Os negócios de Norberto Garcia e a instrumentalização dos jovens para destruir o CNJ – Mariano Andrade José
Os recentes acontecimentos envolvendo o político Norberto Garcia, actual director do Gabinete de Estudos e Análises Estratégicas (GEAE), um órgão de assistência ao Presidente da República de Angola, voltam a colocar no centro do debate público a alegada instrumentalização de jovens para fins políticos e económicos.
Nos últimos anos, Garcia tem sido associado a diversas iniciativas juvenis, mas também a controvérsias sobre a gestão de projectos habitacionais, especialmente ligados ao programa do bairro Maye Maye, no Icolo e Bengo, anteriormente pertencente à província de Luanda.
O também jurista Ernesto Manuel Norberto Garcia, antigo porta-voz do MPLA, foi um dos réus do caso conhecido por “burla tailandesa”, por tentar burlar o Estado angolano por mais de 500 mil dólares.
Segundo fontes ligadas ao processo, entre as quais Armando Mário, teria recebido cerca de 150 residências destinadas a jovens activistas e membros de associações juvenis. Contudo, apenas 50 teriam sido efectivamente entregues aos beneficiários, deixando um número significativo de casas sob controlo directo do político, e tido como burlador por muitos jovens activistas em Luanda.
Relatos de diferentes grupos juvenis afirmam que foram contactados para combaterem a actual direção do Conselho Nacional da Juventude para substituir Isaías Kalunga, por Cumbi Júnior, pupilo de Norberto Garcia.
Outra fonte, conta ainda que, uma parte substancial das residências atribuídas a Norberto Garcia, acabou por ser comercializada ilegalmente, contrariando a finalidade original do projecto, que visava apoiar jovens em situação de vulnerabilidade social. A suposta venda destas casas é apontada como a base do conflito actual que envolve membros expulsos do Conselho Nacional da Juventude (CNJ).
Entre os rostos mais activos nesta tensão encontram-se Victorino Matias, Mário Fernandes, Wilson Domingos e Edson de Sousa, este último primo de Isaías Kalunga, actual presidente do CNJ. Eles veem acusando publicamente a direcção do órgão de “perseguição” e alegada discriminação política, procurando posicionar-se como vítimas de um alegado “sistema de exclusão”.
Entretanto, fontes ligadas ao CNJ desmentem tais acusações, afirmando que a expulsão destes membros resultou de práticas consideradas incompatíveis com os estatutos da instituição, nomeadamente actos de indisciplina e tentativa de manipulação interna. Para a instituição, o caso das residências e os interesses de grupos externos têm sido usados para criar instabilidade interna.
O próprio Isaías Kalunga, em várias intervenções públicas, denunciou a existência de uma estratégia organizada para descredibilizar a instituição. Segundo ele, existe um grupo que pretende capturar o CNJ para aceder a projectos habitacionais, fundos juvenis e programas de reinserção económica patrocinados pelo Estado.
A ligação entre esta disputa e os projectos habitacionais torna-se ainda mais evidente quando se observa o histórico recente de Norberto Garcia. Depois de ser acusado de comercializar parte das casas atribuídas, o político voltaria a demonstrar interesse em novos empreendimentos do género, o que, para algumas fontes, explica a tentativa de interferência na liderança do CNJ.
Observadores independentes consideram que o CNJ, enquanto órgão de representação juvenil, tornou-se um espaço cobiçado por actores políticos que procuram influenciar a juventude, controlar agendas e beneficiar de oportunidades de financiamento. Assim, a disputa actual não é apenas institucional, mas envolve também interesses económicos substanciais.

