ORDENS SUPERIORES REGRESSARAM À COMUNICAÇÃO SOCIAL PÚBLICA?
Estou preocupado. Sinto que há um retrocesso na comunicação social pública. As pessoas mais atentas já devem ter dado conta da existência de sinais de retrocesso na comunicação social pública. Mas ainda quero acreditar que estou enganado. Quero admitir que seja um engano da minha parte porque ainda acredito que as promessas eleitorais feitas pelo actual Titular do Poder Executivo vão ser respeitadas à letra.
João Lourenço deixou explícito, na campanha eleitoral, que Angola teria uma comunicação
social pública renovada, uma promessa que começou a ganhar corpo com o ministro da Comunicação Social a declarar, em intervenções públicas, que a propaganda entrou para a história da comunicação social pública.
Façam jornalismo e não propaganda. Esta recomendação foi dada até à exaustão por João Melo aos órgãos de comunicação social públicos. Por esta razão, quero acreditar que, na nova Angola, já não há espaço para “ordens superiores” que firam os princípios elementares do Jornalismo isento e plural.
Um dos sinais de retrocesso tem a ver com o “esquecimento” dos órgãos de comunicação social públicos em relação à necessidade de explorarem, por ser um assunto de Grande Interesse Público, as denúncias feitas por cidadãos estrangeiros, por via da exibição de exemplares do Bilhete de Identidade, de cartões de militante do MPLA e eleitorais, no momento em que abandonavam “voluntariamente” o país, no âmbito da operação “Transparência”, em curso em sete províncias angolanas.
Nenhum órgão público interessou-se em obter as reacções do Ministério da Administração do Território e da Reforma do Estado, da Comissão Nacional Eleitoral e do MPLA às denúncias que merecem uma investigação urgente das autoridades. O “esquecimento” voluntário pode comprometer o processo de credibilização dos órgãos de comunicação social públicos, que, até Setembro do ano passado, eram duramente criticados, e com razão, porque privilegiavam a propaganda em detrimento do jornalismo.
Acredito que a falta de ousadia dos órgãos públicos não se deve à existência de ordens superiores. Há um medo generalizado de pisar o risco, porque, a acontecer, o caminho pode ser a exoneração. Será que só seria notícia se os cartões exibidos por estrangeiros fossem da UNITA ou de um outro partido da oposição? Será que hoje, dia da entrevista à vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, a Televisão Pública de Angola (TPA) vai perguntar sobre como é possível estrangeiros obterem, além do Bilhete de Identidade, cartões do MPLA e eleitorais? A ver vamos!