato de rebelião”.
Em declarações à Lusa, os ativistas referiram que o filho de André Candala, Paulo André Candala, foi também detido e ambos foram espancados.
Uma das fontes, que pediu para não ser identificada, adiantou que há mais pessoas que estão a ser presas, depois de terem falado sobre o caso à comunicação social.
Também a ativista Laura Macedo, que se encontra na entrada de Cafunfo e está a ser impedida de entrar na vila desde a passada quarta-feira, bem como cinco deputados da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), alertou para a detenção.
As autoridades policiais locais não confirmaram a detenção.
A agência Lusa esteve no local durante alguns dias e falou com vários populares, que denunciaram a violência policial que resultou na morte de um número indeterminado de pessoas no dia 30 de janeiro, bem como perseguições de ativistas e defensores dos direitos humanos na vila mineira, situada na Lunda Norte.
“A situação não está para menos, todos os entrevistados estão em risco. O governo local não queria que se divulgasse as chacinas e tem o propósito de prender todos os ativistas locais. Estamos a pedir intervenção por parte da comunidade internacional para pedir ao Governo angolano que pare com as perseguições”, disse um jovem que pediu para não ser identificado.
Segundo a polícia, o “ato de rebelião” foi protagonizado por cerca de 300 elementos do Movimento Protetorado da Lunda Tchokwe (MPLT) que tentaram invadir uma esquadra de Cafunfo, incidente que acabou por causar seis mortes.
A versão da polícia é contrariada por populares e responsáveis do MPLT segundo os quais se tratou de uma tentativa de manifestação pacífica e previamente comunicada às autoridades, durante a qual morreram mais de 20 pessoas.
Organizações Não-Governamentais, bispos católicos e a oposição angolana condenaram o que dizem ter sido “um massacre” e pediram um inquérito independente sobre os acontecimentos.
Uma delegação da UNITA, que integra os deputados Alberto Ngalanela, Joaquim Nafoia, Domingos Oliveira, Sindiagani Bimbi e Rebeca Muaca, foi barrada à entrada de Cafunfo e aí se mantém desde quarta-feira.
O líder do maior partido da oposição angolana, Adalberto da Costa Júnior, afirmou na sexta-feira que a retenção de cinco deputados à entrada do Cafunfo é “a confissão clara do massacre praticado” na vila mineira, rica em diamantes, da Lunda Norte e da ocorrência de “operações de limpeza” na zona.
O presidente da Assembleia Nacional angolana, Fernando da Piedade Dias dos Santos, recusou no sábado qualquer responsabilidade sobre a missão de cinco deputados da UNITA, alegando que “a deslocação não foi feita no quadro de uma comissão parlamentar multipartidária, como seria recomendável”.
Segundo Fernando da Piedade Dias dos Santos, “é regra que os deputados não se podem deslocar sem autorização do presidente da Assembleia Nacional”.
Desde sábado, dia 30 de janeiro, que Cafunfo está fortemente militarizada, sendo visível o patrulhamento das ruas pela polícia e Forças Armadas Angolanas (FAA).
A Lusa testemunhou no local que são frequentes os disparos durante a madrugada.
Vários moradores fugiram para as matas e encontram-se escondidos desde a semana passada. Há também um número indeterminado de detidos.
O Movimento Protetorado da Lunda Tchokwe luta pela autonomia da região das Lundas, no Leste-Norte de Angola.
A autonomia da região das Lundas (Lunda Norte e Lunda Sul, no leste angolano), rica em diamantes, é reivindicada por este movimento que se baseia num Acordo de Protetorado celebrado entre nativos Lunda-Tchokwe e Portugal nos anos 1885 e 1894, que daria ao território um estatuto internacionalmente reconhecido.
Portugal teria ignorado a condição do reino quando negociou a independência de Angola entre 1974/1975 apenas com os movimentos de libertação, segundo o movimento.