O ABSURDO DE TER O DICIONÁRIO COMO A “PROVA PROVADA” DE QUE UMA PALAVRA NA LÍNGUA EXISTE

Li, algures, que “o verbo caloriar não existe”. Segundo o autor dessa afirmação, caloriar não existe porque não se encontra registado nos mais de 26 dicionários que consultou. Dito de outro modo, para ele, a palavra só passa a ter existência se constar nalgum dicionário da nossa língua portuguesa. Se no dicionário não constar a palavra, não existe.

Que absurdo, hein! Os dicionários, na minha opinião, não acompanham a evolução da nossa língua. Afirmo. Digo, afirmo.

É por essa e outras que nós, estudiosos da ciência da linguagem, classificamos os dicionários como “cemitérios de palavras”, porque, tão logo são publicados, as palavras já sofreram mudanças nos seus significados e sentidos, até mesmo porque entre a elaboração da obra e a sua publicação o tempo transcorrido tem sido longo. Nenhum dicionário de nenhuma língua dá conta de apreender todo o léxico e todas as significações das palavras. Por isso, meus amigos, temos de abandonar a ideia de que “se a palavra não está no dicionário é porque não existe”.

Um instrumento bué coxito (que é o dicionário), a nosso ver, não é capaz de reconhecer, fiscalizar, agrupar e dar hospedagem condigna a todos os léxicos da nossa língua.

Há, no mercado, uma gama variável de dicionários à disposição de todo o mundo, mas que, apesar da multiplicidade deles, não conseguem ou não possuem o registo de todas as palavras da nossa língua, pois a criatividade do falante é maior.

Os dicionários nunca vão conseguir registar todas as palavras da nossa língua, mas isso não faz com que as palavras que não foram registadas por ele sejam inexistentes e que se deve desaconselhar o seu uso.

Felizmente, hoje em dia, com os avanços tecnológicos, os dicionários podem ser actualizados quase em tempo real e, melhor ainda, sem gastar papel. Portanto, o verbo caloriar existe, embora não se encontre registado nos supostos 26 dicionários que o autor acima referido consultou.