Nelson Domingos: Velhos rostos, velhas práticas…

Os representantes da CASA-CE, PRS e UNITA apresentaram a “Perspetiva dos partidos políticos sobre as eleições autárquicas”.

De noite, ocorreu o Show de Hip Hop com MCK & Ikonoklasta, e rappers locais. Entretanto, tanto na palestra, quanto no Show aconteceram muitos constrangimentos milimetricamente orquestrados:

1. A comunicação à Administração Municipal sobre a realização das duas actividades foi entregue em Abril e o uso dos espaços devidamente pagos. Todavia, não houve nenhuma reposta da Administração. A autorização foi feita verbalmente pelo Administrador Adjunto após “nossa visita” a Administração.

2. No dia anterior, no entanto, as actividades haviam sido canceladas, sob a alegada poluição sonora e pela necessidade de uma Autorização Escrita oriunda da Administração Municipal, que por sua vez não a concedeu.

3. A palestra decorreu em um dos auditórios do Monumento da Paz. Havia mais de 200 pessoas, todavia reservaram-nos uma sala com apenas 45 lugares. Após pressões realizadas pelo coordenador da Lualenu, Dito Dali, cederam-nos um auditório adequado, forçando o atraso da atividade em cerca de uma hora e meia.

4. Durante a apresentação, chamou-me a atenção a presença de um idoso que filmou toda palestra com um Ipod. Curiosamente, hoje o vimos vestido de oficial da polícia ao lado do hotel em que nos hospedamos. Quando nos aproximávamos para o saudar, ele fugia para não ser reconhecido. Isto aconteceu por três vezes.

5. De noite, a caminho do Cine Lwena, local do Show, o Governador foi ao nosso encontro e caminhamos juntos até lá. Não sei se era para confirmar o sucesso do diabólico plano orquestrado. Pois, enquanto estávamos na palestra, pela manhã, um carro com megafone anunciara que haveria uma maratona no Mercado, local diferente do Show do MCK & Ikonoklasta, e que estes fariam lá a sua apresentação. De facto, foi realizada uma Maratona com Show de Kuduro, regada a álcool no mesmo horário, no referido Mercado, com o claro objectivo de esvaziar o Show do MCK & Ikonoklasta.

6. No hotel-restaurante havia sempre policiais a paisana fingindo serem clientes. Por semelhante modo, as ruas e o aeroporto estavam repletas de policiais a paisana e a cada movimento nosso, faziam ligações telefónicas. Nunca me havia sentido tão vigiado.

7. Decidimos fotografar próximo das lixeiras, sobretudo onde haviam pessoas a comer lixo. Vários cidadãos passavam por nós para dizer que era proibido! Pouco tempo depois, o Governador ligou para informar que sabia que estávamos a fotografar as lixeiras.

Viva Angola. Viva a Democracia!
Laulenu!