O Presidente da República e os revús – Nuno Álvaro Dala

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Depois de ter protagonizado o espectáculo político de Dezembro de 2018, quando recebeu algumas das figuras e organizações da sociedade civil, deixando meia Angola em transe, e de ter realizado a encenação política de Maio de 2020, quando procedeu à suposta auscultação da sociedade civil, sendo que os dois factos foram essencialmente uma farsa bem à maneira do MPLA, o Presidente da República disse, como se lê no cartaz em anexo: «ser revú é trabalhar para o bem da Pátria».

O cartaz foi produzido pelo Gabinete para Cidadania e Sociedade Civil do MPLA, o que quer dizer que, com a frase, o Presidente da República transmite um recado político aos jovens que, ao longo da última década têm levado a cabo uma luta política de peito aberto e sem quartel, pugnando pelo fim da hegemonia do MPLA.

Independentemente das reais intenções de João Lourenço, considero que o Presidente da República deve entender que o termo REVÚ não é sinónimo de sujeito que peleja para objectivos de subversão anarquista. Ele não deve confundir os aventureiros que o regime sustentado pelo seu partido corrompeu com os jovens que, despidos de intenções obscuras disfarçadas em interesse público, puseram diversas vezes em risco a sua integridade física e, ademais, alguns acabaram assassinados e outros foram detidos, julgados e condenados por crimes imaginários, bem ao estilo kafkiano.

O Presidente da República deve saber que os revús são tão ciosos em «trabalhar pelo bem da Pátria», que, desde que ele chegou à chefia do Estado e do Governo, já demonstraram de diversas formas que a continuação da crise económico-financeira, a persistente, atroz e veloz degradação das condições de vida dos Angolanos e Angolanas, a continuação do saque do erário, a manutenção dos tribunais de mentira etc. são evidências de que o maior obstáculo ao progresso de Angola é o seu partido delinquente.

O Presidente da República deve saber que, para muitos revús, o MPLA não é dono de Angola nem dos Angolanos e Angolanas, que as eleições têm sido uma farsa e que, assim sendo, o MPLA deve ser removido do poder para o bem de Angola.

O Presidente da República deve saber que, para os revús, quando quem está no poder nega a liberdade de um povo, então o único caminho para a liberdade é o poder, logo, se as possibilidades de uma revolução pacífica (eleições de verdade, referendos) são bloqueadas, a solução é uma revolução violenta (desobediência civil generalizada, golpe de Estado popular, guerra).

O Presidente da República, enquanto historiador, deve saber que partidos hegemónicos como o Partido Nazi (Alemanha), o Partido Nacional Fascista (Itália), a União Nacional (Portugal), o Partido Comunista da União Soviética (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), o Partido Nacional da África do Sul etc. acabaram derrubados e atirados para a lata de lixo da História.

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