O LEGADO DO PAI NA FAMÍLIA

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A presente reflexão tenta definir os factores que influenciam o envolvimento parental na vida familiar. Embora o papel do pai deva ser compreendido como parte tanto da ecologia da família como dos processos sociais mais amplos, o objectivo é apresentar uma visão da família centrada no pai.

Nvunda Tonet

A complexidade das relações familiares deriva da multiplicidade de virtudes e atitudes que os integrantes da plêiade defendem e representam no seu quotidiano. Uma análise de dados, tanto de famílias que vivem sem a presença do pai, quanto do desenvolvimento do papel sexual, mostra que é muito difícil demonstrar a influência dos pais em relação ao desenvolvimento cognitivo e social das crianças. 

1-    Qualquer análise sobre a parentalidade precisa começar com a observação de que em poucas sociedades os homens cuidam das crianças, no dia-a-dia. Os homens continuam à ser representados (e representam a si próprios) por papéis fora do centro das interacções familiares. As pressões centrífugas de trabalho, a falta relativa de recompensa pelo engajamento dos pais nos cuidados das crianças e as negociações entre parceiros na determinação da parte desempenhada pelo homem nas famílias precisam, todas, ser levadas em consideração se deseja-se obter uma compreensão mais completa da paternidade como uma actividade social. 

2-    Como o acesso de mães e pais às actividades de educar e cuidar das crianças não são iguais, os teóricos frequentemente fazem referência à premissa de que a actividade paterna é um “problema” sociológico e psicológico (Mead, 1950/ 1962; Phares, 1996). Embora haja alguns movimentos fora desta perspectiva (Hawkins & Dollahite, 1997), não é surpreendente que os pais tenham sido notados pela ausência, especialmente em relação à vida de crianças pequenas. Como resultado disso, prevalece um estereótipo negativo sobre os papéis dos pais. Em lares onde coabitam ambos progenitores, menos de 2% dos pais compartilham igualmente as tarefas de cuidados da criança com as mães; a proporção de homens “altamente envolvidos” tem sido estimada como menor que 10% (Russell & Radojevic, 1992); e mais de 60 % dos pais nunca cuidaram das crianças, sozinhos (Russell, 1983). Em Luanda, anualmente o número de crianças que vive em famílias monoparentais é elevado. Não só como resultado do número exponencial de divórcios ou separações como da fuga a paternidade.   

3-  Quais são as actividades em que os homens realmente se engajam com as crianças? Dois factores revelam a complexidade da questão. Alguns homens nunca visualizam as crianças no seu percurso diário (acompanhamento nas tarefas escolares, grupo de amigos, comida preferida, refeições à mesa, entre outros). No outro extremo, asseguram os encargos da parentalidade de modo solitário. O restante dos pais está espalhado entre esses dois extremos. Assim, uma análise considerando os pais como um simples grupo pode não ser completamente válida. Isto é particularmente óbvio na infância, quando as rotinas são alteradas de um dia para outro, especialmente nos períodos de mudanças no desenvolvimento da criança. Portanto, há muitas e variadas influências sobre as funções parentais, que são decorrentes de mudanças como rotinas de uma nova escola, alterações nos compromissos de mães e pais fora de casa, entre outras. A maneira como os progenitores negociam esses padrões de mudanças nos cuidados da criança e nos trabalhos domésticos são cruciais para a compreensão dos papéis na conjugalidade.

4-      Primeiro, eles mostram que o envolvimento paternal está relacionado tanto a factores psicológicos quanto a processos sociais. As restrições psicológicas do pai, como aquelas discutidas acima, predizem o seu grau de compromisso com os cuidados da criança em coabitações onde um único progenitor é responsável pelo sustento da casa, sugerindo que, se a participação é uma actividade voluntária, aqueles que são mais “femininos” tendem a ser mais centrados na criança e na casa. Entretanto, as mesmas associações não parecem ocorrer em famílias onde ambos trabalham fora (Crouter & cols., 1987). Isto sugere que onde uma mãe trabalha, um pai é impelido para a vida doméstica, independente do seu compromisso prévio com qualquer tipo de actividade. Em um segundo nível, os padrões de envolvimento doméstico mostram que é necessário compreender o engajamento dos pais de acordo com o seu “espaço” dentro do sistema familiar. Por exemplo, em coabitações onde ambos os progenitores trabalham fora e as responsabilidades pela casa e pelas crianças não estão claramente definidas, é relatado um maior conflito marital (Baruch & Barnett, 1986; Crouter & cols., 1987). Nestes lares, os pais também relatam maior preocupação pelo bem-estar das crianças (Greenberger & O´Neil, 1990; 1992). Tais percepções podem surgir por uma série de razões. Por exemplo, é provável que as demandas muito intensas em relação ao tempo de cada progenitor no emprego exerçam efeitos sobre suas “habilidades” no que tange a voltar para casa e cuidar de suas crianças. Entretanto, outras linhas interessantes são possíveis. Uma delas sugere que a grande preocupação dos pais ao respeito do desenvolvimento das crianças pode reflectir-se nas expectativas de que as esposas deveriam assumir a responsabilidade primária pelas crianças, mesmo quando ambos trabalham o mesmo número de horas por dia. O cansaço do trabalho é igual para os dois (marido e esposa). Deste modo, é fundamental que o homem (marido e pai) auxilie a esposa (mãe e mulher) nas tarefas domésticas complementares após a longa jornada laboral: ajudar a colocar os pratos na mesa do jantar, orientar os filhos a colocar o pijama e ou revisar o caderno e os livros para as aulas do dia seguinte. A complementaridade de tarefas é fundamental para a harmonia e equilíbrio emocional da esposa e solidifica a coesão familiar, pois os filhos aprendem com o exemplo do pai, ajudando deste modo a desconstruir determinados estereótipos sobre as tarefas domésticas.  

5-    O pai é o primeiro a ensinar e guiar o filho nessa longa trajectória que é a vida. Sobre o tema, Inere Sobrinho argumenta “os bens materiais e as aparências não devem ser a principal referência no modelo familiar. O meu pai ensinou que estar sozinha não faz de mim solitária. O meu pai ensinou que nós não escolhemos onde nascemos mas podemos influenciar onde iremos morrer. O meu pai ensinou que pobre é aquele que não lê, pois quem lê pode viajar por lugares melhores que aqueles que viajam todos os anos”. Neste trecho, percebemos amiúde que o pai (sem desprimor da mãe) pode ser o alicerce na formação cívica do carácter da criança e referência moral para as decisões do mesmo bem como para a vida afectiva e familiar.  

6 – O Legado do PAI deve basear-se na educação, na transmissão de valores, no convívio familiar, nos conselhos direccionais, no acompanhamento ao desenvolvimento emocional dos filhos e na presença. O Legado é maior do que a herança ou património. O Legado do PAI na família transcende a natureza patrimonial ou a condição financeira.

 

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