ONG APOSTA NA FORMAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA

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Com oito anos de existência desde a sua constituição legal como organização, a Associação de Ajuda às Pessoas com Deficiência Física em Angola (AAPDFA) tem dado formação gratuitamente nas áreas de informática e arte e costura a pessoas com deficiências físicas em Luanda.

Texto de Simão Hossi

A associação está sediada no Kilamba-Kiaxi, e funciona desde 2010. Para além da formação nas áreas mencionadas, a instituição pretende instalar uma padaria comunitária no âmbito do projecto «Pão Para Todos», no qual o objectivo será dar pão gratuitamente às pessoas com deficiência física e vender a baixo preço aos moradores da zona.

O plano passa por colocar essa franja da população como produtores e beneficiários directos do projecto. Porém, a organização pede apoio à sociedade para efectivar o programa.

Munzekela Manuel Júnior, presidente da AAPDFA

Munzekela Manuel Júnior, presidente da AAPDFA, conta como surgiu a associação: “Tudo começou após ter concluído o serviço militar obrigatório em 1988. Por questões de saúde tive que se deslocar à Europa aonde vivi alguns anos. Quando retornei ao país, decidi criar essa organização filantrópica depois de tanto assistir ao sofrimento de amigos e companheiros ex-militares que enfrentavam muitos problemas de ordem social e económica”.

A organização é suportada por 15 membros de direcção, incluindo os formadores de informática e arte e costura, todos actuando na qualidade de voluntários.

Os moradores do distrito do Kilamba-Kiaxi têm elogiado o projecto que também tem ajudado jovens a saírem da delinquência. O seu presidente garantiu que a associação nunca recebeu apoio das autoridades públicas, mesmo depois de terem feito a apresentação do projecto às autoridades do distrito e sentirem que a recepção foi positiva.

Questionado sobre a questão da convenção sobre as pessoas com deficiência e a lei da acessibilidade que o parlamento aprovou, Munzekela Júnior diz estarem a monitorar estas acções e estão a trabalhar na questão da mobilidade das pessoas com deficiência física provenientes do Zango, Cazenga e outras partes da cidade.

Ainda segundo o presidente da organização, estão a ser feito esforços para adoptarem boas práticas da Europa para a questão da acessibilidade efectiva das pessoas nos transportes públicos e a existência de rampas para que este segmento da população possa movimentar-se com normalidade.

Manuel Júnior avançou ainda já terem contactos com empresas na Suíça que vão entrar com a questão de formação em questões de montagens de membros inferiores e superiores. O mesmo já visitou a empresa sediada em Coope, cidade perto de Genebra.

Nesta altura, para além dos cursos de informática e arte e costura, a organização tem projectos nas áreas da sapataria e estética para permitir com que uma vez as pessoas terminam a formação sejam integradas nos seus programas de produção de batas escolares, uniformes prisionais, uniformes hospitalares, isto através de parcerias que serão estabelecidas com colégios, instituições prisionais e instituições hospitalares, onde os funcionários são as pessoas com deficiência física, para que possa haver auto sustentabilidade da organização e dar valor aos seus membros e as suas competências.

Florentina Kafeka tem deficiência física desde os cinco anos de idade. Conta que o seu estado foi motivado por um tiro à época de guerra na província onde vivia. No ataque escapou do colo da sua mãe, mas esta perdeu a vida no momento. Não tem apoio da família e tem dois filhos. Foi abandonada pelo marido, que não ajuda a cuidar das crianças e vê nesta formação a oportunidade de adquirir conhecimentos e já perspectiva fazer os seus trabalhos em casa ou mesmo trabalhar para alguém para assim poder cuidar e sustentar os dois filhos.

Já José Lourenço, ex-militar que está a fazer o curso de informática há quatro dias, sente-se arrependido pelo tempo que teve que servir à pátria. Foi cumprir o serviço militar aos 16 anos de idade. Depois do acidente no exercício das suas funções, ficou sub-aproveitado na Unidade Patrulha da qual fazia parte. Foi assim encaminhado ao ministério do Interior nos quadros da polícia, mas depois teve que trabalhar como agente de segurança privada. Houve altura em que teve de vender jingubas torradas para sobreviver.

Segundo Lourenço, a presença deste projecto lhe dá possibilidade de ter uma formação em informática e, apesar da idade, ainda está com ideias para o seu desenvolvimento pessoal e sustentar assim a sua família. O mesmo apela às pessoas com deficiência física que estão na zunga a acorrerem à escola para adquirirem a formação gratuita para garantir o seu futuro.

A organização filantrópica está à procura de apoios. Está situada na avenida Deolinda Rodrigues, bairro Palanca, Casa de Confiança.

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